Diante de uma linha divisória tão nítida, alguns já
escolheram ser apenas bolsonaristas
Há anos, o bolsonarismo faz a exibição de escabrosidades que
testam os limites das elites políticas de direita. Pode ser uma defesa
apaixonada da tortura, uma manifestação sombria de apreço pela ditadura, a
sabotagem à vacinação, uma cruzada pela destruição institucional ou um extravio
de joias milionárias vendidas
como muamba.
Com a ressalva de um punhado de deserções, a fidelidade e o
entusiasmo da direita por Jair
Bolsonaro se mostraram mais do que firmes. Sobreviveram, inclusive, a
uma derrota nas urnas atribuída a seu radicalismo. Por devoção genuína a esses
princípios ou pragmatismo puro, os principais líderes políticos desse campo
ficaram ao lado de um ex-presidente que nunca escondeu quem era.
Um atentado,
um plano de assassinato e um indiciamento por tentativa de golpe estabelecem
uma linha divisória definitiva. De um lado, fica delimitada a direita, que pode
ser mais ou menos conservadora, mas segue regras civilizacionais e
democráticas. Do outro, está o bolsonarismo.
A sobrevivência de Jair Bolsonaro será a bandeira única de
seu grupo a partir de agora. Estará ancorada numa guerra cada vez mais dura com
o STF e na insistência de uma candidatura do ex-presidente, mesmo que esteja
impedido de disputar. O que resta da direita, por sua vez, deveria cuidar da
própria vida como uma força política independente.
A turma de Bolsonaro tenta confundir as duas coisas, com o
objetivo de convencer políticos que correm na raia da direita, dos extremistas
aos tradicionais, de que o ex-presidente é um líder imprescindível. Quando a PF
revelou o plano para matar Lula e Alexandre de Moraes, o vereador Carlos
Bolsonaro perguntou por onde andava "o tal Pablo Marçal"
naquele momento delicado em que a direita deveria estar unida.
O filho do ex-presidente mirou em Marçal para acertar gente
como Tarcísio
de Freitas, que se mostra dependente do capitão, mas flerta com a ideia de
um voo solo. O governador de São Paulo,
que tenta desfilar com um figurino da direita tradicional, vestiu
a farda do bolsonarismo: defendeu o padrinho e aderiu à cegueira deliberada
diante das provas contra o ex-presidente. Com a fronteira traçada, ele escolheu
seu lado.
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