Morre Antero Greco, jornalista da ESPN, aos 69 anos
O Jornalismo, assim mesmo, com J maiúsculo, está de luto. Morreu na madrugada desta quinta-feira (16) Antero Greco, um dos maiores ícones da história da ESPN e da comunicação no Brasil. Ele tinha 69 anos.
"É com muita tristeza que comunicamos a partida de nosso querido Antero Greco, serenamente, nesta madrugada de 16 de maio de 2024. A despedida será realizada no Cemitério do Redentor, hoje, a partir das 12h, seguida pelo enterro às 16h, na Avenida Dr. Arnaldo. 1.105. Agradecemos todas as manifestações de carinho e apoio que recebemos em seus momentos finais", informou a família.
Antero lutava contra um tumor no cérebro há quase dois anos. E mesmo com altos e baixos durante o tratamento, fazia questão de continuar – de casa ou do estúdio – fazendo parte do SportsCenter, programa que ajudou a alavancar desde o seu início.
Foi no SC, aliás, que o paulistano filho de João Greco e Ernestina Caterina Ferraro Greco formou uma parceria fortíssima de anos e anos com Paulo Soares, o 'Amigão da Galera'. Sob o comando dos dois, sempre com um jornalismo informativo e ao mesmo tempo divertido, leve, o programa ganhou ainda mais notoriedade com o passar do tempo. Tornaram-se, sem sombra de dúvidas, a dupla favorita de todas as noites do fã de esportes.
Antero e Amigão, ou Amigão e Antero, protagonizaram diversos momentos históricos na tela da TV. Com alto astral, sorriso no rosto e, claro, seriedade na hora da informação, eles viraram referência no telejornalismo brasileiro. "Anterito, my friend [meu amigo]", dizia carinhosamente Paulo Soares para chamar o parceiro de bancada para o assunto do momento.
Quem não conhece a história do Milton Caraglio? Ou do Louis Picamoles? São incontáveis os momentos em que os apresentadores, "irmãos" de SportsCenter, informavam e alegraram a todos que os acompanhavam. Fica a saudade. E o exemplo também.
Antero nasceu em 2 de junho de 1954, logo, completaria 70 anos mês que vem. Ele se formou em Jornalismo pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo) e começou a exercer a profissão em 1974, há 50 anos, como revisor do jornal O Estado de S. Paulo.
No diário, ocupou também as funções de repórter, chefe de reportagem, repórter especial e editor. Foram três passagens, a última encerrada em 2018. Também trabalhou no Diário Popular, no Popular da Tarde e na Folha de S. Paulo. Na TV, teve passagem pelo SBT e também pela Bandeirantes.
A história de Antero Greco com a ESPN vem desde 1994, ainda como TVA Esportes (que virou ESPN em 1995), na qual atuou por décadas como comentarista do SportsCenter, comentarista de partidas internacionais e já há muitos anos escrevia para o ESPN.com.br.
Além do incrível trabalho ao lado de Paulo Soares no SportsCenter, o jornalista também participava esporadicamente de quase todos os outros programas da casa, do Linha de Passe ao antigo Bate-Bola. Também deu enorme contribuição ao Futebol No Mundo.
O experiente comunicador ainda cobriu, in loco, as Copas do Mundo de 1982, 1986, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014.
Em maio de 2023, Antero Greco retornou ao estúdio do SportsCenter após longo período de tratamento e um susto ao vivo. Ao lado do apresentador Eduardo Elias, ele se emocionou e falou de coração aberto: "Estar aqui na bancada que eu ocupo há mais de 20 anos é uma emoção. E também uma vitória de ciência e de fé."
Naquela noite de 15 de maio, ele resumiu no ar e com a leveza de sempre - mesmo tratando de um assunto tão delicado - a luta que vinha travando e como descobrira o tumor, em junho de 2022, quando sentiu dentro de sua casa uma dormência em uma das mãos. "Um corpo estranho aqui, na cuca; sobrou um treco da gororoba; tive um piripaque aqui", foram algumas das expressões do jornalista.
Algum tempo depois, por orientação médica, ele voltaria a participar mais de casa da programação da ESPN. “Fiz neste tempo todo meu trabalho em casa, não deixei de trabalhar, pra mim, o trabalho foi uma terapia.”
Antero Greco deixa a esposa e companheira de décadas, Leila Maria de Brito Greco, os filhos João Paulo de Brito Greco e Maria Cristina de Brito Greco e os netos Pedro Shellard Greco e Carolina Shellard Greco.
E deixa órfão não só o Jornalismo, mas também o fã de esporte que se acostumou a assistir à extraordinária dupla durante tantas e tantas noites de SportsCenter. A TV brasileira perde um dos maiores. E a nós, da família ESPN, ficará a saudade, o exemplo e as grandes memórias proporcionadas por Antero.
