Por ser fim de ano, época que nossos leitores ficam de
férias e acabam por esquecer esse valoroso blog, fazemos aqui uma pequena
miscelânea de sugestões;
1. O livro O Jovem Maquiavel, de
Newton Bignotto, merece uma leitura não só por parte dos já iniciados em Teoria
Política ou História, como também serve como porta de entrada ou de complemento
para aquele que começou a conhecer o pai da Ciência Política a partir da
leitura de O Príncipe. Bignotto nos oferece um panorama histórico da
Florença e dos conceitos que forjaram Maquiavel como homem da ação enquanto
diplomata e mais tarde, como escritor de um dos livros mais importantes do
Ocidente ou do Norte Global.
2. A série Round 6 –
parte 2 estreou no dia 26. Adepta do sistema de mexer em time que está
ganhando, houve poucas inovações no atacado, mas com certa variedade no varejo.
Assim como na temporada anterior, há arquétipos contemporâneos como o jovem
rapper e o jovem influencer; uma discussão sobre gênero e transfobia e
misoginia. A contundente crítica ao mercado, ao tratamento de párias sociais
para os sem condições econômicas, a questão do endividamento pessoal, a
juventude e a velhice desamparadas estão lá no moinho satânico, usando aqui
famosa metáfora criada por Karl Polanyi. Para quem gosta de Filosofia Política
e afins, há uma provocação: Hobbes e Locke de um lado, Durkheim e Rousseau, de
outro. Individualismo possessivo, competividade, estado da natureza anômico x
solidariedade, cooperação, democracia participativa de onde “pequenos
sacrifícios para um bem maior” é uma bela discussão. Lembremos que a Coreia do
Sul era e é uma das disneylândias do mercado (da educação, do entretenimento).
Mais uma vez, a série mostra os efeitos colaterais da política econômica de um
país que acabou de sair de uma tentativa de golpe de Estado.
3. Clint Eastwood, com 94 anos, dirigiu o filme “Jurado
n. 2”. Mais assustador e espantoso que a política da Warner em lançar o filme
do diretor - que atuou ou dirigiu filmes para o estúdio como “Os Imperdoáveis”,
“Bird”, “Sobre Meninos e Lobos”, “Menina de Ouro”, “Cartas de Iwo Jima” -
direto no streaming (Max), é o vigor do seu trabalho. Uma das marcas de Clint é
fazer filmes com protagonistas no seu limite e com dilemas morais.
Ele usa um subgênero tipicamente americano, o filme de
tribunal, para um amplo arco que está inserido a convocação para os eleitores
votarem num sistema de voto facultativo; a questão do judiciário local (tema
caro a um pensador do quilate de A. de Tocqueville) eleito pela cidade e a
necessidade do punitivismo para amealhar votos; o misto de “12 homens e uma
sentença” e “Investigação de um cidadão acima de qualquer suspeita” no enredo
que vai para um caminho ético de pesada reflexão; além de ter um elenco muito
afinado e com excelente atuação de Nicholas Hoult, cujo personagem nos remete
ao apóstolo Paulo: “Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não
quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e
sim o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei: quando quero fazer o
bem, o mal reside em mim.”
4. O filme Witched trata de uma questão de origem: o que fez
a bruxa má do Oeste ser má? O filme poderia ter menos 30 minutos para dar conta
do seu recado. É mais um filme que se diz infantil, mas é para os responsáveis
dos infantes. Há questões como o racismo, na metáfora à segregação a uma jovem
verde. Mas vai além. O bode velho que nos é apresentado é um professor de
história que fala para os mais jovens acerca do perigo de não se estudar
História, pois podemos cometer erros que podem ser irrecuperáveis. A
perseguição aos animais docentes é sobre o fascismo, assim como os macacos
alados são os drones e câmeras de vigilância. O elenco é dedicado, mas o grande
destaque é Ariana Grande que, tal qual Lady Gaga, pode ir longe na atuação.
5. Por fim, o destaque para mais dois livros: A fé
e o fuzil (2023), de Bruno Paes Manso. Um livro obrigatório para quem
estuda religião, violência e, principalmente, para os cariocas. Salta das
páginas a ausência de um pensamento acadêmico unido a uma política pública
desde o século passado. A narcomilícia e o Complexo de Israel não surgiram por
acaso e nem ontem. O outro livro é Por que a democracia brasileira não
morreu?, de Marcus André Melo e Carlos Pereira. Nele, os dois cientistas
políticos desfazem mitos sobre uma crise institucional no Brasil nesse século e
tem prognósticos poderosos, como a necessidade de um governo de coalizão saber
dividir o poder, como na formação de um ministério. Por mais interessante que
tenha sido o desenho institucional criado pela Carta de 1988, ele não dá conta
da governabilidade. A ética da convicção deve se render à ética da
responsabilidade.
Por um ano mais inclusivo, democrático e amoroso para todas
e todos.
*Doutorando em PPGCP-UNIRIO e
professor da educação básica das cidades de Saquarema e do Rio de Janeiro.
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