Há um interessante trecho de C.S. Lewis no qual ele explica a estratégia do diabo para nos pegar: “Ele sempre envia ao mundo erros aos pares —pares de opostos. E sempre nos estimula a desperdiçar um tempo precioso na tentativa de adivinhar qual deles é o pior”. Deus é brasileiro, mas o diabo gosta da nossa terra e está esfregando as mãos com a expectativa de um segundo turno entre Lula e Bolsonaro: “Ele usa o fato de você abominar um deles para levá-lo aos poucos a cair no extremo oposto”.
No cinema, por vezes, o diabo é boa pinta, sedutor e perfeito anfitrião. No Brasil, dependendo da ocasião, toma uísque, cachaça, vinho ou tubaína; e também articula “almoços democráticos” entre ex-presidentes.
O tinhoso está sempre atento às oportunidades e, no momento, não perde uma sessão da CPI da pandemia, cuja gravidade exigiria apurado senso moral, imparcialidade e sentimento de dever: coisas que o diabo não pode permitir. Quase posso vê-lo soprando no ouvido de alguns senadores, insuflando os ânimos, manipulando os incautos, jogando com a vaidade de todos e, sobretudo, gozando com a naturalização da mentira e a banalização do mal (notada pelo senador Alessandro Vieira que comparou o depoimento de Pazuello ao julgamento de Eichmann).
Ao depor como testemunha, o general e ex-ministro mentiu abundantemente, com altivez e segurança. As mentiras de Pazuello, porém, e a óbvia responsabilidade do governo Bolsonaro pela desastrosa condução da crise sanitária e pelo consequente número trágico de mortes, não anula a responsabilidade de gestores estaduais e municipais nos casos em que houve desvio de verbas enviadas para o combate à pandemia.
Como tem repetido o senador Eduardo Girão, desvio de verba em tempo de pandemia não é apenas corrupção, é assassinato. Bolsonaro delinquir não torna menos delinquentes os gestores que permitiram desvios. Como diria Lewis, temos que “passar reto no meio de ambos os erros. Nem um nem outro nos interessam”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário