Além do presidente Lula, quem muito se beneficia
eleitoralmente da situação de Bolsonaro é o governador de Goiás, pré-candidato
a presidente da República em 2026
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está irremediavelmente
fora das eleições presidenciais de 2026. Ao ser indiciado pela Polícia Federal
como líder da organização criminosa que planejou um golpe de Estado para
mantê-lo no poder, após a derrota nas eleições de 2022, a estratégia que vinha
sendo implementada pelo PL para aprovar uma anistia aos participantes do 8 de
janeiro de 2023 e, no embalo, reverter a inelegibilidade de Bolsonaro, não tem
chance de dar certo.
Bolsonaro está sendo abandonado pelos aliados, inclusive os
que apoiou nas últimas eleições, como o prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP), que
tomou distância regulamentar do ex-presidente já no dia em que foi anunciado o
resultado das eleições. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR),
que chegou a classificar o indiciamento como “carente de provas” e argumentar
que Bolsonaro respeitou o resultado da eleição, na mesma entrevista,
espertamente, fez a ressalva de que as investigações deveriam ser conduzidas
com “responsabilidade e foco na verdade dos fatos”.
A situação de Bolsonaro se complicou ainda
mais após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF),
responsável pelo inquérito, ter quebrado o sigilo do relatório da PF. O
ex-presidente e mais 36 pessoas foram indiciados por três crimes: tentativa de
golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e organização
criminosa. Segundo a PF, o golpe planejado por Bolsonaro só não se concretizou
por “circunstâncias alheias à sua vontade”.
A PF garante ter provas de que Bolsonaro “planejou, atuou e
teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela
organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de Estado e da
abolição do Estado Democrático de Direito”. A PF também acusa Bolsonaro de ter
conhecimento do plano elaborado por militares do seu círculo de colaboradores
para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente
Geraldo Alckmin e Moraes.
Segundo as investigações da PF, que realizou uma operação na
semana passada na qual foram presos cinco militares envolvidos na preparação do
assassinato, entre os quais um general, as evidências colhidas indicam que Jair
Bolsonaro tinha pleno conhecimento do planejamento operacional (Punhal Verde e
Amarelo), bem como das ações clandestinas praticadas sob o codinome “Copa
2022”, o plano para sequestrar Moraes. São os registros de entrada e saída de
visitantes do Palácio do Alvorada, conteúdo de diálogos entre interlocutores de
seu núcleo próximo, análise de ERBs (antenas de telefonia celular), datas e
locais de reuniões.
Os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, ambos
ex-ministros de Bolsonaro, também acusados no inquérito, negam participação nos
fatos, e seus advogados já pediram vista do processo, o que foi concedido por
Moraes. Estão no vértice do organograma da tentativa de golpe montado pelos
investigadores. Mas é o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e
braço direito de Bolsonaro, que fez um acordo de delação premiada no inquérito,
o personagem capaz de complicar ainda mais a vida de Bolsonaro.
Eleições presidenciais
Seu depoimento continua em sigilo, porque as investigações
continuam. Durante dois anos de apurações, a PF obteve provas por meio da
quebra de sigilos telemático, telefônico, bancário, fiscal, colaboração
premiada, buscas e apreensões, entre outras medidas autorizadas pelo Poder
Judiciário. Haveria uma divisão de tarefas, agrupadas pela PF em seis núcleos:
o de desinformação e ataques ao sistema eleitoral; o responsável por incitar
militares a aderirem ao golpe de Estado; o núcleo jurídico; o operacional de
apoio às ações golpistas; o núcleo de inteligência paralela; e o de oficiais de
alta patente. Mauro Cid teria participação em pelo menos três deles, ou seja,
sabia de quase tudo. Por isso, sua delação foi mantida, mesmo tendo ocultado
inicialmente a existência do plano para matar Lula, Alckmin e Moraes.
Além do presidente Lula, quem muito se beneficia da situação
de Bolsonaro, em termos eleitorais, é o governador de Goiás, Ronaldo Caiado
(União-GO), pré-candidato a presidente da República em 2026. Caiado é
remanescente da disputa eleitoral de 1989, a primeira eleição direta para a
Presidência depois da redemocratização, na qual foi eleito o presidente
Fernando Collor de Mello, numa disputa com Lula no segundo turno. Bem avaliado
pelos eleitores goianos, Caiado protagonizou uma disputa eleitoral com Bolsonaro
nas eleições da capital goiana, na qual seu candidato Sandro Mabel, seu aliado
histórico, se elegeu prefeito, contra Fred Rodrigues (PL), um aliado do
ex-presidente.
Caiado despontou na política como jovem integrante da União
Democrática Ruralista (UDR), que ainda hoje reúne lideranças do agronegócio.
Hoje, é uma pedra no sapato de Bolsonaro, que pretende se lançar candidato
mesmo estando inelegível, com objetivo de manter suas bases mobilizadas e, caso
não consiga recuperar a elegibilidade, apoiar seu filho, Eduardo Bolsonaro
(PL), deputado federal por São Paulo. Quem se finge de morto é Tarcísio de
Freitas, que nega a intenção de ser candidato em 2026, mas pode também mudar de
ideia, se receber o apoio de Bolsonaro, caso Lula esteja muito enfraquecido.
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