Descanse em paz, Anterito!
Paulo Soares, o Amigão, presta homenagem emocionante a
Antero Greco no Sportscenter: 'Formamos a maior dupla da história da TV
brasileira'
ESPN.com.br
A emoção tomou conta do Sportscenter quando a voz de Paulo Soares, o Amigão, invadiu o estúdio. Pelo telefone, o apresentador da ESPN prestou sua primeira homenagem ao parceiro de bancada em inúmeras madrugadas à frente das câmeras no maior telejornal esportivo do mundo: Antero Greco.
Um dos maiores ícones da história da ESPN e da comunicação no Brasil, o jornalista morreu na madrugada desta quinta-feira (16).
Antero lutava contra um tumor no cérebro há quase dois anos. E mesmo com altos e baixos durante o tratamento, fazia questão de continuar – de casa ou do estúdio – fazendo parte do Sportscenter, programa que ajudou a alavancar desde o seu início.
“Vamos dar risada, gente. A Glaucia abriu o programa chorando. Como eu posso falar alguma coisa agora?”, disse Amigão, com a voz embargada, citando a homenagem publicada no site da ESPN por André Kfouri: "Até um dia, querido Antero".
“Puxa vida, que textos lindos de homenagem. O André fala que o Antero chegava atrasado. O Antero chegava sempre em cima da hora, em todas as situações. Era uma coisa irritante, tinha vontade de arrebentar ele (risos). Poxa vida, para quem gostava de chegar tão em cima da hora, para que sair tão cedo? Não era a hora ainda”.
“Acompanho desde o começo [do tratamento], assim como ele vinha acompanhando os meus. Tinha sempre uma esperança de que as coisas iam ser empurradas para a frente, porque 69 anos é muito cedo, muito novo. Isso que choca. O grande sonho dele era poder acompanhar um pouco da vida, o crescimento do Pedrinho, da Carol (os netos). É muito triste. Não sou a pessoa indicada para falar agora”.
Antero Greco deixa a esposa e companheira de décadas, Leila Maria de Brito Greco, os filhos João Paulo de Brito Greco e Maria Cristina de Brito Greco e os netos Pedro Shellard Greco e Carolina Shellard Greco.
“São 40 anos de amizade. Desses 40, 30 são de ESPN e 20 de Sportscenter. Hoje a gente tem convicção de que, graças ao fã de esporte, graças a todas as pessoas que sempre estiveram com a gente fazendo o programa, graças à iniciativa do Trajano, de fazer uma dupla diferente no surgimento do Sportscenter, sabemos hoje, com simplicidade e humildade, que formamos a maior dupla da história da televisão brasileira. E isso ninguém vai poder tirar do Antero e de mim”.
“Tenho certeza que ele está do nosso lado. Ele vai ser nosso chão sempre. Mas o fato é que ele é um cabeçudo, não podia ter feito isso com a gente agora”.
Antero nasceu em 2 de junho de 1954, logo, completaria 70 anos mês que vem. Ele se formou em Jornalismo pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo) e começou a exercer a profissão em 1974, há 50 anos, como revisor do jornal O Estado de S. Paulo.
No diário, ocupou também as funções de repórter, chefe de reportagem, repórter especial e editor. Foram três passagens, a última encerrada em 2018. Também trabalhou no Diário Popular, no Popular da Tarde e na Folha de S. Paulo. Na TV, teve passagem pelo SBT e também pela Bandeirantes.
“É impressionante. Uma pessoa da maior qualidade, de um texto impecável, de uma leitura dinâmica que eu nunca vi. O Antero pode pegar um livro de 300 páginas e ler em 30 minutos. Pegava um programa com 50 laudas e em 30 segundos sabia tudo que estava escrito. Ele batia o olho em uma notícia longa, ele em 30 segundos sabia tudo que tinha acontecido. Um repórter acima de tudo, tem a veia do repórter. Extrapolou a reportagem para ser editor-chefe do Estadão, um dos maiores jornais desse país, e depois se aventurou na televisão em uma época que o futebol internacional começava a chegar aqui no Brasil, ninguém tinha ideia do que era, mas ele rapidamente transformou em algo muito fácil”.
“Foi um dos principais produtores do Futebol no Mundo. Lá atrás não tinha internet e o Antero sabia tudo. O legado dele vai muito além. Além do jornalista esportivo, foi um cara alucinado por livros. Para se ter uma ideia, ele tem um apartamento só de livros, com milhares de livros e de jornais”.
“Eu adoro cinema, ele também, então a gente saía sempre correndo da televisão porque senão prendia a gente mais duas ou três horas na calçada. Chegava em casa, cinco minutos toca o telefone, Antero Greco. E fala de cinema, de política, de jornalismo, de música, de gente, de livro. Antero sempre foi um defensor da democracia. A luta dele nos últimos anos, ele nunca se calou, não desistiu nunca. Tanto que hoje está sendo reverenciado por muita gente. Mesmo aqueles que são do mal estão chorando pela morte do Antero”.
