Elon Musk compra o Twitter por US$ 44 bilhões
SÃO PAULO O Twitter aceitou, nesta segunda-feira (25), a oferta de US$ 44 bilhões (R$ 214 bilhões) feita pelo bilionário Elon Musk para comprar a rede social. A decisão ocorre após o conselho de administração da empresa aprovar a oferta feita aos acionistas.
A aquisição —uma das maiores da história corporativa— pode tornar Musk um barão das redes sociais, com poder de controlar o que ele mesmo definiu como a "praça pública de fato do mundo".
Fundado em 2006 com a proposta de ser uma rede de compartilhamento de status entre indivíduos em textos de no máximo 140 caracteres (posteriormente ampliados para 280), o Twitter transformou-se em um espaço relevante de debate, com a presença de formadores de opinião, políticos e celebridades.
O bilionário já declarou que pretende introduzir novas ferramentas, abrir o código dos algoritmos, combater os bots e autenticar "todos os humanos". Ele também pretende fechar o capital da empresa.
A transação, que foi aprovada por unanimidade pelo conselho, deve ser concluída em 2022 e está sujeita à aprovação dos acionistas do Twitter, de órgãos regulatórios, entre outras condições habituais a esse tipo de negociação. No entanto, analistas não esperam obstáculos regulatórios.
Durante o extenso vaivém que marcou as negociações, o dono da Tesla demonstrou pouco interesse econômico na compra. Para ele, a aquisição era uma forma de reverter as políticas de moderação do Twitter —das quais é um crítico contumaz.
SAIBA MAIS SOBRE A VENDA DO TWITTER
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Quais os perigos de Musk controlar o Twitter?
O avanço de Musk foi inesperado, tanto por Wall Street quanto pelo Vale do Silício. Ao longo de três semanas, o dono da Tesla tornou-se um dos maiores acionistas do Twitter, recebeu um convite para o conselho da empresa e o rejeitou. Em seguida, fez uma oferta para comprar a rede e fechar seu capital.
O bilionário, que se descreve como um absolutista da liberdade de expressão, argumentou que tornar a rede social uma empresa de capital fechado seria uma forma de garantir a livre circulação de ideias.
"Eu espero que até os meus priores críticos continuem no Twitter, porque isso é o que liberdade de expressão significa", afirmou Musk em um tuíte nesta segunda.
"Ter uma plataforma pública que seja extremamente confiável e amplamente inclusiva é extremamente importante para o futuro da civilização", disse em entrevista no TED, no último dia 15.
As ações do Twitter encerraram o dia em alta de 5,66%, ao valor de US$ 51,69, após a divulgação do negócio.
De acordo com os termos do acordo, os acionistas do Twitter receberão US$ 54,20 (R$ 264,5) para cada ação ordinária do Twitter que possuírem no fechamento da transação.
O preço de compra representa um prêmio de 38% em relação ao preço de fechamento das ações em 1º de abril de 2022, que foi o último dia de negociação antes de Musk divulgar sua participação de aproximadamente 9%. Mesmo assim, a oferta está abaixo da faixa de US$ 70 em que o Twitter estava sendo negociado no ano passado.
OS 10 PRINCIPAIS NEGÓCIOS NO SETOR DE TECNOLOGIA
US$ 75 bilhões
Compra da Activision Blizzard pela Microsoft (Jan.2022)
US$ 67 bilhões
Compra da EMC pela Dell (Out.2015)
US$ 44 bilhões
Compra do Twitter por Elon Musk (Abr.2022)
US$ 37 bilhões
Compra da SDL pela JDS Uniphase (Jul.2000)
US$ 34 bilhões
Compra da Red Hat pela IBM (Out.2018)
US$ 27,7 bilhões
Compra da Slack Technologies pela Salesforce (Dez.2020)
US$ 26 bilhões
Compra do LinkedIn pela Microsoft (Jun.2016)
US$ 22 bilhões
Compra do WhatsApp pela Meta (ex-Facebook) (Out.2014)
US$ 15,3 bilhões
Compra da Mobileye pela Intel (Mar.2017)
US$ 1,65 bilhão
Compra do YouTube pelo Google (Out.2006)
Os detalhes específicos sobre a compra ainda não foram anunciados, mas, conforme divulgado na semana passada, Musk conseguiu montar um pacote de financiamento.
Segundo documento apresentado à SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA), o bilionário alinhou US$ 25,5 bilhões por meio de empréstimos com um grupo de bancos liderado pelo Morgan Stanley. O restante ele disse que forneceria pessoalmente, mas sem detalhar a origem.
Pessoas familiarizadas com o negócio afirmam que Musk teria se comprometido a pagar uma multa caso o negócio fracasse por motivos não relacionados a problemas de financiamento.
