sexta-feira, 15 de julho de 2022

A VIOLÊNCIA POLÍTICA

Carlos José Marques, ISTOÉ

Em que estágio de barbárie política estamos começando a viver? Assustadores os episódios, inclusive com vítima fatal, de extremistas partidários. Mais ainda a sinalização dada diretamente do Planalto, com uma postura do presidente-capitão que, ao dizer que “o lado de lá dá facada, cospe e destrói patrimônio”, parece justificar, e até autorizar, como uma espécie de salvo-conduto, tais situações. Violência, venha de onde vier, alcançando o patamar de tragédia, é intolerável.

 Sem indulgências, pesos ou contrapesos. A um chefe de Estado digno do nome caberia, essencialmente, condenar o ocorrido. Sem margens para dúvidas. Mas no País de Bolsonaro, o ódio e o incentivo à baderna e aos confrontos granjeiam soltos. O mandatário-candidato se alimenta desse caldeirão de beligerância. Crê piamente que colocando o Brasil em estado de convulsão permanente será visto como o salvador da pátria contra o “inimigo”. Não é surpresa para ninguém, ele sempre alimentou o fantasma de um comunismo caduco para poder se projetar e justificar o belicismo latente. 

Hoje apela às Forças Armadas para que marchem ao seu lado em um trôpego golpismo bananeiro, tão oportunista como esquizofrênico e em completa dessintonia com as regras do mundo civilizado. Esse é Bolsonaro! O patrono do caos fabricado. O senhor do “bota pra quebrar”. Aquele que já sugeriu “fuzilar” toda “petralhada”, em uma espécie de convocação indireta para a guerra imaginária que alega travar entre, como diz, “o bem e o mal” — naturalmente se autoproclamando o digno representante do lado certo.

 E aí há de se perguntar: como classificar de, digamos, paladino da justiça alguém que abre margem à destruição das florestas, incentiva o garimpo ilegal, compra votos com orçamento secreto, faz vista grossa a assassinato em câmara de gás de um camburão da polícia, deixa mais de 33 milhões de brasileiros passando fome e ainda desmonta os sistemas de Educação e Saúde? Tá difícil enxergar o lado correto desse desgoverno. 

O presidente ali plantado no coração do poder é o mesmo que, após a invasão do Capitólio nos Estados Unidos, disse ser possível haver baderna maior por aqui, caso seja derrotado nas urnas. Para confirmar os próprios prognósticos, vem, desde lá, embrenhado na cruzada da agitação geral. Quer, mais uma vez, fazer da data comemorativa do Sete de Setembro um marco de intimidação política aos poderes constituídos, como forma de pressionar contra a eventualidade de resultados diversos daquele por ele esperado. Tem se empenhado em facilitar o acesso a armas e munição, abrindo o caminho inevitável para o conflito. É algo calculado.

Vivemos uma escalada inegável de atos terroristas no picadeiro político. Dias atrás, em comício do candidato Lula, no Rio, opositor ferrenho do Messias, um artefato com fezes explodiu em meio à multidão. Ato contínuo, o carro do juiz que condenou um bolsonarista experimentou o mesmo tipo de ataque. Já no mês passado, em Uberlândia, novamente fezes foram lançadas por um drone sobre apoiadores do presidenciável petista. O modus operandi exibido obedece um padrão. No último final de semana alcançou o cúmulo do faroeste caboclo por motivo torpe. Em meio à festa de aniversário de um simpatizante de Lula (que lidera as pesquisas), o tiroteio seguido de execução consagrou na bala as diferenças ideológicas. 

Atuando de forma isolada, o criminoso, que segue, venera e replica na prática os mandamentos de Bolsonaro, foi às vias de fato em um abominável atentado -— mostrando até aonde o fanatismo é capaz de chegar. Episódios odiosos como esses precisam parar, ter fim imediatamente, com uma resposta rápida e firme das autoridades. Bolsonaro busca incendiar o clima na caserna, avisando a soldados que se preparem para o pior. Pessoalmente arquiteta o cenário para o seu conflito final. Desenha movimentos calculados visando a destruir os arcabouços da democracia. 

E assim, o grau de incertezas e de ameaças à estabilidade institucional apenas aumenta. Nunca foi tão grande e, lamentavelmente, tende a atingir o pináculo do insuportável, caso nada seja feito. Para as ambições diabólicas do “mito”, a desordem é um ativo. A turba ensandecida o segue bovinamente, em uma espécie de profissão de fé rumo ao combate sem trégua. Talvez por não perceber o quão apocalíptico pode ser o desfecho dessa refrega. Que os casos recentes soem o alerta definitivo para o perigo que está no ar. O grau de radicalização em curso corrói os fundamentos mais elementares da civilidade e pode nos levar a tempos bem sombrios.

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