terça-feira, 25 de janeiro de 2022

BOLSONARO ESCOLHE INIMIGOS, LULA BUSCA ALIADOS, MORO SOFRE ATAQUES

Luiz Carlos Azedo, Nas Entrelinhas, Correio Braziliense

Nada acontece na política brasileira, hoje, que não mire as eleições de outubro próximo, no governo ou na oposição. Embora a campanha não esteja oficialmente aberta, o calendário eleitoral já está em curso e os pré-candidatos se movimentam para delimitar os territórios nos quais pretendem alavancar suas candidaturas.

O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, ao anunciar os vetos ao Orçamento da União, com cortes que chegaram a R$ 3,18 bilhões, fez tudo o que pode para manter as emendas de relator do Orçamento da União — o chamado orçamento secreto, que tudo mundo sabe que servirá para turbinar as campanhas dos seus aliados do Centrão, com verbas que chegam a R$ 16,2 bilhões — e para garantir recursos para os reajustes dos policiais e outras categorias de seu interesse.

De forma objetiva, com seus cortes, Bolsonaro também demarcou os setores que encara como inimigos: a comunidade de pesquisas científicas, os setores ligados à educação e às universidades federais, órgãos e hospitais da área de saúde, quilombolas, trabalhadores rurais, indígenas e defensores dos diretos humanos, principalmente das mulheres em situação de risco. Por incrível que pareça, com o avanço da nova onda da pandemia de covid-19, cuja rápida propagação está ameaçando pôr em colapso a rede pública de saúde em vários estados, recrudesceu o negativismo do presidente e de seus auxiliares, com forte apoio dos setores de sua base eleitoral que fazem campanha contra a vacinação em massa, principalmente a das crianças, nas redes sociais.

Continua a escalada do Ministério da Saúde contra as vacinas, apesar dos problemas que isso pode acarretar ao ministro Marcelo Queiroga, que começa a ser investigado, juntamente com Bolsonaro, por prevaricação na imunização de crianças, cuja obrigatoriedade é prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Denúncia feita pela Rede Sustentabilidade, ontem, foi enviada pela ministra do Supremo Tribunal federal (STF) Rosa Weber ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para as devidas providências.

Como se sabe, o Ministério Público Federal vem fazendo vista grossa aos desatinos do governo na crise sanitária. Os mais recentes foram a afirmação oficial do ministério de que a hidroxicloroquina e a ivermectina são eficazes no tratamento precoce da doença e o questionamento dos efeitos das vacinas.

Frigideira

Enquanto isso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avança na sedução dos ex-adversários tucanos que se tornaram dissidentes da candidatura do governador de São Paulo João Doria. Além de manter o nome do ex-governador Geraldo Alckmin como nome mais provável para vice, apesar da resistência de setores da esquerda petista e do PSol, Lula estava com o ex-ministro de relações Exteriores e ex-senador Aloysio Nunes Ferreira, expoente dos tucanos paulistas. Agora, o petista se prepara para um encontro com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já anunciou a intenção de votar em Lula no segundo turno, caso seu adversário seja Bolsonaro.

A candidatura de Doria está sangrando porque uma ala do partido já negocia apoio à candidata do MDB, Simone Tebet (MS), articulação liderada pelos senadores Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal (SP), em exercício. O senador José Serra (SP), que está licenciado, também andou conversando com Lula.

Eleitoralmente, quem mais vem ganhando com a crise do PSDB é o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que ocupou espaço no campo da chamada terceira via. O pré-candidato do Podemos pode até mudar de legenda caso as negociações da presidente do partido, Renata Abreu (SP), com o União Brasil (a fusão do PSL com o DEM) prosperem. Nesse caso, Moro migraria para a legenda e Abreu seria sua vice.

Entretanto, o ex-juiz, agora, sofre o primeiro grande ataque especulativo à sua candidatura, em razão da quebra de sigilo do processo do Tribunal de Contas da União (TCU) que investiga seu contrato de consultoria com o escritório norte-americano Alvarez & Marsal, para o qual Moro prestou serviços por 10 meses, tendo recebido cerca de R$ 42,5 milhões.

A divulgação do relatório do subprocurador da República no órgão, Lucas Furtado, e do conselheiro Bruno Dantas, virou uma dor de cabeça para o ex-juiz. O PT e o Centrão se uniram para instalar uma CPI para investigar a atuação do escritório nos casos da Lava-Jato.

O escritório Alvarez & Marsal alega que “não existe” qualquer conflito de interesse na nomeação como administradora judicial da Odebrecht ou de outras companhias investigadas pela Lava-Jato, e que a contratação do ex-juiz foi efetuada pela área de Disputas e Investigações, um dos braços do grupo, que atua em 29 países. Moro integrou “um time de consultores externos”, entre ex-agentes do FBI e de forças de segurança, ex-promotores e ex-funcionários públicos de departamentos de justiça.

A subsidiária do escritório A&M Administração Judicial atuou na fiscalização de 89 empresas, em 26 processos de recuperação judicial, a pedido de tribunais de São Paulo e do Rio. Entre 2013 e 2021, faturou cerca de R$ 83 milhões na prestação de serviços à Justiça, dos quais R$ 65 milhões em casos de empresas envolvidas na Lava-Jato.

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