Em comunicado, Bret Taylor, presidente do Twitter, disse que o conselho conduziu um processo cuidadoso e abrangente para avaliar a proposta de Musk. "A transação proposta proporcionará um prêmio substancial em dinheiro e acreditamos que é o melhor caminho a seguir para os acionistas do Twitter", disse.
A empresa também afirmou que o bilionário se comprometeu com um investimento de US$ 21 bilhões no negócio. Não ficou imediatamente claro quem administrará o Twitter após a conclusão da transação.
"Acho que se a empresa tivesse tempo suficiente para se transformar, teria feito muito mais do que Musk está oferecendo agora", disse Jonathan Boyar, diretor administrativo do Boyar Value Group, que detém participação no Twitter.
No entanto, acrescentou, "esta transação reforça nossa crença de que, se os mercados não valorizam adequadamente uma empresa, um terceiro eventualmente o fará".
Por outro lado, grandes acionistas teriam procurado diretores do Twitter para pressioná-los em favor do acordo, segundo o jornal Financial Times. A expectativa era que as ações da plataforma dificilmente subiriam muito acima do que o oferecido por Musk no curto prazo.
Caso o acordo se concretize, será uma das maiores aquisições entre as principais já feitas no setor de tecnologia, ficando atrás apenas da compra da Activision Blizzard pela Microsoft (US$ 75 bilhões, em janeiro deste ano) e da EMC pela Dell (US$ 67 bilhões, em 2015), e muito à frente da compra do WhatsApp pelo Facebook (US$ 22 bilhões, em 2014).
Para funcionários do Twitter, o negócio deve resultar em mais um período de turbulência. Recentemente, o cofundador e então CEO da empresa, Jack Dorsey, foi substituído por Parag Agrawal.
Musk já falou, por exemplo, sobre fechar a sede da empresa em São Francisco (EUA) e em zerar o salário de membros do conselho.
Segundo a Reuters, Agrawal afirmou aos funcionários nesta segunda-feira que o futuro da empresa é incerto. Falando durante uma conferência acompanhada pela agência, o CEO do Twitter disse que "assim que o acordo for concluído não sabemos que direção a plataforma tomará".
QUAL O INTERESSE DE ELON MUSK NO TWITTER?
Em declarações públicas, o dono da Tesla insistiu que não lucraria com a aquisição da plataforma. Conforme disse repetidas vezes, o objetivo é garantir que a rede acompanhe sua percepção sobre liberdade de expressão.
Musk defende que, em caso de dúvida, o ideal é favorecer a liberdade em vez da moderação. "Se houver uma área cinzenta, em minha opinião é melhor deixar que o tuíte exista", disse em evento do TED.
VEJA A HISTÓRIA DO TWITTER
21.mar.2006
Jack Dorsey, cofundador e CEO, publica o primeiro tuíte
Mar.2007
Rede social tem salto de popularidade durante o festival SXSW (South by Southwest), atingindo 60 mil tuítes por dia
Ago.2007
Empresa introduz o recurso de hashtags
Out.2008
Evan Williams se torna o CEO
Fev.2010
Rede atinge 50 milhões de tuítes por dia
Out.2010
Dick Costolo se torna CEO
Dez.2010
Twitter levanta US$ 200 milhões e atinge valorização de US$ 3,7 bilhões
Mar.2011
Rede atinge 140 milhões de tuítes por dia
Jun.2011
Lançamento da versão em português
Out.2013
Anúncio do IPO na NYSE (New York Stock Exchange, a Bolsa de Nova York)
Nov.2013
Twitter atinge valor de mercado de US$ 31 bilhões
Out.2015
Jack Dorsey retorna ao cargo de CEO
Nov.2017
Twitter dobra o limite de caracteres, de 140 para 280
Jan.2021
Twitter exclui conta de Donald Trump por risco de incitação à violência
Nov.2021
Dorsey deixa o Twitter e Parag Agrawal assume a presidência
Mar.2022
Elon Musk compra participação de 9,2% no Twitter
Abr.2022
Musk compra o Twitter por US$ 44 bilhões
Na ocasião, o bilionário também disse que o Twitter deveria evitar apagar mensagens, o que abriria as portas para discursos de ódio, opiniões extremistas, entre outros conteúdos hoje restritos.
Além disso, Musk é a favor de suspensões temporárias em vez de exclusões definitivas, o que poderia abrir o caminho para o retorno de personalidades banidas da rede, como o ex-presidente americano Donald Trump.
O republicano, porém, já afirmou que não pretende reativar seu perfil na rede.
QUANDO ELON MUSK DECIDIU COMPRAR O TWITTER?
