Gangue do Punhal Verde Amarelo era inepta, mas esse é o
padrão de ataque à democracia
O plano de golpe dos militares bolsonaristas foi
"fanfarronada", disse o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS),
ex-vice de Jair Bolsonaro e general de Exército. Bravata, coisa de quem
fantasia ter força. O plano "Punhal Verde Amarelo", de matar Lula,
Alckmin e Alexandre de Moraes seria "sem pé nem cabeça".
Mourão acertou, sem querer. Tosco é o termo benigno para
descrever o grupo. Um general de Brigada, Mario Fernandes, alto funcionário do
Planalto, era líder operacional do bando e de parte da malta do 8 de
Janeiro. Perambulava na noite do palácio para imprimir um "plano
infalível" de golpe, como gênio burocrata do mal de filme "D"
(não tinha fax?). Coronéis e majores parecem semiletrados, de baixa
qualificação profissional e moral, gente vulgar, boca-suja, violenta e
paranoica.
Parece, portanto, o governo Bolsonaro. Tosco e daninho.
Recorde-se a reunião ministerial de 22 de
abril de 2020 aquela em que Bolsonaro exige
que se meta a mão na polícia e na espionagem, para livrar a própria cara e a da
família. São os mesmos sinais de despreparo, de perturbação psicológica,
ressentimentos doentios, alguns violentos; são os mesmos modos
desclassificados. Havia loucos ignaros. Por exemplo, Bolsonaro e parte de sua
equipe econômica diziam que logo arrumariam R$ 1 trilhão, com o que as contas
do governo e estabilidade estariam resolvidas.
Por falar em palhaçada grosseira e sinistra, houve Jânio
Quadros (1961) e seu autogolpe frustrado. Houve o improviso, o cesarismo
alucinado, o confisco e a roubança de Fernando Collor (1990-92), que deu calote
na dívida pública, apoiado por empresários e liberais. A farsa tosca que
termina em tragédia não é uma anomalia. É um padrão, um projeto recorrente.
A quadrilha do "Punhal Verde Amarelo" faz lembrar
também do terrorismo militar dos anos 1950. Em fevereiro de 1956, dez dias
depois da posse de Juscelino Kubitschek, o major Haroldo Veloso e o capitão
José Lameirão, da FAB, roubaram um avião militar carregado de armas e tomaram
cidades e vilas do sudoeste do Pará. Era a revolta de Jacareacanga. Esperavam
provocar guerra civil e a derrubada de JK, que quase não tomara posse por causa
da tentativa de golpe de UDN e militares, em 1955.
Pela "governabilidade", JK anistiou os golpistas
ainda em março de 1956. Veloso voltaria ao terrorismo em 1959 (revolta de
Aragarças). Vários deles participaram do terror e da tortura da ditadura de
1964. Era projeto antigo. Um golpe
militar depusera Getúlio Vargas em 1954, mas GV revidou com o
suicídio. O fracasso golpista ficou entalado na garganta até 1964.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de
Bolsonaro, estava a caminho do generalato. No final do governo das trevas, foi
nomeado para comando de tropa importante —Lula teve de demitir o comandante do
Exército a fim evitar a armação.
Cid havia sido o nó central do golpismo, além de falsário,
mentiroso, muambeiro etc. Ele e colegas estudaram "intervenção
militar" na escola de pós-graduação do Exército (artigo 142 da
Constituição). Mais um tosco e golpista no centro do poder.
O centrão e o direitão quase inteiro do Congresso se calam
sobre o golpe, em parte ocupados com emendas, eleição de Câmara e Senado e
porque querem evitar a discussão de 2026. Ou falam de "toscos". Serão
cúmplices de um golpismo de longa história.
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