quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O VALOR DO CHUCHU

Igor Gielow, Folha de S.Paulo

Grande novidade desta etapa embrionária da corrida de 2022, ao lado da entrada de Sergio Moro no páreo, o balé entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin para que o ex-tucano vire o vice do petista engrenou.

Desde o ponto em que era um balão de ensaio, observadores se perguntam o que cada lado tinha a ganhar, dado que Alckmin parecia sair de uma posição algo confortável para disputar o governo paulista.

Após o jantar em que ele cruzou o Rubicão com Lula no domingo (19), a única certeza é a de que os grandes favorecidos com essa novela estão no chamado campo vermelho.

Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB) devem se digladiar para saber quem irá enfrentar Rodrigo Garcia (PSDB), o vice-governador que estará na cadeira na eleição e só não disputa o segundo turno sob anomalia imprevista —esqueça seus 5%, o que vale é seu desconhecimento pelo eleitor e a máquina.

Já o ex-governador embarca em uma canoa mais segura do que a de uma disputa estadual incerta.

Na pior das hipóteses, se manterá em evidência; na menos pior, acaba a carreira segurando vela para um adversário histórico. Na melhor, vira vice-presidente, o que no Brasil tem um peso e tanto.

Mas a questão que fica é: o que ganha Lula com Alckmin como vice além da imagem de que, vejam!, agora ele voltou a ser moderado?

O ex-tucano não tem voto (menos de 5% em 2018), não tem partido (o PSDB o chutou antes de ele sair), não tem apoio no Congresso (tinha poucos amigos por lá), não é querido na elite paulistana (que diz que sua visão não passa da Mantiqueira), não agrega no mercado (que só não o vê mais estatista do que Lula) e não tem mais amigos no empresariado do que o próprio petista.

Como diz um dos articuladores do ex-presidente, é nesse conjunto de negativas que reside a vantagem de ter Alckmin na improvável chapa. Sem nada a o amarrar a compromissos, o ex-governador cumpre sua sina de "picolé de chuchu": sem gosto, mas a custo baixíssimo.

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