Pai de muletas morto, filho de 4 anos também. PM de
Tarcísio precisa ser parada
Metralharam deficiente em fevereiro e o pobre menino que
brincava de bola em novembro. Ainda foram ao velório intimidar familiares. Não
é possível achar isso normal
Era 9 de fevereiro deste ano. Leonel Andrade Santos, de 36
anos, um homem com deficiência e que usava muletas, foi fuzilado por policiais
do COE (Comando de Operações Especiais), uma unidade de elite da PM paulista,
no Morro do São Bento, em Santos. A versão é de que ele estaria armado com
outro homem e atirado nos agentes. Era a famigerada “Operação Verão”, uma ação
orquestrada que durou mais de um mês na Baixada Santista, iniciada após o
assassinato de um PM numa área de diques da cidade litorânea, que terminou com
56 pessoas assassinadas pelas forças de segurança.
Agora, passados nove meses, em 6 de novembro, o filho dele
de quatro anos, Ryan da Silva Andrade Santos, brincava de bola na porta de
casa, no mesmo bairro, quando PMs entraram tresloucadamente no local,
disparando suas pistolas e fuzis, e acertaram o menino, “abrindo um buraco na
barriga” dele, segundo a mãe. Depois de um país comovido e com menos de dois
dias transcorridos, no velório da criança aparecem viaturas de unidades de
elite da corporação que o assassinou, à luz do dia, de onde saem policiais que
passam a intimidar e ameaçar os familiares do garoto, apontando até um fuzil
para um repórter fotográfico do jornal carioca O Globo.
Já vimos governos estaduais de variados tipos no Brasil, com
governadores “soltando” mais ou menos a PM para aterrorizar a população,
sobretudo a mais pobre. Só que o que vem ocorrendo em São Paulo nos últimos
dois anos, com a chegada do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao
Palácio dos Bandeirantes, é algo totalmente fora da curva. A PM é ovacionada,
premiada, homenageada e bajulada para matar indiscriminadamente, como se o
Estado de Direito nunca tivesse existido no país.
Tarcísio usa um aparato miliciano (e aqui sem o sentido
pejorativo dado ao termo) como um instrumento político descarado e vergonhoso.
Com frações do eleitorado cada vez mais violentas e sedentas por agressividade,
a PM é uma espécie de coringa que o governador carioca de São Paulo carrega na
manga para usar como insuflador de popularidade. Ao menor sinal de que precisa
aparecer e ser aplaudido, ele solta a tropa para cometer os habituais
morticínios sem sentido, em especial na Baixada Santista, região que sofre nas
mãos do crime organizado de uma maneira diferente e mais acentuada.
Utilizar o terror e o sangue (literalmente) de cidadãos de
áreas precárias dos centros urbanos para posar de paquita de grupos
ultrarreacionários, formados sobretudo por uma classe média alta desprezível e
por segmentos sequestrados pelo bolsonarismo de outras camadas populares, é uma
tática nojenta e inaceitável. Não se sabe quem, mas alguém precisa parar a PM
de Tarcísio e colocar o mínimo de critério nas ações violentas que o governador
vem patrocinando em São Paulo.
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