quinta-feira, 29 de setembro de 2022

O RISCO DE SUJEIRA NO FINAL DA CAMPANHA

Vinicius Torres Freire, Folha de S.Paulo

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Jair Bolsonaro (PL) corre o risco de terminar o domingo comendo pizza fria. Uma vitória de Lula da Silva (PT) no primeiro turno está na linha do gol. O imponderável de indecisões da última hora, abstenções e votos inválidos podem levar a bola para lá ou para cá, por diferença pequena. Quem sabe chova demais ou até falte ônibus para o povo ir votar, né. A dúvida maior é se o bolsonarismo vai tentar um lance de mão, um pontapé ou bater no juiz.

Parece preocupação amanhecida. Mas ainda nesta quarta-feira (28) as facções mais fanáticas do bolsonarismo requentavam a história da eleição roubada. O PL divulgou um papelucho sobre "vulnerabilidades relevantes" do sistema eleitoral, "com grave impacto nos resultados das eleições".

Nesta quinta-feira, acontece o último debate entre os candidatos a presidente, na Globo, no último dia de campanha em TV e rádio. Dado o histórico de Bolsonaro e do bolsonarismo, não é desarrazoado especular que soltem uma bomba retórica de escândalo no debate. Poderia ser uma tentativa desesperada, de efeito marginal, se algum, de evitar uma derrota precoce. O tempo e os meios de reação do lulismo seriam escassos.

Um parlamentar moderado da campanha de Bolsonaro diz que isso é "delírio". Mesmo o "nível de agressividade" de seu candidato, "forte", será "dosado e baseado em fatos conhecidos" da vida política de Lula. Esse parlamentar diz que os ataques serão "objetivos" e, "por isso mesmo", vão deixar o petista "emocionalmente abalado".

Sabe-se lá. Parte do comando da campanha de Bolsonaro tem vazado pelos jornais que a agressividade, os maus modos, os maus bofes, as desumanidades e as ameaças golpistas não pegaram bem no eleitorado. Dizem que tentaram conter seu candidato, com efeito notável nas últimas duas semanas, acreditam.

Não é garantia de coisa alguma, como percebe qualquer pessoa que não esteve catatônica nestes quatro anos de trevas. No entanto, com os contra-ataques e contragolpes de agosto e de setembro, grupos importantes da sociedade acuaram o golpismo. Nesta terça-feira, empresários e dirigentes de empresas fizeram uma espécie de cerimônia precoce, precipitada, dizem alguns, de reconhecimento do novo rei, um comício de declaração de boa vontade com Lula.

Não tem efeito algum no resultado da eleição, claro, mas é mais uma pá de terra sobre os últimos zumbis golpistas que querem escapar da cova. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também reagiu ainda nesta quarta-feira ao estertor aloprado do PL contra a votação eletrônica.

O tribunal chamou as "conclusões" do PL de "falsas e mentirosas, sem nenhum amparo na realidade, reunindo informações fraudulentas e atentatórias ao Estado Democrático de Direito e ao Poder Judiciário, em especial à Justiça Eleitoral, em clara tentativa de embaraçar e tumultuar o curso natural do processo eleitoral".

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, mandou investigar a "responsabilidade criminal" dos "idealizadores" do papelucho do PL.

Sim, pouco antes, o dono do PL, Valdemar Costa Neto, fizera média com o tribunal e com o sistema eleitoral. É um sinal de que mesmo o núcleo do centrão bolsonarista, PP e PL, está rachando, parte dele já boiando em direção à Lula ou algum lugar de onde possam arrumar um lugarzinho ao sol em um possível novo regime.

Nada disso altera a tendência geral de votação ou a brisa de relativo desafogo que começou a soprar em setembro. Mas tem havido violência; o bolsonarismo é em essência bruto e alucinado. A possibilidade de que a derrota precoce seja decidida por números mínimos pode incentivar reações desesperadas.

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