Os envolvidos na trama golpista estavam em postos
estratégicos, alguns até recentemente. É preciso apurar e punir todos
O general Nilton Diniz Rodrigues chefiava até quinta-feira a
2ª Brigada de Infantaria de Selva de São Gabriel da Cachoeira. Na sexta-feira,
foi substituído. À época dos fatos, ele era assessor direto do comandante do
Exército, Freire Gomes. O coronel Fabrício Moreira Bastos foi chamado de volta
de Israel, onde era adido militar, na sexta-feira. Ambos foram indiciados e vão
ficar em funções administrativas aguardando os acontecimentos. O
tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo era oficial do Estado-Maior prestando
assessoramento ao comando de Operações Especiais. Não foi indiciado, mas preso
na terça-feira e afastado das funções. Nomes como Braga Netto, Augusto Heleno e
Paulo Sérgio Nogueira chamam mais a atenção, mas o que realmente preocupa o
Exército são os da ativa.
Rodrigo Azevedo pode vir a ser indiciado.
Mas ele é um preso “novo”, digamos assim. Nunca havia sido alvo de nenhuma
operação. Foi o maior espanto dentro do Exército, na operação da terça-feira,
porque os outros já eram visados desde a “Tempus Veritatis”, ocorrida em
fevereiro. Azevedo não. Ele não foi ouvido ainda e, por isso, não foi
indiciado. As suspeitas sobre ele são de que participou do evento “Copa 2022”,
uma conspiração para matar autoridades. Duas semanas depois do cerco feito a
Moraes, ele colocou um chip com o seu número em um celular com o IMEI que havia
sido usado pela pessoa com codinome “Brasil”. O celular usou outros chips
cadastrados em nome de terceiras pessoas e as informações das Estações Rádio
Base localizam o aparelho nas imediações da sua casa em Goiânia. Precisa ter
explicações para esses e outros indícios.
A contaminação das Forças Armadas exibida agora mostra que o
golpismo estimulado por Jair
Bolsonaro foi longe. O almirante Almir Garnier, indiciado, aceitou
participar do golpe quando era comandante da Marinha. Certamente, não era o
único na Força a pensar assim, mas o que se diz na Marinha é que ele estava
isolado.
No Exército, os conspiradores buscavam bons postos. Mauro Cid teria
ido no ano passado para o comando do 1o Batalhão de Ações e Comandos, Unidade
de Operações Especiais, em Goiânia, se o presidente Lula não tivesse
interferido e demitido o então comandante do Exército, o general Júlio Cesar de
Arruda, que insistia no nome de Cid. Dá uma ideia do tamanho do risco que o
Brasil continuou correndo mesmo após o 8 de janeiro. Tropas a duas horas de
Brasília sob o comando de Mauro Cid. Imagina só.
O coronel Hélio Ferreira Lima, quando foi alcançado pela
“Tempus Veritatis”, em fevereiro, comandava a Companhia de Forças Especiais em
Manaus. Foi afastado, ficou em função administrativa e preso no Rio na última
terça. O coronel Bernardo Romão Corrêa Neto foi o responsável por chamar outros
“kids pretos” para reunião em Brasília. Foi preso em fevereiro, solto e, agora,
novamente preso.
Dentro do Exército também houve investigação, porque o que
se quer, segundo eu apurei, é que tudo se esclareça e que sejam punidos os
responsáveis. Um inquérito policial militar no Exército concluiu que 37
militares estavam envolvidos na “Carta ao Comandante do Exército”, em que
oficiais superiores instigavam seus comandantes ao golpe. Três coronéis foram
indiciados e um ainda está sob investigação.
Os golpistas estavam no comando no governo Bolsonaro. Eram o
chefe da Casa Civil, o ministro da Defesa, o chefe do GSI, o diretor-geral da
Abin, o ministro da Justiça, o diretor da Polícia Rodoviária Federal, o
comandante da Marinha, o chefe adjunto da Secretaria geral da presidência.
Mesmo o não indiciado general Luiz
Eduardo Ramos exibe até hoje posições extremadas e devoção a
Bolsonaro. O general Mourão, isolado pelas intrigas palacianas, é uma pessoa
que tem como herói o torturador Brilhante Ustra. Ou seja, mesmo quem não está
nos autos, estaria com Bolsonaro se fosse convocado.
É preciso usar esse processo como fundamento da normalização
da relação entre militares e civis. As Forças Armadas são fundamentais para o
país, mas é preciso encerrar para sempre a sua interferência na política. O
país esteve muito perto do abismo institucional e ainda não está em terreno
totalmente seguro. É essencial investigar tudo sobre a mais grave conspiração
militar desde a ditadura. E punir todos os culpados. A impunidade nos trouxe
até aqui. Quase 40 anos depois do fim da ditadura ainda tememos os mesmos
fantasmas que nos infelicitaram por duas décadas.
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