‘Atitude de Bolsonaro foi de omissão’, diz Humberto Costa, integrante da CPI da Covid
O senador Humberto Costa (PT-PE), titular da CPI da Covid, faz um balanço positivo dos oito depoimentos tomados pelo colegiado até agora. Para ele, todas as testemunhas reforçaram, pelos relatos e documentos, as evidências de que o governo federal “foi omisso no enfrentamento da pandemia”. Para ele, embora se esteja na fase inicial das investigações, há provas de que o Ministério da Saúde priorizou a recomendação de medicamentos sem eficácia científica comprovada no tratamento da infecção “em detrimento da aquisição de vacinas para proteger a saúde da população”. O senador disse, também, estar convencido de que o presidente Jair Bolsonaro optou por promover a chamada imunidade de rebanho “às custas de 450 mil mortos”, como forma de conter o avanço do novo coronavírus.
A partir das investigações da CPI, qual é a sua opinião sobre a atuação do governo federal na pandemia?
Estamos vendo uma tragédia sanitária, é uma tragédia política, econômica, social por conta da má gestão do governo Bolsonaro nessa pandemia. Não é por acaso que o Brasil tem 450 mil pessoas já mortas pela covid-19, milhões de infectados pela doença e é um dos países que menos está vacinando. Portanto, para mim, é uma gestão trágica.
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello relatou à CPI que Bolsonaro, após ouvir o governador do Amazonas, Wilson Lima, decidiu não fazer uma intervenção federal no sistema de saúde do estado. Na sua opinião, essa é mais uma prova de omissão?
O Ministério da Saúde, em conjunto com o governo do Amazonas e com a secretaria de Saúde de Manaus, deveria fazer um ação conjunta para enfrentar a pandemia em Manaus. Nem isso o presidente da República acedeu. Ele fugiu completamente da sua responsabilidade e acho que isso casa com essa ideia de que o governo apostou na imunidade de rebanho. Já há, inclusive, uma fala do vice-governador (Carlos Almeida Filho) do Amazonas de que teria havido um entendimento entre o governador e o próprio Bolsonaro de “vamos ver como essa coisa vai ficar”. Portanto, acredito que a atitude do presidente Bolsonaro foi de omissão.
O senhor apresentou requerimento para que o vice-governador do Amazonas seja chamado a depor. Há alguma previsão para esse depoimento?
A CPI vai avaliar.
O presidente Bolsonaro não respondeu a três cartas que recebeu sobre temas da pandemia. Uma foi do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, alertando para a possibilidade de um grande número de mortes. A outra, da Pfizer, cobrando respostas a ofertas de vacina. A terceira, do senador Eduardo Braga (MDB-AM), pedindo intervenção federal na rede de Saúde do Amazonas. O que isso diz para o senhor?
São documentos que mostram que o presidente foi alertado, que mostram que ele sabia da situação da pandemia no Brasil e que não tomou nenhuma medida adequada para poder fazer esse enfrentamento. Então, essas cartas passam a ter uma relevância porque são documentos que demonstram a omissão do governo.
Quais suas expectativas para o depoimento da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro (marcado para hoje)?
A informação que há é de que ela foi autora de um aplicativo (TratCov) que orientava a utilização de cloroquina para tratamento precoce. Ao mesmo tempo, a gente quer saber o que ela fez como representante do ministério no enfrentamento dessa crise.
Os governistas da CPI reforçaram a pressão para que governadores também deponham na comissão. Quando os governadores serão ouvidos?
Vamos discutir como isso vai ser feito. Eu acho que os próprios governadores têm interesse de serem convidados para falarem da relação com o governo federal na condução da pandemia.
Há, na CPI, parlamentares que defendem uma acareação entre Pazuello e um representante da Pfizer, já que uma série de documentos do laboratório, recebidos pela comissão, contradizem o depoimento do ex-ministro. Qual sua opinião sobre isso?
A Pfizer foi para a CPI extremamente documentada. De tudo o que falaram ali, eles têm provas de tudo o que aconteceu. Acho que não há necessidade (de novo depoimento do ex-ministro) porque os documentos da Pfizer, a fala da Pfizer, tudo isso já é suficiente. Não vejo por que fazer essa acareação. Se acharem necessário, que se faça. Mas eu, particularmente, não vejo essa necessidade. Está claro, desde o início, que o presidente da República não priorizou a compra de vacinas, não só da Pfizer, para proteger a saúde da população.
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