Cláudio Castro interrompeu o almoço de Natal para berrar
nas redes sociais. Na tarde do dia 25, o governador esbravejou contra a
criação de regras para o uso da força pelas polícias. “Sabem quem ganhou um
presentão de Natal? A bandidagem, no país inteiro! Parabéns aos envolvidos!!!”,
esgoelou-se.
O bolsonarista se esforçou para transmitir revolta. Em três
tuítes, despejou nove pontos de exclamação. Além de maltratar o idioma, passou
a ideia de que os agentes do Estado deveriam ter licença para matar.
Castro está invocado com um decreto
elaborado pelo Ministério da Justiça e publicado no Diário Oficial desta terça.
O texto afirma que as polícias devem atuar com “bom senso, prudência e
equilíbrio”. Acrescenta que as armas de fogo só devem ser usadas como “último
recurso”. As normas dizem o óbvio, mas irritaram quem aposta na política do
bangue-bangue.
O governador do Rio não foi o único a reclamar. Ronaldo
Caiado, de Goiás, e Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, também discursaram
contras as novas regras. Os três atacaram o decreto para agradar as corporações
policiais e ganhar pontos com eleitores de extrema direita. Faltou lembrar as
vítimas inocentes da selvageria fardada.
Na noite do dia 24, a agente comunitária Juliana Leite
Rangel se juntou a essa triste estatística. A jovem de 26 anos trafegava pela
BR-040 a caminho da ceia de Natal. Ao passar por Duque de Caxias, o carro da
família foi metralhado por agentes da Polícia Rodoviária Federal.
Juliana levou um tiro
na cabeça e foi internada em estado gravíssimo. Em depoimento, os
policiais disseram ter disparado porque pensaram estar diante de bandidos. O
episódio mostra que o uso abusivo da força e o desdém pelos protocolos de
abordagem não são exclusividade das polícias militares.
O ministro Ricardo Lewandowski condenou a ação e disse que o
Estado “não pode combater a criminalidade cometendo crimes”. Ainda falta punir
os agentes, mas reconhecer o problema é melhor que tentar escondê-lo.
Em entrevista recente ao GLOBO, Castro culpou o governo federal, os tribunais e até as leis pela crise da segurança no Rio. Questionado sobre a sua parcela de responsabilidade, respondeu: “Sinceramente, nenhuma”. Haja exclamação para tanta imodéstia.
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