terça-feira, 25 de maio de 2021

PESO DA ECONOMIA EM ANO ELEITORAL

Míriam Leitão, O GLOBO

Por Alvaro Gribel, Míriam Leitão está de férias

As entrevistas do ministro Paulo Guedes e do senador Fernando Bezerra mostram que o governo aposta na economia para alavancar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro no ano que vem. Guedes falou em “capitalismo popular” — incorporando cada vez mais a alma populista da atual gestão — e em “jogar no ataque” com aumento de gastos sociais. Já Bezerra, líder do governo no Senado, acredita que a alta dos preços das commodities será duradoura e isso provocará uma sensação de euforia no país.

Na reunião ministerial de abril de 2020, Guedes já havia indicado que pretendia aumentar despesas em ano eleitoral. “Vamos fazer o discurso da desigualdade, vamos gastar mais para eleger o presidente”, disse à época. Em entrevista à “Folha”, ontem, reafirmou que o Bolsa Família será ampliado e serão criados mais dois programas para incentivar a contratação e a qualificação de jovens no mercado de trabalho: “Sem furar o teto, sem confusão”, prometeu.

Ainda que não tenha apresentado as contas, o cenário de Guedes leva em consideração o aumento no teto de gastos. Isso permitirá a ampliação de despesas. O teto é reajustado pela inflação acumulada em 12 meses até junho de um ano, com efeito sobre o ano seguinte. E a inflação deve bater em 7,4% em junho, pelas estimativas da Instituição Fiscal Independente (IFI). Com isso, o teto terá um crescimento de R$ 109 bilhões no ano eleitoral, mais de três vezes o valor de 2021, de R$ 31 bilhões. O efeito líquido disso, na verdade, ficará em torno de R$ 10 bilhões, segundo a IFI, porque algumas despesas obrigatórias serão corrigidas pela inflação do ano e o governo terá que cumprir uma outra regra fiscal, a do déficit primário.

— Ainda é uma folga grande. Para efeito de comparação, todo o reajuste dos militares em 2021 custou R$ 7,1 bilhões. Dá para fazer muita coisa com esse espaço e ainda cumprir o teto de gastos, mas a restrição fiscal não recomenda isso — diz o diretor-executivo da IFI, Felipe Salto.

A aposta de Bezerra na alta das commodities, como falou ao “Valor”, é mais incerta. Há dúvidas sobre a duração do aumento dos preços porque o mundo vive um período de forte liquidez, com a expansão monetária dos bancos centrais em combate à pandemia. Parte desse dinheiro vai para as negociações em bolsa de matérias-primas que o Brasil exporta, como soja e minério de ferro, elevando as cotações. Esse é um indicador sobre o qual o governo não tem controle e pode acontecer o efeito contrário: queda dos preços se houver redução de estímulos.

O mercado ainda não compra esse clima de otimismo. Apesar das revisões para cima no PIB deste ano, a estimativa para 2022 caiu de 2,5% para 2,3% nos últimos dois meses, como mostra o gráfico. Sem crescimento forte da economia o desemprego continuará

Força do sol

O Brasil foi o nono país do mundo que mais instalou painéis solares em 2020, segundo levantamento da Absolar, associação que representa o setor. Foram 3,1 GW a mais de potência instalada dessa fonte renovável, com investimentos de R$ 15,9 bilhões entre geração distribuída, como painéis em residências, e geração centralizada, de usinas maiores contratadas por leilão. Apesar do crescimento nos últimos anos, a energia solar representa apenas 1,8% da matriz energética brasileira.

Marco legal

Depois de intensas discussões nos últimos meses, a Câmara pautou para hoje a votação do novo marco legal da geração solar distribuída.A Absolar apoia o texto do relator Lafayette de Andrada (Republicanos/MG), mesmo com aumento da taxação pelo uso das redes. “Não é o projeto dos sonhos do setor, fizemos concessões em busca de consensos. Mas entendemos que ter uma regra clara, que traga de fato estabilidade, e com transição em fases, vai ajudar a atrair novos investimentos. A segurança jurídica vai compensar a taxação maior”, disse a vice-presidente da associação, Bárbara Rubim.

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