“Antero, querido, my friend. Antero quase foi padre, bateu na trave. Ele era muito religioso, devoto de nossa Senhora Aparecida, como eu sou. E eu disse isso: ‘Nossa Senhora está te recebendo no seu lindo Bom Retiro’. Ele começou e voltou para lá. Daqui a pouco a gente vai lá dar o último abraço, o último beijo. E o legal é que ele acabou de mandar para mim que o céu é verde, não azul. O céu é verde por ele”.
Antero e Amigão, ou Amigão e Antero, protagonizaram diversos momentos históricos na tela da TV. Com alto astral, sorriso no rosto e, claro, seriedade na hora da informação, eles viraram referência no telejornalismo brasileiro.
"Anterito, my friend [meu amigo]", dizia carinhosamente Paulo Soares para chamar o parceiro de bancada para o assunto do momento.
Antero deixa órfão não só o Jornalismo, mas também o fã de esporte que se acostumou a assistir à extraordinária dupla durante tantas e tantas noites de Sportscenter. A TV brasileira perde um dos maiores. E a nós, da família ESPN, ficará a saudade, o exemplo e as grandes memórias proporcionadas.
Até um dia, querido Antero
André Kfouri, especial
para o ESPN.com.br
O Antero que você via na televisão é o mesmo que aqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo viam todos os dias. O sorriso rápido, próprio dos otimistas. O olhar sincero, típico dos genuínos. Se ele te chamava de “querido”, ou “querida”, não era por educação, ou simpatia. Era por sentimento. Quando ele perguntava se estava tudo bem, não era por convenção, ou formalidade, era por empatia. Antero nunca foi um personagem das telas, um ator do fim de noite. Nunca representou algo que não sentia, nunca disfarçou o que corria em suas veias e fazia seu coração bater. É por isso que, ao longo de tantos e tantos anos visitando a casa das pessoas na hora em que o sono se aproxima, ele era capaz não só de mantê-las acordadas, como de absorver sua atenção e, por vezes, fazê-las sorrir. É por isso que quem o encontrava nas ruas, pela primeira vez, tinha a sensação de estar ao lado de um amigo. Um amigo da vida toda.
É aqui que a perda do Antero dói mais. Ele tinha, em doses exageradas, a generosidade que se transformou em um artigo tão raro. Era como ele enxergava a vida, o mundo, as relações. Hoje as pessoas quase não se olham mais. Antero te olhava como se pudesse ver o que havia dentro de você. E o que você via nos olhos dele era o interesse verdadeiro, a presença que valoriza o tempo, a atenção de quem deseja estar ali. Gente assim não apenas passa pela vida dos outros, não apenas deixa lembranças que ficam, não apenas faz falta quando se vai. Gente assim ensina, mesmo sem a menor pretensão, que o que temos de mais importante, de mais caro, de mais fundamental, somos nós. E quando gente assim não está, nós somos menos. É o que somos hoje. Muito menos.
Antero era simples, uma de suas incontáveis qualidades. Um resistente farol de espontaneidade e franqueza num mundo que cultua a afetação. Respondia uma pergunta com honestidade brutal. A quem merecia, fazia críticas com carinho. Incapaz de um gesto ríspido ou de uma palavra hostil, só sabia dedicar às pessoas aquilo que ele tinha de bom. Estava quase sempre atrasado, mas sempre tinha tempo para os outros. Sua modéstia – a modéstia autêntica, que é o oposto da falsidade – provavelmente o impedia de alcançar a exata noção de como era admirado pelos colegas, especialmente os mais jovens, porque ele era dessas pessoas que não se deixam levar por elogios, mas jamais deixam de agradecê-los. Sempre educado, sempre cordial. Sempre amável, essa palavra que, embora em desuso, nunca será extinta por causa de gente como ele.
A forma como Antero enfrentou a doença cruel que terminou por levá-lo é outro testemunho de seu valor como pessoa. Insistiu em trabalhar enquanto pôde, seguiu escrevendo e frequentando a casa das pessoas, com o mesmo espírito, a mesma gentileza, a mesma competência, sendo esse amigo da vida toda que ele sempre foi. Antero honrou a estirpe dos homens que lutam todos os dias, sem fazer disso uma plataforma de suas virtudes, mas oferecendo o exemplo a quem tem a capacidade de notar. Ele não saberia agir de outro jeito. E nós, que hoje somos muito menos, não sabemos como nos despedir dele, porque ninguém nos ensinou a aceitar que a vida acaba por nos deixar assim, com esse nó na garganta, procurando os olhos do Antero, nosso amigo da vida toda.
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