Com palavras e ações, governador de São Paulo estimulou
polícia a atuar fora da lei
Tarcísio de Freitas prometeu investigar e punir os
protagonistas dos novos casos de barbárie policial em São Paulo. O governador
se disse contrariado com os PMs que mataram um homem pelas costas e atiraram
outro de uma ponte. Os agentes devem estar surpresos com a súbita reprovação do
chefe.
Tarcísio entregou a Segurança Pública a Guilherme Derrite,
um capitão que conseguiu ser afastado da Rota por excesso de violência. Como
secretário, ele mudou normas para proteger PMs acusados de praticar crimes.
Disse que não queria punir quem “tira bandido de circulação”.
No início do ano, a polícia paulista produziu sua maior
carnificina desde o Massacre do Carandiru. A chamada Operação Verão espalhou
terror na Baixada Santista e deixou um saldo de 56 mortos. Os agentes taparam
as câmeras corporais para não gravarem as execuções sumárias, mas foram
premiados com elogios
do governador.
Em novembro, a PM de Derrite matou Ryan da
Silva Andrade Santos, de 4 anos. No dia seguinte, soldados invadiram o enterro
para intimidar a família do menino. Em resposta às críticas, Derrite esvaziou a
Ouvidoria das Polícias, que apura abusos de agentes do Estado.
Os casos que vieram à tona nesta semana são chocantes até
para os padrões do governo Tarcísio. Um PM de folga executou Gabriel Renan da
Silva Soares na porta de um supermercado no Jardim Prudência, na periferia
paulistana. O rapaz estava desarmado e era suspeito de furtar três refis de
sabão líquido. Depois de matá-lo com 11 tiros, o policial alegou legítima
defesa.
Na Cidade Ademar, também na zona sul, PMs interceptaram um
motoqueiro numa blitz. Um dos agentes segurou o homem pelas costas e o
arremessou do alto de uma ponte. Ele se machucou na queda, mas sobreviveu.
Treze policiais participaram da batida, e nenhum deles relatou o fato às
autoridades.
Em março, Tarcísio zombou das queixas contra a violência da
PM. “O pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça ou no raio que o parta, que
eu não tô nem aí”, debochou. Com palavras e ações, o governador bolsonarista
incentivou a tropa a atuar fora da lei. Agora tenta se descolar da barbárie que
estimulou.
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