Não é reto e pavimentado o caminho que liga Sergio Moro ao União Brasil. A semana do ex-juiz e pré-candidato começou com uma conversa não muito animadora da qual participaram Renata Abreu, presidente do Podemos, e Luciano Bivar e Antônio Rueda, presidente e vice do antigo PSL, a fatia do União que é entusiasta da candidatura.
Moro ouviu dos emissários que a ideia de que Moro se filie ao novo partido apenas poucos meses depois de ingressar no Podemos não tem apoio expressivo no antigo DEM, a segunda metade do União Brasil.
O presidente do DEM, ACM Neto, é o principal entrave a que avance essa negociação. Candidato ao governo de uma Bahia eminentemente lulista, não quer estar atrelado ao principal antípoda do ex-presidente Lula.
Neto trabalha, de acordo com interlocutores seus e do Podemos, para desmobilizar essa articulação, que, aliás, conta com o apoio apenas dos ex-bolsonaristas do PSL.
Outro que bombardeia o arranjo é o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Apesar de não ser mais tão próximo quanto já foi do presidente Jair Bolsonaro, Caiado compartilha boa parte do seu eleitorado com ele, e já deixou claro que a presença de Moro em seu partido pode dificultar sua reeleição.
Depois de uma largada em que se destacou do bloco dos nanicos nas pesquisas, Moro vive uma fase de consolidação da candidatura permeada pelos percalços de não ser político e de contar com a hostilidade declarada de boa parte do estamento político e também de pessoas destacadas no chamado establishment institucional (OAB, partidos, TCU e setores do Judiciário).
Concomitantemente à disputa de narrativas quanto aos méritos e vícios da Lava Jato, juntamente com uma crescente atenção da imprensa aos seus rendimentos depois que deixou o Ministério da Justiça, esses fatores têm contribuído para que a pré-candidatura encontre dificuldades de avançar casas — terreno, aliás, em que divide espaço com os demais postulantes a alternativas à polarização entre Lula, cada vez mais na dianteira nas pesquisas, e um desgastado Bolsonaro.
Caso não vingue sua filiação ao União Brasil, Moro pode manter o plano original de disputar a Presidência pelo Podemos. Mas o fato de ser um partido com muito menor capilaridade, comandado por dirigentes sem experiência no jogo político nacional e com muito menos dinheiro de fundo partidário são fatores que podem atrapalhar a logística da campanha.
Tratei das articulações entre Moro e o União Brasil e de outros aspectos do atual cenário eleitoral na minha volta das férias na primeira edição desta segunda-feira do Viva Voz, quadro diário que faço na CBN. Você pode ouvir o comentário abaixo.
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