A história por trás da aquisição começou no dia 14 de março, quando o bilionário comprou ações da empresa, mas não divulgou a transação.
Nove dias depois, Musk fez uma enquete em seu perfil questionando se a rede seguia rigorosamente os princípios da liberdade de expressão. Mais de 70% dos entrevistados disseram que não. Na época, ele disse que a pesquisa teria consequências importantes.
Foi só no dia 4 de abril que Elon Musk revelou ter comprado uma participação de 9,2%, se tornando o maior acionista da rede social.
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TWITTER TENTA CRIAR BARREIRAS PARA ATUAÇÃO DE MUSK
No dia seguinte ao anúncio da participação do empresário na empresa, o Twitter disse que pretendia nomeá-lo para o conselho de administração. A nomeação, contudo, não era exatamente um convite.
A oferta bloquearia a investida de Musk, já que com uma cadeira no conselho ele não pode deter mais de 14,9% das ações do Twitter.
O empresário chegou a publicar que estava ansioso para trabalhar com Parag Agrawal, CEO da empresa, e fazer o que chamou de melhorias significativas.
No entanto, no último dia 11, Musk recusou o convite para integrar o conselho e, na mesma semana, anunciou sua proposta para comprar o Twitter.
Segundo ele, a rede social precisava se tornar uma empresa de capital fechado para ter mudanças efetivas e virar "a plataforma da liberdade de expressão em todo o mundo".
TWITTER USA PÍLULA VENENOSA
Após Musk recusar participar do conselho e tornar pública sua oferta de compra, o Twitter colocou em prática uma manobra corporativa conhecida como "poison pill" (pílula venenosa).
A estratégia consiste em inundar o mercado com novas ações ou deixar que acionistas as comprem com desconto. A tática serve para desencorajar e evitar que o controle acionário seja transferido para um grande investidor ou corporação de forma hostil.
Para Musk continuar sua empreitada, seria preciso convencer os investidores do Twitter a venderem suas ações diretamente para ele.
A manobra foi a última tentativa para conter o bilionário —o que não deu certo. Após apresentar seu plano de financiamento para financiar a oferta, Musk conseguiu pressionar o conselho da empresa para negociar com ele.
QUAIS OS PERIGOS DE MUSK CONTROLAR O TWITTER?
A compra do Twitter é vista como uma forma de Elon Musk direcionar o futuro de uma plataforma que ele usa, constantemente, para conduzir campanhas de revanche pessoal e promover sua agenda.
Além de criticar as próprias diretrizes do Twitter, o dono da Tesla tem um histórico de declarações polêmicas.
Um desses casos envolveu um tuíte sobre um plano de fechamento do capital da Tesla, que posteriormente fez do empresário alvo de fiscalização de autoridades do mercado de capitais norte-americano (SEC).
Nesta semana, ele também debochou da aparência de Bill Gates, após recusar um encontro sobre filantropia. "Caso você precise perder uma ereção rapidamente", escreveu.
"Independentemente de quem controla o Twitter, a empresa tem como responsabilidade o respeito aos direitos das pessoas ao redor do mundo que confiam na plataforma. Mudanças em suas políticas, recursos e algoritmos, grandes e pequenas, podem ter impactos desproporcionais e às vezes devastadores, incluindo violência offline", disse Deborah Brown, pesquisadora de direitos digitais e defensora da Human Rights Watch.
"A liberdade de expressão não é um direito absoluto e é por isso que o Twitter precisa investir em esforços para manter seus usuários mais vulneráveis seguros na plataforma", acrescentou.
"Embora Elon Musk seja um membro de carteirinha da ACLU e um de nossos apoiadores mais importantes, há muito perigo de ter tanto poder nas mãos de qualquer indivíduo", disse Anthony Romero, diretor-executivo da American Civil Liberties Union.
A Anistia Internacional disse estar preocupada com qualquer possível decisão do Twitter que possa corroer a aplicação das políticas e mecanismos projetados para moderar o discurso de ódio online.
"A última coisa que precisamos é de um Twitter que voluntariamente feche os olhos para discursos violentos e abusivos contra usuários, particularmente aqueles mais impactados desproporcionalmente, incluindo mulheres, pessoas não-binárias e outros", disse Michael Kleinman, diretor de tecnologia e direitos humanos na Anistia Internacional dos Estados Unidos.
Com Reuters e Financial Times
RAIO-X DO TWITTER
Valor de mercado (às 12h desta segunda)
US$ 38,73 bilhões
Receita em 2021
US$ 5 bilhões
Resultado em 2021
Prejuízo líquido de US$ 221 milhões
Número de funcionários
7.500
Número de usuários
217 milhões
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