O plano pode ter sido levado a Bolsonaro para sua rubrica
em cada página e assinatura na última
Alguém já perguntou certa vez: "Suponha que você dê uma
revolução e ninguém apareça?". Em novembro de 1935, levantes precipitados
no Nordeste fizeram Luiz
Carlos Prestes, com menos de 100 seguidores, tentar um golpe armado no Rio
contra o governo de Getulio
Vargas. O golpe fracassou —as tropas que deveriam se insurgir nos quartéis
não acharam boa ideia e as grandes massas, sem saber de nada, também não se
mexeram. Getulio aproveitou para prender e torturar milhares em todo o país.
A casa em que Prestes e Olga Benario se
escondiam em Ipanema foi estourada pela polícia. Eles tinham fugido minutos
antes, deixando para trás um cofre contendo documentos descrevendo cada etapa
da operação, estratégias, nomes dos camaradas, seus cargos e atribuições e até
o manifesto a ser lido no dia da vitória. Na casa de outro envolvido, o infeliz
Harry Berger, talvez o preso político mais torturado do Brasil, encontraram-se
também cartas, mapas, planos de ação, mensagens em código e até a chave do
código. Era como se, um dia, um historiador fosse usar aquilo para descrever a
revolução brasileira.
Pode ter sido esta a intenção dos golpistas de Bolsonaro,
os "kids
pretos", ao produzir tantas provas contra eles mesmos —deixar o
material prontinho para seus futuros biógrafos. Infelizmente, a Polícia Federal
chegou antes e melou tudo. Em 2022, já tivemos aquela tosca minuta
de golpe que circulou alegremente por Brasília e só faltou ser
distribuída nas ruas como flyers. Desta vez, os conspiradores produziram o
arquivo "Punhal Verde Amarelo", um plano
para matar Lula, Alckmin e Moraes.
Nele estão discriminados os fuzis,
metralhadoras, pistolas, lança-rojões, lança-granadas, coletes à prova de
balas, rádios, celulares, fotos, áudios e dados de geolocalização e o
monitoramento dos alvos e de seus seguranças, para passar todo mundo na bala.
Muito mais complexo e inspirado.
As cópias do arquivo foram impressas no Palácio do Planalto
e levadas para uma reunião no Alvorada onde, olha só, encontrava-se Bolsonaro
—talvez para sua rubrica em cada página e assinatura na última.
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