Barroso, do STF, diz que Forças Armadas são orientadas a atacar sistema eleitoral
BRASÍLIA O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou neste domingo (24) que as Forças Armadas têm sido "orientadas" a atacar o processo eleitoral.
Sem mencionar o presidente Jair Bolsonaro (PL), o magistrado, que é um dos principais alvos de ataques do chefe do Executivo, disse que há um esforço para levar as Forças Armadas ao "varejo da política" e que isso seria uma "tragédia" para a democracia.
"Desde 1996 não tem um episódio de fraude no Brasil. Eleições totalmente limpas, seguras e auditáveis. E agora se vai pretender usar as Forças Armadas para atacar? Gentilmente convidadas a participar do processo, estão sendo orientadas para atacar o processo e tentar desacreditá-lo?", questionou.
O ministro, porém, elogiou o Exército e disse que não houve nenhuma "notícia ruim" sobre a instituição desde a redemocratização.
Barroso citou o desfile de tanques na Esplanada dos Ministérios no dia da votação da proposta que visava instituir o voto impresso no país, que acabou sendo derrotado e era criticado por ministros do STF.
"Um desfile de tanques é um episódio com intenção intimidatória. Ataques totalmente infundados e fraudulentos ao processo eleitoral", disse.
As declarações do ministro foram dadas no "Brazil Summit Europe 2022", em evento realizado por uma universidade da Alemanha.
Em nota, o Ministério da Defesa afirmou que "repudia qualquer ilação ou insinuação, sem provas, de que teriam recebido suposta orientação para efetuar ações contrárias aos princípios da democracia".
"Afirmar que as Forças Armadas foram orientadas a atacar o sistema eleitoral, ainda mais sem a apresentação de qualquer prova ou evidência de quem orientou ou como isso aconteceu, é irresponsável e constitui-se em ofensa grave a essas Instituições Nacionais Permanentes do Estado Brasileiro. Além disso, afeta a ética, a harmonia e o respeito entre as instituições", diz a nota.
Quando era presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Barroso travou diversos embates com Bolsonaro e foi o responsável por convidar, ano passado, as Forças Armadas a participarem de uma comissão de acompanhamento das eleições a fim de dar transparência ao sistema eletrônico de votação.
Quando comandou a corte eleitoral, o magistrado liderou uma série de medidas para se contrapor a Bolsonaro em relação aos ataques à urna eletrônica. O magistrado demonstrou otimismo em relação ao comportamento do Exército.
"Tenho a firme expectativa de que as Forças Armadas não se deixem seduzir por esse esforço de jogá-las nesse universo indesejável para as instituições de Estado, que é o universo da fogueira das paixões políticas. E, até agora, o profissionalismo e o respeito à Constituição têm prevalecido", disse.
O magistrado citou generais que participaram do governo Bolsonaro.
"Não se deve passar despercebido que militares profissionais admirados e respeitadores da Constituição foram afastados, como o general Santos Cruz, general Maynard Santa Rosa, o próprio general Fernando Azevedo. Os três comandantes, todos, foram afastados. Não é comum isso, nunca tinha acontecido", completou Barroso.
O ministro disse que há uma ascensão do "populismo" no mundo e afirmou que os ataques a cortes constitucionais não se restringe ao Brasil.
Barroso mencionou, ainda, o risco de haver um retrocesso na democracia brasileira. "É preciso ter atenção a esse retrocesso cucaracha de voltar à tradição latino-americana de colocar Exército envolvido com política", disse.
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