Já ingressamos em uma era em que o Ocidente deverá
recorrer ao uso da força na defesa de seus valores de liberdade e igualdade
Se os filósofos sempre prezaram a racionalidade, chegando a
formulara ideia de que o homem, por definição, seria um animal racional, a
história da humanidade, porém, fez um contraponto: o da irracionalidade, se não
o da maldade, da relação entre os homens e, mais especificamente, entre
Estados. Intenções malignas, voltadas única e exclusivamente para destruição do
outro, são apenas uma amostra disso. A violência, perseguida como um fim em si
mesma, e não como um meio, continua povoando a História, apesar de tentativas
de estabelecera concórdia e odiá logo como vetores das relações intraestatais.
A cena histórica é frequentemente irracional. A relação
entre Estados, enquanto unidades políticas, é regida por aquilo que filósofos
como Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Hegel consideravam como
estado de natureza. Ou seja, ela seria regida por desejos de dominação e
subjugação do outro. Os motivos podem ser variados, como prestígio, glória,
ganhos econômicos e apropriação de territórios. Por sua vez, as relações
internas aos Estados, individualmente considerados, nas experiências democráticas
e constitucionais, vieram a se definir pelo império da lei, pelo livre jogo das
instituições, pelas liberdades e pela economia de mercado.
Por um curto período, com a criação da
Organização das Nações Unidas (ONU), pareceu estabelecer-se a ideia de que uma
instituição supranacional poderia preencher a função da lei e de racionalidade
nas relações internacionais. Mal que bem, conseguiu preencher algumas dessas
funções enquanto as potências hegemônicas, EUA e União Soviética, foram capazes
de firmar formas de convivência, principalmente de equilíbrio nuclear, com a
ressalva de que esse último país tivesse reconhecida a sua dominação sobre os
países da Europa Oriental. Se se insurgissem, a invasão militar comunista era a
regra, como aconteceu na Hungria em 1956, na Checoslováquia em 1968 e na
Polônia em 1981.
Com a queda do Muro de Berlim e o desmoronamento da União
Soviética, parecia enfim que o mundo da livre economia de mercado, através do
primado do comércio internacional, iria reduzir as tensões entre os Estados. A
guerra cessaria de ser um meio de resolver o combate pelos interesses
econômicos. Voltar-se-ia para uma ideia elaborada pelo pensador francês
Benjamin Constant. Ocorre, todavia, que a guerra tem outras razões, dentre as
quais a dominação de outros Estados, a ocupação pura e simples de seu território,
quando não a intenção física de aniquilação do adversário, tido por inimigo
absoluto.
A Rússia invade a Ucrânia ao arrepio de qualquer lei
internacional, por mais precária que seja a consideração de lei no sentido
próprio, pela ausência de um poder coercitivo que a implemente e garanta.
Interesse econômico propriamente dito não existia, haja vista as dificuldades
que esse país enfrenta em seu cenário interno. Levou adiante o seu projeto
tzarista e comunista de uma grande nação russa, portadora de uma ideia
exclusiva e civilizatória, que deveria se impor, pela violência, aos povos
eslavos e bálticos. Não contava com a resistência da Ucrânia, cujo povo e
liderança reagiram com bravura e determinação. Contudo, em assim fazendo, a
Rússia rompeu com o equilíbrio europeu vigente, fundado na inviolabilidade das
fronteiras.
O Irã teocrático, graças ao apoio do ex-presidente Barack
Obama e de seu acordo nuclear, teve recursos e mãos livres para estender os
seus tentáculos sobre todo o Oriente Médio. Iraque, Síria, Líbano, por
intermédio do Hezbollah, e Iêmen tornaram-se seus braços armados, instrumentos
de sua dominação colonial. Leis internacionais não têm, para ele, nenhum valor
salvo instrumental para justificar seus objetivos geopolíticos, centrados na
eliminação do Estado de Israel. Paradoxalmente, tornou-se um membro proeminente
da ONU, supostamente defensor dos “direitos humanos”, certamente segundo a moda
xiita. Por si só, esse fato mostra a baixeza política e moral dessa organização
internacional, afastada de seus ideais kantianos de fundação.
O Hamas, talvez atualmente a forma mais pura do terror
islâmico, vive no culto da morte, na disseminação do ódio, visando, também, à
destruição do Estado de Israel. Usa do assassinato, do estupro, da tortura e da
captura de reféns. Em vez de administrar o seu território, criando um Estado de
bemestar social, submete os palestinos à sua total dominação, utilizando-os
como escudos humanos. E o mais surpreendente, com o apoio da ONU e de seu
secretário-geral, António Guterres, vindo a ser um instrumento do terror
islâmico e do Irã. Em sua boca, direitos humanos são palavras vazias.
É forçoso reconhecer que o mundo está entrando em uma
condição de guerra, sendo necessário repensar esse processo em curso para
enfrentá-lo, sem que daí se derive necessariamente uma terceira guerra mundial.
Já ingressamos em uma era em que o Ocidente, particularmente a Europa, deverá
recorrer ao uso da força na defesa de seus valores de liberdade e igualdade. Se
não o fizer, por falta de vontade, sucumbirá.
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