quinta-feira, 27 de maio de 2021

COMANDANTE DO EXÉRCITO PUNIRÁ PAZUELLO COM ADVERTÊNCIA

Do Blog do Noblat, Metrópoles

O general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, que discursou em defesa do governo no alto de um carro de som no último domingo, no Rio, algo proibido a um militar da ativa pelo Regulamento Disciplinar do Exército, será punido apenas com uma advertência. É nessa direção que caminha o desfecho do caso.

As outras punições previstas no Regulamento são: censura, suspensão e até 30 dias de cadeia. Do fim da ditadura militar de 64 para cá, nenhum general foi preso. O espírito de corpo, entre eles, não permite. Censura e suspensão são consignadas na folha que corresponde à sua trajetória na carreira. Advertência, não.

Por isso é a pena mais branda. Fica de fora da folha, é como se nunca tivesse existido. Hoje, em São Gabriel da Cachoeira, interior do Amazonas, onde se encontrarão, o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Defesa, general Braga Neto, e o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, discutirão o assunto.

Pazuello tem mais um ano pela frente para continuar como general da ativa. Antes, só passará à reserva se quiser ou se for convencido a isso. Não quer. Está intransigente. Sente-se protegido pela farda. Alega que em breve voltará a depor na CPI da Covid e que precisará de retaguarda. Bolsonaro dá-lhe razão.

Não que lhe dedique especial afeto, embora admire sua lealdade. Mas como ex-militar e Comandante Supremo das Forças Armadas, Bolsonaro sabe que militar da ativa é proibido de participar de manifestação político-partidária. Foi ele que atraiu Pazuello para a armadilha. E o fez de propósito, e com a anuência do general.

Bolsonaro quer mostrar que é o dono da caneta e transformar o “nosso Exército” no Exército dele, rendido às suas vontades. A eleição do ano que vem chegou mais rápido do que deveria. Bolsonaro teme não se reeleger. Desde já, está disposto a melar os resultados das urnas. E, para isso, o apoio da farda seria vital.

Pazuello, um general cabeça de papel, não passa de um peão que Bolsonaro controla; em respeito ao general, digamos um cavalo no jogo de xadrez que obedece a todas as ordens do dono das peças. O general Paulo Sérgio quer passar o pano em mais um episódio que enfraquece o Exército, mas depende de Bolsonaro.

Ministro da Saúde dá sinais de cansaço na luta contra o vírus

Falta vacina, Bolsonaro sabota seus esforços e Marcelo Queiroga não pode livrar-se de auxiliares considerados intocáveis

Marcelo Queiroga, médico cardiologista, o quarto ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, tem um problema. Melhor, tem mais de um – o que significa que o país também os tem.

O problema que mais o aflige: falta vacina para quem precisa dela, quase todo mundo. Problema seguinte: Bolsonaro continua sabotando o seu trabalho. E outro: não manda no seus domínios.

Antes dele, dois outros ministros da Saúde, de tanto serem sabotados pelo presidente da República, e por discordarem do uso da cloroquina contra a Covid-19, largaram o emprego.

Mandetta não largou, foi demitido. Nelson Teich largou com menos de um mês no cargo. Não é moleza, não. Como servir a um presidente que não quer conselhos, mas obediência irrestrita?

Em uma audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, Queiroga, atribuiu culpa ao Sistema Único de Saúde pelo descontrole da crise sanitária causada pelo vírus:

“O nosso sistema de saúde padecia de vicissitudes. Unidades hospitalares sucateadas, urgências lotadas, UTIs lotadas e filas de cirurgias para serem realizadas”.

Esqueceu-se de dizer, porém, que em março deste ano o governo federal cortou em 72% a verba destinada à manutenção de leitos de UTI. A desdita de Queiroga alimenta-se também de outros fatos.

A previsão de doses de vacinas contra Covid-19, a serem distribuídas aos Estados pelo Ministério da Saúde a partir de junho, foi reduzida em 10,3 milhões, e logo agora.

Logo quando estão dadas as condições para que a terceira onda da doença se abata sobre o país. É o que preveem autoridades médicas e cientistas, e apontam os indicadores.

E as doses que os Estados Unidos iriam doar ao Brasil? Queiroga pareceu sincero ao admitir:

“Sendo pragmático, os Estados Unidos não vão doar doses de vacina para o Brasil. Até porque o Brasil comprou essas doses das indústrias americanas.”

Pobre Queiroga, vendedor de pastel de vento. Como acertar se ele defende máscara, álcool gel e medidas de isolamento, e Bolsonaro aparece diariamente sem máscara, a promover aglomerações?

Como acertar se uma expressiva fatia dos brasileiros não lhe dá ouvidos, mas ao seu patrão que o desautoriza? Sem falar dos funcionários do Ministério da Saúde que ele não pode trocar.

A Secretária de Gestão do Trabalho, Mayra Pinheiro, demonstrou como o poder de decisão permanece fracionado no ministério. Ela é partidária da cloroquina, Queiroga não é.

Mayra depôs na CPI da Covid e divergiu de Queiroga em vários aspectos, um deles o uso de drogas ineficazes contra a doença, e foi agraciada com flores enviadas por auxiliares de Bolsonaro.

O “pelotão cloroquina”, cuja estrela é Mayra, não esmorece. Queiroga dá sinais de que sim:

“Eu sou médico, eu estou aqui para tentar ajudar o povo do Brasil nessa situação, eu não tenho condições sozinho de fazer isso”.

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