A ordem do dia assinada pelo golpista Braga Netto e pelos três comandantes militares, para ser lida nos quartéis e assinalar a data do golpe de 1964, é uma peça do mais puro cinismo, uma fraude cognitiva para tentar reescrever e falsear a verdadeira história, que desonra os militares brasileiros.
Não, senhores, não houve "movimento" nem "revolução" em 1964. Houve um golpe militar-empresarial que decretou 21 anos de escuridão. No eclipse das liberdades, a ditadura perseguiu, prendeu, torturou, matou, exilou, censurou, corrompeu, instaurou o terrorismo de Estado, empobreceu o povo.
Golpistas de ontem, golpistas de hoje. O texto da ordem do dia condensa a lógica distorcida do discurso bolsonarista, que já está dando o tom da campanha e prepara a maré montante de violência que irá reger o processo eleitoral. É o ataque às urnas ("não serão dois ou três que decidirão como serão contados os votos"), aos ministros do STF e do TSE ("cala a boca; bota a tua toga e fica aí") e o vínculo mentiroso que Bolsonaro estabelece o tempo todo entre liberdade e posse de armas pela população.
Tal como fazem as máfias, Bolsonaro conseguiu garantir proteção na Câmara dos Deputados e apascentou a PGR. Mas o STF continua sendo o terreno movediço das suas vulnerabilidades.
Uma delas é a decisão da ministra Rosa Weber mantendo a investigação que o arrasta para dentro do esquema de corrupção na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde, como mostrou a CPI no Senado.
A Bolsonaro resta assanhar suas milícias e hostes laureadas com o sangue dos que tombaram combatendo a ditadura.
Compromisso com a democracia é pacto com a Constituição. Nas palavras de Ulysses Guimarães, em 1988: "Traidor da Constituição é traidor da pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo".
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