quinta-feira, 14 de abril de 2022

OS MILITARES E SUAS ESTRANHAS COMPRAS

Letícia Borges, OS DIVERGENTES

Quantos usos pode ter a toxina botulínica, mais conhecida por Botox? Segundo os médicos, muitos, sobretudo estéticos. E a substância sildenafila, pra que serve? Assim, de nome, talvez muitos não saibam de quem se trata. Talvez pelo apelido soe mais familiar: Viagra. Pois agora sabe-se que, além do uso consagrado, para disfunção erétil, também serve para tratar hipertensão pulmonar arterial (HPA). E prótese peniana? Bem, imagina-se que sua utilização seja mais restrita.

E o que têm os três em comum? Figuram na lista de compras das Forças Armadas.

Pouco interessa, a esta altura, a destinação dada a esses itens pelas Forças Armadas. Sequer se o valor é ou não exorbitante – há casos muito mais graves, por exemplo, como a forma que vem sendo aplicado o dinheiro do Orçamento secreto. Ou do MEC, seus pastores, suas bíblias e suas barras de ouro.

Em notas oficiais, explicações foram dadas, embora muito pouco convincentes. Tanto no caso do Botox (inclusive pela quantidade), quanto do Viagra (especialistas dizem que, na dosagem comprada, o remédio não se presta ao tratamento da hipertensão pulmonar). Negaram o uso estético do Botox; disseram que o Viagra não era praquilo que todo mundo pensou e, quanto às próteses penianas, disse que foram apenas três, usadas em cirurgias, e não sessenta, como consta no pregão, cujo valor aproximado é de R$3,5 milhões.

Piadas e memes foram produzidas à exaustão. Se o objetivo é desmoralizar as Forças Armadas, que têm missão nobre a cumprir, parece que até isso este governo está conseguindo.

Há suspeitas de superfaturamento no caso do Viagra, de irregularidades no caso das próteses (elas não deveriam ser infláveis, muito mais caras, mas maleáveis, que são as oferecidas no SUS e pelos planos de saúde e infinitamente mais baratas) e de excesso quanto às quantidades de Botox. Convenhamos, isso não tem graça nenhuma.

Muito debate tem sido travado sobre estas compras, para além da piada e das suspeitas de irregularidades. Mas o que tem causado mais indignação é o fato de se usar dinheiro público para atender apenas um segmento.

E elas vêm se somar a outras compras no mínimo questionáveis feitas pelas Forças Armadas, como as quantidades astronômicas de carne nobre, leite condensado ou bebidas.

Os que saem em defesa das FFAA dizem que tudo não passa de uma campanha para denegrir a imagem dos militares. Mas precisa? Ou eles é que estão cuidando de estragar um trabalho de profissionalização que vem sendo feito ao longo das últimas décadas.

Não seria melhor – como já aconteceu recentemente – ver os militares empenhados em ajudar na campanha de vacinação em lugares remotos? Melhor ainda seria vê-los apresentando resultados no combate ao crime nas fronteiras do país ou empenhados em impedir o garimpo ilegal e o desmatamento na Amazônia. Certamente, sua imagem não estaria tão arranhada, motivo de galhofa generalizada.

Processo de exaustão

Além de compras estranhas, há outras, mais suspeitas ainda, no âmbito do MEC e, mais especificamente, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica. São escolas abandonadas, outras que serão em breve porque o dinheiro não vai chegar (as chamadas escolas fakes), kits superfaturados e ônibus escolares também…

Os nichos entregues ao Centrão, além do Fundeb tem a Codevasf, por exemplo, também não trazem surpresas, que não sejam a malversação do dinheiro público, a escolha dos parceiros, a falta de transparência. Além dos sigilos eternos.

Ao contrário da decantada ausência de corrupção, assiste-se quase todos os dias – graças, é sempre bom lembrar, ao trabalho da imprensa profissional – a toda espécie de canalhice, num processo muito exaustivo.

É, brasileiro faz piada de tudo – e é bom que seja assim. Mas cansa, porque os efeitos perversos virão logo ali.

Rimos muito da ministra Damares e Jesus na goiabeira. Agora ele vê um capeta careca. Quanta bizarrice este país aguenta?

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