quarta-feira, 25 de agosto de 2021

NANCY PELOSI, A MULHER MAIS PODEROSA DA HISTÓRIA DOS EUA

Lúcia Guimarães, Folha de S.Paulo

Precisamos falar sobre Pelosi, a mulher mais poderosa da história dos EUA

A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, emplacou nova vitória nesta terça-feira (24), quando a Casa passou as bases do pacote de US$ 3,5 trilhões do governo Biden para investimentos em saúde, educação e ambiente, proposta que será votada no final de setembro.

O plano foi aprovado sem nem um voto republicano sequer, e Pelosi manobrou para conter o descontentamento de democratas centristas que queriam um voto imediato em outro pacote de Biden para investir em infraestrutura.

Aos 81 anos, Pelosi é a mulher mais poderosa da história dos EUA e alvo favorito do ódio de republicanos. Nesta quarta (25), a deputada falou durante 17 minutos, sem consultar notas, sobre a vitória da véspera, detalhando o potencial histórico do pacote sobre a vida de mulheres, crianças e trabalhadores.

Pelosi cresceu em Maryland, na Costa Leste, filha de um popular prefeito de Baltimore. Mas, nos anos 1950, gestos de desafio, como rasgar o discurso de Donald Trump na frente dele a partir da tribuna da Câmara, eram impensáveis para a caçula com cinco irmãos.

Depois de conhecer o futuro marido, Paul, na faculdade, mudou-se para São Francisco, a cidade símbolo de costumes progressistas. Enquanto ele fazia fortuna como investidor no mercado financeiro, ela teve cinco filhos em seis anos. Quando a filha mais nova estava perto de sair de casa para a universidade, Pelosi decidiu se candidatar e foi eleita deputada aos 46 anos.

Hoje, 31 milhões de americanos devem a ela o acesso ao seguro saúde. Sim, o seguro entrou para a história como Obamacare, mas o cara cheio de ginga e oratória, que se elegeu com o slogan “sim, podemos”, não tinha o menor jogo de cintura para a política de varejo.

Em 2009, pouco antes da votação do Obamacare, quando crescia a pressão para dizimar a proposta e passar uma lei palatável para a direita, Pelosi, que tinha se tornado a primeira mulher líder da Câmara, foi ao Salão Oval e ameaçou abandonar o barco se Obama fizesse mais concessões.

A imprensa americana gosta de cobrir política como esporte, acompanhando disputas como quem atualiza o placar de jogos. Foi assim quando, em 2018, explodiu no firmamento da capital a jovem nova-iorquina Alexandria Ocasio-Cortez, hoje a cara da esquerda do Partido Democrata.

Repórteres se apressaram em escrever o obituário político de Pelosi, que enfrentava desafios dos progressistas para ser reconduzida como líder da recém-obtida maioria da Câmara. Pelosi foi acusada de favorecer uma gerontocracia. Mas a deputada não chegou até aqui pedindo sais cada vez que é atacada e gosta de apontar que a idade de políticos homens parece preocupar menos seus críticos.

Ex-funcionárias do gabinete de Pelosi dizem que ela transformou a vida para as mulheres no Congresso, criando uma rotina mais equilibrada para mães, acolhendo crianças na Casa.

Apesar da contundência que demonstra em entrevistas –quem não se lembra da foto viral de Pelosi com o dedo em riste na cara de Trump, de 2019–, ela é uma oradora sofrível, dada a ziguezagues retóricos, como se preferisse não cumprir esta parte da rotina política.

A impaciência já foi confirmada pelo marido que, na década passada, deixou escapar que o guarda-roupa impecável da deputada era escolhido por ele, pois “ela detesta fazer compras".

Assim como ri dos ataques violentos dos adversários, Pelosi não perde tempo esperando elogios de aliados. Quando lhe perguntaram como tinha costurado uma votação difícil, não hesitou: “Porque sou uma negociadora magistral”.

Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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