terça-feira, 31 de dezembro de 2024

TARIFA DE ÔNIBUS PRECISA SER FIXADA COM REALISMO

Editorial Folha de S. Paulo

Ao protelar reajuste em SP, Nunes expandiu subsídios; deve-se estimular concorrência e focar em estratos de baixa renda

Elevar o preço da passagem de ônibus pode ser mexer num vespeiro —recordem-se os protestos pelo país em 2013 que tiveram como estopim uma alta de R$ 0,20 em São Paulo. Mas, mesmo impopulares, reajustes são necessários para manter a sustentabilidade do sistema e a ordem nas contas públicas.

O prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), anunciou que a partir do dia 6 de janeiro a tarifa passará de R$ 4,40 para R$ 5 —alta de 13,6%. Desde a ultima alteração, em 2020, quando subiu de R$ 4,30 para o valor atual, a inflação foi de 32%.

As críticas vieram. A Justiça paulista acatou parte de uma ação de parlamentares do PSOL e pediu explicações à prefeitura; representantes da sociedade civil no Conselho Municipal de Transporte e Trânsito divulgaram carta contra a mudança; futuros vereadores acionaram o Judiciário para questionar a reunião do CMTT.

Por óbvio, o tema está aberto a debates, mas é preciso ter em mente que o congelamento da tarifa —assim como a gratuidade aos domingos e para alguns estratos da população— implica alto gasto de verbas públicas, que poderiam ser direcionadas a setores que gerariam efeitos reais na redução de desigualdades, como saúde e educação.

Assim, o reajuste é correto e até tardio. Ao protelá-lo, Nunes fez com que os subsídios para as empresas de transporte se expandissem de modo insustentável, impactando o Orçamento.

As despesas nessa rubrica saltaram de R$ 3,3 bilhões em 2021 para R$ 6,7 bilhões neste ano. O valor, bancado pelo contribuinte, equivale a 58,7% do custo total do sistema neste ano (11,4 bilhões). Os restantes R$ 4,6 bilhões, pagos pelos passageiros, constituem a menor cifra desde 2021.

O fato de a prefeitura ter gastado 19,6% acima do previsto para 2024 (5,6 bilhões) revela a fragilidade da política de subsídios quando ela se assenta mais em demagogia do que na realidade.

É preciso que as tarifas sejam reajustas do modo periódico, como ocorre com preços de bilhetes de trem e metrô, e que subsídios e gratuidades sejam direcionados à população de baixa renda.

Ademais, para aumentar a eficiência do sistema, com novas tecnologias e redesenho de linhas, e o número de passageiros, deve-se estimular a concorrência. Para isso, não pode haver excesso de exigências para que novas e pequenas empresas participem dos processos de licitação.

Trata-se de zelar pelo uso racional do dinheiro do contribuinte para alcançar os melhores resultados possíveis, o que é dever de legisladores e gestores.

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