sábado, 21 de maio de 2022

BOLSOMINION PROMOVIDO

Ana Viriato, ISTOÉ

Desde o início da crise dos combustíveis, Jair Bolsonaro seleciona bois de piranha para terceirizar a culpa e reduzir o desgaste eleitoral decorrente da disparada dos preços. O presidente o fez ao rifar do comando da Petrobras o economista Roberto Castello Branco, em 2021, e general Joaquim Silva e Luna, neste ano. Repetiu a tática ao demitir, na semana passada, o almirante Bento Albuquerque da chefia do Ministério de Minas e Energia e escolher para seu lugar o então assessor especial do Ministério da Economia e integrante da ala ideológica, Adolfo Sachsida.

O economista, servidor de carreira do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), é um velho conhecido do presidente. Em 2017, quando planejava a candidatura ao Planalto, Bolsonaro convidou Sachsida para atuar como uma espécie de “conselheiro”. Ele tinha, a seu ver, boas referências — não apenas pelo currículo, mas porque já era discípulo do ideólogo Olavo de Carvalho e havia participado de manifestações, em 2014, que acusavam Dilma Rousseff de irresponsabilidade fiscal. Sachsida entrou no governo logo no início, antes mesmo de Paulo Guedes formar a equipe é tido nos bastidores do Congresso como o “novo Weintraub”, ou seja, um personagem do núcleo ideológico do bolsonarismo e tosco como Abraham.

Hoje braço direito do ministro da Economia, Sachsida não tem experiência nos setores de petróleo, gás natural, energia elétrica e mineração, nem tem trânsito no meio político. O primeiro discurso como ministro, porém, estampou sua principal credencial para o cargo: o alinhamento aos interesses bolsonaristas. Ao apostar na privatização da Petrobras, ciente de que uma eventual venda da estatal depende de várias etapas, inclusive da chancela do Parlamento, e que a conclusão do processo seria inviável neste mandato, Sachsida se mostrou disposto a protagonizar as cortinas de fumaça de Bolsonaro.

A postura não causou espanto no meio político, pois o economista é conhecido pela bajulação ao presidente. Também coleciona falas esdrúxulas. Já tachou a licença-maternidade de um “crime” contra as mulheres, defendeu que Hitler seria de esquerda, e culpou os pobres pelo déficit da Previdência, além de prever que a segunda onda da Covid-19 não ocorreria no País.

No Congresso, até integrantes da liderança do governo veem como um “equívoco” sua designação para uma das pastas mais importantes da Esplanada em razão da crise. Deputados e senadores alinhados ao Planalto afirmam que já bastam os ataques de Bolsonaro à Petrobras, frisam que o debate sobre combustíveis não pode ser contaminado pela ideologia e avaliam que o posto deveria ser ocupado por um nome “sóbrio” com o “mínimo de familiaridade” com o setor de petróleo. “Digo com tranquilidade que, na bolsa de apostas para eventuais trocas no MME, o nome de Sachsida nunca esteve nem em décimo lugar”, afirmou um deputado da base a ISTOÉ, sob reserva.

Parte dos integrantes da Comissão de Minas e Energia admite que nem sequer conhecia Sachsida. “Tive de colocar o nome dele no Google”, ironizou um parlamentar. O presidente do colegiado Fabio Schiochet (União Brasil/SC) contemporizou. “Tive uma agenda com ele e houve uma boa primeira impressão”, contou. “Vi o pontapé inicial para a privatização da Petrobras. Mas estamos falando da maior estatal do País. Não é colocar uma placa de “vende-se” e, amanhã, achar um comprador. A preocupação é o molde dessa venda. Por quê? Não adianta sair do monopólio público para o privado”, disse.

Gasoduto bilionário

A principal irritação com a troca, no entanto, partiu do Centrão — e não porque houvesse endosso ao trabalho de Bento Albuquerque. O bloco fisiológico não gostou da rapidez da mudança — a substituição foi concretizada em menos de 48 horas, o que brecou a possibilidade de uma indicação dos partidos.

A ascendência sobre o posto seria crucial para costurar melhor o plano do grupo de incluir, em um projeto que trata da modernização elétrica do País, um “jabuti” para prever a construção de gasodutos. A proposta, estimada em R$ 100 bilhões, beneficiaria Carlos Suarez, ex-sócio da OAS e conhecido como “rei do gás”. A investida era criticada nos bastidores por Albuquerque. Sob a gestão do pupilo de Guedes, o Centrão também duvida do aval do MME ao texto, uma vez que a Economia é contra sacar o valor do pré-sal para financiar os dutos — hoje, o dinheiro vai para o Tesouro e ajuda o País a fechar as contas.

Na Economia, a nomeação de Sachsida é defendida. Para os integrantes da equipe de Guedes, ele diminuirá o espaço entre os ministérios em um momento crucial para a privatização da Eletrobras e tem a missão, a curtíssimo prazo, de articular a revisão de reajustes nas contas de energia de forma que não prejudique a venda da estatal. Mesmo na equipe de Guedes, porém, admite-se que sobram atribuições e falta experiência ao novo ministro para contornar a crise.

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