Em dezembro de 2022, George Washington de Oliveira Souza
pretendia explodir um caminhão de combustível perto do aeroporto de Brasília.
Esse cidadão havia comprado seis armas de fogo e disse que tinha explosivos
guardados. Durante os primeiros dias de 2023, convocava-se gente para o que
seria a “Festa da Selma”, em Brasília. A 8 de janeiro, centenas de pessoas
invadiram e depredaram o Supremo Tribunal Federal, o Congresso e o Palácio do
Planalto.
No início do segundo semestre deste ano, pipocaram pelo país
incêndios em matas, e a Polícia Federal abriu pelo menos 85 inquéritos para
investigar suas causas criminosas.
Finalmente, na quarta-feira passada, Francisco Wanderley
Luiz atirou uma bomba caseira diante do Supremo Tribunal Federal (STF) e em
seguida explodiu-se. O cidadão tinha militância política e em 2020 disputou uma
cadeira de vereador em Rio do Sul (SC), conseguindo 98 votos.
Há um surto terrorista no país. À primeira vista, é difuso.
Francisco Wanderley, por exemplo, seria um “lobo solitário”. As investigações
dirão se tinha cúmplices.
Infelizmente muitas investigações nacionais
são barulhentas ao serem anunciadas e silenciosas ao definhar. Até hoje não
apareceram as conexões dos suspeitos pelos incêndios criminosos, muito menos os
patrocinadores da greve de caminhoneiros de 2018.
As mensagens trocadas em janeiro de 2023 mostram que
centenas de pessoas discutiam a “Festa da Selma”. Nem todas invadiram os
palácios, e o inquérito do ministro Alexandre de Moraes revelou-se exemplar
encarcerando culpados. Caso raro de eficácia.
A presença do surto terrorista, difuso ou não, traz consigo
o perigo da culpabilização por associação. Uma pessoa que tenha ideias
parecidas com a de um terrorista seria também um criminoso. Esse tipo de
atitude aumenta a tensão política, embaralha as investigações e, em última
análise, ajuda os terroristas.
Fechando-se o foco, neutralizam-se os delinquentes.
Abrindo-o, amplia-se a rede de simpatizantes.
Às 12h30m do dia 22 de dezembro de 1963, o presidente John
Kennedy teve o crânio explodido em Dallas.
Às 13h22m a polícia chegou à janela de onde o assassino
havia atirado e encontrou seu rifle. Minutos depois, a quilômetros de
distância, o suspeito foi preso.
Chamava-se Lee Oswald, havia vivido na União Soviética e
correspondia-se com o Partido Comunista dos Estados Unidos. Dois meses antes,
no México, esteve nas embaixadas de Cuba e URSS.
Raciocinando-se por associação, a Terceira Guerra Mundial
teria começado no dia seguinte.
Tudo o que Lee Oswald havia feito na vida tinha dado errado,
menos uma coisa.
Anistia foi a pique
O projeto que pretende anistiar a turma do 8 de janeiro foi
a pique.
Para quem está trancado, resta torcer para que vá adiante
uma ideia do cacique Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Ele aposta em algum
tipo de advocacia auricular que consiga, do próprio Supremo Tribunal Federal,
uma redução das penas dos condenados.
Collor condenado
De um conhecedor dos labirintos do governo de Fernando
Collor (1990-1992), ao saber que o STF manteve sua condenação a 8 anos e 10
meses de cadeia, restando-lhe apenas um recurso em liberdade:
“Ele se manda.”
Gritzbach deixou um pista
Oito dias antes de ser fuzilado no aeroporto de Guarulhos,
Vinicius Gritzbach deu uma pista preciosa ao Ministério Público. Contou que um
operador do Primeiro Comando da Capital (PCC) era sócio de um policial em um
banco digital.
Quadrilhas não têm CNPJ, nem são obrigadas a identificar
seus sócios, mas os bancos digitais seguem normas do Banco Central e seus donos
são identificados.
Se Gritzbach estava falando a verdade, a força-tarefa que
investiga sua execução poderá chegar a um braço financeiro do PCC, com suas
operações.
O crime é federal
Referindo-se à execução de Gritzbach, o ministro da Justiça
e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que “num primeiro momento,
não existe nenhuma ideia de federalizar esse caso.”
Sabe-se lá quando virá o segundo momento, mas o empresário
fuzilado era um réu confesso e tinha relações milionárias com o Primeiro
Comando da Capital. O combate às organizações criminosas metidas em tráfico de
drogas é crime federal. Além disso, o PCC, ao contrário de alguns “bondes
nordestinos”, tem jurisdição nacional.
Se o Federal Bureau of Investigation americano respeitasse
melindres estaduais, a Máfia iria bem, obrigado.
Controle de gastos
Em 1889, o dia de hoje também era domingo. Na madrugada, a
família imperial foi embarcada para o desterro. Deposto, D. Pedro II exclamou:
“Os senhores são uns doidos.”
Dias depois, Rui Barbosa, o novo ministro da Fazenda,
anunciou que a República havia concedido ao velho monarca uma doação de 5 mil
contos.
Era a primeira falsa expectativa de um ministro da Fazenda
da República. D. Pedro II havia recusado o mimo.
(Na sua última semana, o Império discutiu um crédito de 6
mil contos para a seca do Norte do país.)
Rubio, Trump e Cuba
A escolha de Marco Rubio para o cargo de secretário de
Estado no governo de Donald Trump manda um sinal de perigo para o regime
cubano.
Rubio é filho de cubanos humildes que migraram para a
Flórida. Em 2009, ele disse que seus pais deixaram o país em 1959, depois da
tomada do poder por Fidel Castro. Falso, eles deixaram Cuba em 1956, durante o
governo de Fulgencio Batista. Fidel Castro e seus 74 expedicionários só
zarparam do México a bordo de um pequeno iate em novembro.
Nesses dias, Fidel e seu irmão Raul diziam que não eram
comunistas e esperavam por levantes em Cuba. Só entraram em Havana dois anos
depois.<EP,1>Rubio nasceu em 1971 e fez uma bem-sucedida e habilidosa
carreira política.
O declínio da qualidade de vida em Cuba, com apagões e falta
de divisas, deverá levar Trump a apertar os parafusos contra o regime.
Cuba tem um especial atrativo para Trump. Se a propriedade
privada for restabelecida em Cuba, a ilha terá uma explosão de bons negócios
imobiliários.
Campos Neto falou demais
Salvo na roupa que vestiu no dia da eleição presidencial, o
doutor Roberto Campos Neto passou pela presidência do Banco Central medindo
suas palavras com propriedade. Perto da hora de deixar a cadeira, errou a mão.
Tratando da PEC que altera o regime de jornadas de trabalho
disse que ela “é bastante prejudicial para o trabalhador, porque vai aumentar o
custo do trabalho e elevar a informalidade.”
Pode estar inteiramente certo, mas não compete ao presidente
do Banco Central dar aulas de economia ao Congresso Nacional.
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