O eleitor francês decide neste domingo (24) quem presidirá a república pelos próximos cinco anos, se o atual mandatário, o centrista Emmanuel Macron, ou a desafiante, a ultranacionalista Marine Le Pen.
Repete-se o confronto do segundo turno do pleito de 2017. Daquela feita, a súbita ascensão de Macron dialogava criticamente com o resultado de dois escrutínios ocorridos no ano anterior: o que definiu a saída do Reino Unido da União Europeia e o que conduziu Donald Trump à Casa Branca.
A surpresa na França não foi menor que a produzida nos processos americano e britânico —aos 39 anos, sem nunca ter disputado eleição, um ex-executivo da finança privada e ex-ministro de governo socialista desbancava partidos tradicionais e conquistava o Eliseu.
Mas o sinal da vitória por margem folgada de Emmanuel Macron contrastou vivamente com o dos triunfos do populismo nacionalista na América do Norte e na Grã Bretanha. O novo presidente francês representava tolerância, multilateralismo e abertura econômica.
Apesar de ter-se mantido nessa linha e atuado, com a alemã Angela Merkel, como contraponto de lucidez ao terremoto diplomático da gestão Trump, Macron viu fortalecer-se o radicalismo doméstico à esquerda —com Jean-Luc Mélenchon, terceiro colocado no primeiro turno— e à direita, com Le Pen.
Na França e em outras nações ocidentais, a anteposição política mais frequente deixa de ser a entre centro-esquerda e centro-direita para tomar a forma da rivalidade entre forças comprometidas com o Estado democrático de Direito, de um lado, e correntes que questionam esse arcabouço, do outro.
Atua nesse segundo polo o nacionalismo exacerbado de Marine Le Pen, mal disfarçado por uma fina camada de verniz para tentar diferenciá-la das boçalidades segregacionistas defendidas pelo extremista Éric Zemour no primeiro turno.
A eleição de Le Pen, que não haja dúvidas sobre isso, desencadearia não apenas uma reviravolta reacionária na política imigratória francesa. Representaria também uma ameaça constante de restrição de direitos da população não branca.
Todos os desafios que exigem colaboração internacional para ser enfrentados, da mitigação do aquecimento global ao enfrentamento de autocracias belicosas, encontrariam em Le Pen um obstáculo.
A invasão da Ucrânia pela Rússia colocou em termos claros o que está em jogo quando adversários do avanço civilizacional que a muito custo neutralizou o exercício tirânico do poder de Estado encontram substrato favorável para prosperar.
Marine Le Pen, admiradora de Vladimir Putin —também elogiado por Donald Trump—, é sócia dileta desse clube do retrocesso.
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