Diante do agravamento da situação jurídica do
ex-presidente, direita brasileira terá de reposicionar-se
É sempre arriscado fazer prognósticos envolvendo a Justiça
brasileira, mas, ao que tudo indica, Jair
Bolsonaro já era. Agora, só por milagre sua inelegibilidade será
revertida e são grandes as chances de que, até 2026, ele já tenha sido julgado
e condenado pelo STF por
tentativa de golpe de Estado. Se Deus existir e for democrata, o ex-presidente
estará atrás das grades. Para onde irão os bolsonaristas sem Bolsonaro?
A direita não irá embora. A parcela mais radical desse grupo
continuará recorrendo a narrativas delirantes, segundo as quais o ex-presidente
é praticamente um santo que é injustamente perseguido por um STF com apetites
ditatoriais. Não parece haver argumento fático possível que faça os
bolsonaristas irredutíveis mudarem de posição.
Esse grupo, contudo, está longe de ser
majoritário. O que possibilitou a vitória eleitoral do capitão reformado em
2018 e o manteve como candidato competitivo em 2022 é que aos extremistas
juntou-se um contingente de eleitores e também de políticos que, embora
permeável à realidade, não via Bolsonaro como uma ameaça institucional e/ou o
considerava preferível à alternativa, que era a candidatura de esquerda.
Vimos um fenômeno análogo a esse agora na reeleição de
Donald Trump. A maior parte dos eleitores americanos julgou que o envolvimento
do magnata no ataque ao Capitólio não o desqualificava para retornar ao poder.
Sem Bolsonaro na parada, a direita brasileira, notadamente
os políticos que em algum momento caminharam com o ex-presidente, terá de
reposicionar-se. Poderá fazê-lo de forma a reforçar a institucionalidade, isto
é, condenando de modo inequívoco a conjura, ou poderá fingir que o que
aconteceu nos subterrâneos de Brasília não foi importante ou carece de provas.
Muitos temem afastar os bolsonaristas convictos, que, embora minoritários,
permanecem eleitoralmente relevantes.
A patética manifestação do governador Tarcísio
de Freitas, em que ele esboça uma defesa de Bolsonaro, ilustra com
perfeição o dilema da direita.
O excesso de pragmatismo pode ser fatal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário