Anistia de Bolsonaro e do 8 de Janeiro vai animar mais
terroristas
Ataque do suposto lobo solitário resulta de movimento de
golpe inspirado pelo ex-presidente
Um item central do projeto golpista de Jair
Bolsonaro era o ataque ao Supremo Tribunal Federal, o STF, e ao Tribunal
Superior Eleitoral. Um terrorista tentou atacar também o STF nesta quarta.
Colocou explosivos na praça dos Três Poderes, alvo de multidões da intentona
bolsonarista de 8 de Janeiro de 2023. Em dezembro de 2022, depois da eleição, a
capital do país já havia sido objeto de outras tentativas terroristas.
O suposto lobo solitário que atacou a praça dos Três Poderes
é sobra de um movimento antigo e amplo, o golpe pregado por Bolsonaro e
organizado por seguidores e assessores, sob inspiração do ex-presidente.
Tal movimento e seu ideário ficaram
evidentes em manifestações de rua a favor de intervenção militar e do
fechamento do STF ou em acampamentos bolsonaristas, o mais notório deles diante
do Quartel General do Exército, em Brasília, e no
8 de Janeiro. Houve também ataques como bloqueios de estradas e vandalismos.
O plano de anistiar os criminosos do 8 de Janeiro é uma
tentativa de absolver parte dos militantes e organizadores desse plano
golpista. É parte do plano principal, que é absolver Bolsonaro e talvez também
militares e autoridades de seu governo que tramaram
contra a democracia.
A impunidade será um incentivo a golpistas e terroristas,
plasmados pelo ideário de Bolsonaro e organizados e financiados por seus
seguidores, repita-se, fora e dentro de seu governo. Essa concessão à violência
pode levar mais terroristas para a rua e reanimar o golpismo.
Na Presidência, Bolsonaro acusou ministros do STF e TSE de
conluio contra seu governo e seus seguidores. Prometeu em público descumprir
decisões do STF. Ameaçou ministros de "problema", caso não se
enquadrassem. Disse que os ministros do STF "estupraram" a
Constituição ao garantir a estados e municípios o direito de tomar providências
contra a epidemia de Covid.
Bolsonaro prometeu em público que não haveria eleição em
2022 caso as urnas não fossem "auditáveis" ou se não houvesse voto
impresso. Afirmou em público que as eleições de 2014 e 2018 foram fraudadas.
Bolsonaro participou de manifestações que pediam o fechamento do STF e
intervenção militar.
Em reunião ministerial de 2020, disse que queria "fazer
cumprir o artigo 142 da Constituição. Todo mundo quer fazer cumprir o artigo
142 da Constituição. E, havendo necessidade, qualquer dos Poderes pode, né?
Pedir às Forças Armadas que intervenham para restabelecer a ordem no
Brasil". A ideia de intervenção militar se disseminou ainda mais, por
células e redes da militância bolsonarista e da extrema direita em geral. Além
do mais, Bolsonaro tentou politizar as Forças Armadas, com algum sucesso.
Em fins de 2022, houve tentativa final de implementar tal
projeto. Ministros e militares próximos de Bolsonaro preparavam farsa legal a
fim de legitimar um movimento golpista, que impediria a transição de governo
determinada pela eleição de 2022.
A mera tentativa de crimes de tal ordem era motivo de
impeachment. Bolsonaro ficou impune. Um dos motivos do salvo-conduto foi a
conivência da maioria do Congresso, que recebeu poderes de governo executivo e
grosso dinheiro do resto livre do Orçamento da República, apropriados por
parlamentares para seu uso político e sem prestação de contas decente. Muitos
deles querem seu padrinho de volta.
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