Em outras épocas, quando o tempo político ficava turvo, as velhas raposas diziam que nem as vacas reconheciam seus bezerros. Na tarde dessa segunda-feira (25), no balcão da Latam no aeroporto de Brasília, o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro disparou acidentalmente seu revólver, alguns estilhaços acertaram em uma funcionária da Gol numa bancada ao lado. Ele é pastor evangélico, em tese pregador de paz, mas vai embarcar armado como se isso fosse algo normal, como se estivesse portando uma bíblia…
Foi com esse mesmo nonsense que, enquanto ministro, Milton Ribeiro abriu, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, as portas do bilionário Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para as mais variadas maracutaias dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que tinham trânsito livre no Palácio do Planalto. Foi o primeiro de uma sequência de escândalos no FNDE.
São essas e outras sujeiras que o governo Bolsonaro quer jogar debaixo do tapete. Como sempre, tenta mudar o foco, acenando com o fantasma de uma crise institucional, uma alternativa batida, mas sempre eficaz. O problema é que ela vai ficando cada vez mais perigosa. Ministros do STF linguarudos e generais pau mandados pilham falsas controvérsias. A mais absurda é sobre a lisura da votação em urnas eletrônicas.
O pano de fundo são questões relevantes sobre o vai e vem nas posições e decisões de todos os poderes. O STF deu corda para a Lava Jato e depois a enforcou. A Câmara dos Deputados e em parte o Senado passaram a desfrutar do tal Orçamento Secreto, cerca de R$ 40 bilhões nos últimos dois anos, e fazem vista grossa para o desprezo de Jair Bolsonaro pelas leis e instituições públicas.
Tudo junto e misturado faz um caldo de cultura que turva o horizonte político do país. Qualquer faísca vira fogo. O ministro do STF Luís Roberto Barroso, em um seminário sobre o Brasil promovido pela Universidade Hertie School, de Berlim, questionou as tentativas de Bolsonaro de usar as Forças Armadas em sua malandra campanha contra a legitimidade das eleições. Barroso mentiu? Não.
Mas ao afirmar que as Forças Armadas são orientadas a “atacar” o processo eleitoral sem dizer por quem e em quais circunstâncias, Barroso abriu o flanco para o contra-ataque do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, que classificou a declaração de irresponsável, uma “ilação ou insinuação” sem nenhuma prova. O general errou na mão? Ou apenas seguiu a toada de Barroso? Ou será que, de um jeito ou do outro, todos eles estão fazendo o jogo de Bolsonaro?
Bolsonaro, sim, esticou a corda nos argumentos usados para anular a condenação do deputado Daniel Silveira pelo STF com a concessão de uma “graça”. Ele não tá nem aí para a liberdade de expressão. Quer liberar seu exército de robôs nas redes sociais. Mas invocou para a tal graça o voto do ministro Alexandre de Moraes a favor do indulto de um liberou geral do ex-presidente Michel Temer que poderia libertar ex-parceiros do MDB.
Aqui se faz, aqui se paga. É um festival de incoerências sem fim. Eles que se entendam em suas contradições.
O que o Brasil exige é respeito à democracia e à escolha dos eleitores.
É isso.
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