Poeta e letrista carioca Tavinho Paes deixa obra musical
de escrita pop, feliz e jovial ao morrer no Rio aos 69 anos
Ouvidos em vozes como as de Caetano Veloso e Marina Lima,
os versos do compositor retrataram sem culpa o sexo e o vale-tudo da década de
1980.
♪ Com
as letras modernistas escritas para a irmã e parceira Marina Lima a partir da
segunda metade dos anos 1970, Antonio Cicero (1945 – 2024) fez um país em
que desbravou território para outros poetas que entraram no universo da música
pop como letristas.
Um deles foi Luiz Octávio Paes de Oliveira (26 de janeiro de
1955 – 31 de outubro de 2024), o compositor, escritor e jornalista carioca
conhecido como Tavinho Paes.
Morto
hoje aos 69 anos, em hospital da cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), em
decorrência de complicações de duas cirurgias feitas na sequência de infarto
sofrido em setembro, Tavinho Paes debutou como letrista no início dos
anos 1980, década áurea da produção musical do artista multimídia.
Não por acaso, Paes escreveu letras para músicas de Marina
Lima, com quem iniciou parceria em 1981 com a feitura dos versos de Gata
todo dia, música também assinada por Leo Jaime.
O rock Acho que dá, lançado pela cantora no
álbum ...Desta vida, desta arte... (1982), exemplificou a
escrita pop e jovial de Paes em versos como “Periga escuta na esquina /
Caretas marcam sob pressão / Que a gente sempre com tudo em cima / O céu, a
terra, a vida, a visão”.
Tavinho Paes também escreveu a letra de Totalmente
demais (1986) para música de Arnaldo Brandão – o parceiro mais
frequente do poeta – e Roberio Rafael gravada pela banda Hanoi Hanoi e, no
mesmo ano, amplificada na voz de Caetano Veloso em disco ao vivo batizado pelo
cantor com o nome da composição que perfilava mulher linda e libertária às
voltas com sexo, drogas e gays. “Linda como um neném / Que sexo tem,
que sexo tem? / Namora sempre com gay / Que nexo faz, tão sexy gay?”,
cantava Caetano, ecoando os versos da Paes.
Totalmente demais é uma das músicas mais
conhecidas da obra de Tavinho Paes ao lado de Blá, blá, blá... Eu te
amo (Rádio Blá), outra música lançada em 1986 pela banda Hanoi Hanoi e
amplificada na voz de um cantor, no caso Lobão, que a gravou no ano seguinte no
álbum Vida bandida (1987).
Parceiro de Fausto Fawcett, Moraes Moreira (1947 – 2020) e
Nelson Jacobina (1953 – 2012), Tavinho Paes também se aventurou pelo universo
da canção pop romântica das FMs dos anos 1980, escrevendo sucessos para o grupo
Roupa Nova, que gravou Linda demais e De
volta pro futuro (parcerias de Paes com Kiko, baixista do grupo)
em 1985 e 1987.
Em qualquer segmento, Tavinho Paes fazia letras coloquiais
que versavam sobre amor, desejo e sexo sem culpa. Libertária e por vezes
marginal, a obra musical do poeta pop captou as loucuras e o vale-tudo da
década de 1980. Rumba louca, aliás, foi o título da parceria
de Paes com Moacir Albuquerque gravada em 1983 por Gal Costa (1945 – 2022).
Finda a era pop dos anos 1980, na qual teve até música
lançada por Xuxa em 1986 (She-ra, parceria do letrista com Joe),
Paes emplacou Sexy yemanjá em 1993. Pepeu Gomes é o
parceiro de Paes na música veiculada na abertura da novela Mulheres
de areia (Globo, 1993) na gravação original feita pelo próprio
Pepeu.
Dentro dessa diversidade pop, Tavinho Paes construiu obra
desencanada, movida pelo espírito jovial que animava o poeta e letrista que
hoje sai de cena, já imortalizado pelos versos que escreveu e que ainda ecoarão
através dos tempos.
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