Livro distingue liberdades negativas de positivas e toma
partido das segundas
Gostei de "On Freedom", de Timothy Snyder. Ele parte de uma distinção radical entre
liberdades negativas e positivas e toma partido das segundas.
Para Snyder, nós até podemos achar que somos livres quando o
Estado não nos impõe restrições, mas a verdadeira liberdade é muito mais do que
isso. Só somos realmente livres quando temos condições de fazer escolhas
significativas para nós mesmos e para as comunidades em que vivemos. A
liberdade é, para o autor, o valor que torna todos os outros valores possíveis.
Ao longo do livro, Snyder faz uma espécie de radiografia dos
domínios que ele entende necessários para que possamos desenvolver as
capacidades que nos permitirão tomar decisões de modo autônomo e fazer boas
escolhas. Aí entram vários ingredientes, como acesso a boa informação, empatia e algum tipo de proteção contra a
manipulação por algoritmos.
É difícil discordar da tese de que as liberdades positivas,
especialmente do jeito que o autor as descreve, formam um conjunto mais
completo (e tentador) que o oferecido pelas negativas. Creio, porém, que Snyder
foi rápido e veemente demais ao descartar as negativas como ilusão ou
propaganda direitista.
Snyder é um autor "hands on". Seu trabalho de
historiador com dissidentes do antigo bloco comunista da Europa Oriental o
levou a tornar-se um dos mais severos críticos dos novos autocratas. Acho que é
esse aspecto mais militante de sua trajetória que explica a virulência para com
as liberdades negativas. Elas acabaram se tornando bandeira de grupos radicais,
como trumpistas, muskitas, bolsonaristas e mileistas, e Snyder têm muitos e bons
motivos para opor-se a essa agenda.
Penso, contudo, que ele exagerou na dose. Um exemplo:
revogar as leis segregacionistas que vigoraram nos EUA entre fins do século 19
e os anos 1960 —caso incontroverso de liberdade negativa— foi um passo
fundamental, ainda que insuficiente, na luta contra o racismo.
E também não acho que seja tão simples descartar os riscos
que Isaiah Berlin mostrou existirem nas liberdades positivas.
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