sábado, 23 de novembro de 2024

DEPOIS DE BOLSONARO

Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo

Diante do agravamento da situação jurídica do ex-presidente, direita brasileira terá de reposicionar-se

É sempre arriscado fazer prognósticos envolvendo a Justiça brasileira, mas, ao que tudo indica, Jair Bolsonaro já era. Agora, só por milagre sua inelegibilidade será revertida e são grandes as chances de que, até 2026, ele já tenha sido julgado e condenado pelo STF por tentativa de golpe de Estado. Se Deus existir e for democrata, o ex-presidente estará atrás das grades. Para onde irão os bolsonaristas sem Bolsonaro?

A direita não irá embora. A parcela mais radical desse grupo continuará recorrendo a narrativas delirantes, segundo as quais o ex-presidente é praticamente um santo que é injustamente perseguido por um STF com apetites ditatoriais. Não parece haver argumento fático possível que faça os bolsonaristas irredutíveis mudarem de posição.

Esse grupo, contudo, está longe de ser majoritário. O que possibilitou a vitória eleitoral do capitão reformado em 2018 e o manteve como candidato competitivo em 2022 é que aos extremistas juntou-se um contingente de eleitores e também de políticos que, embora permeável à realidade, não via Bolsonaro como uma ameaça institucional e/ou o considerava preferível à alternativa, que era a candidatura de esquerda.

Vimos um fenômeno análogo a esse agora na reeleição de Donald Trump. A maior parte dos eleitores americanos julgou que o envolvimento do magnata no ataque ao Capitólio não o desqualificava para retornar ao poder.

Sem Bolsonaro na parada, a direita brasileira, notadamente os políticos que em algum momento caminharam com o ex-presidente, terá de reposicionar-se. Poderá fazê-lo de forma a reforçar a institucionalidade, isto é, condenando de modo inequívoco a conjura, ou poderá fingir que o que aconteceu nos subterrâneos de Brasília não foi importante ou carece de provas. Muitos temem afastar os bolsonaristas convictos, que, embora minoritários, permanecem eleitoralmente relevantes.

A patética manifestação do governador Tarcísio de Freitas, em que ele esboça uma defesa de Bolsonaro, ilustra com perfeição o dilema da direita.

O excesso de pragmatismo pode ser fatal.

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