Estudo da OCDE mostra que, mundo afora, grande parcela de
adultos não entende textos básicos; reorganização da forma como se ensina é
fundamental para acesso ao mercado de trabalho
Um estudo recém-divulgado pela Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que um porcentual significativo de
adultos (média de 18%) não domina os níveis mais básicos de proficiência em
leitura, matemática e resolução de problemas, habilidades fundamentais para o
desenvolvimento pessoal, econômico e social.
É extremamente preocupante que quase um quinto dos
participantes do estudo (cerca de 160 mil) não consiga, por exemplo, extrair de
uma mensagem de texto curta o tempo de validade de um código fornecido.
Adultos de 16 a 65 anos de 31 países (o Brasil não faz parte
da análise) participaram da edição 2023 da pesquisa Habilidades dos
Adultos (conhecida como Pisa dos Adultos), que a OCDE promove a cada dez
anos. Os resultados, de um modo geral, mostram um quadro desolador, uma vez que
a capacidade de ler, fazer contas e resolver problemas é determinante para o
acesso e, mais que isso, a permanência e o desenvolvimento no mercado de
trabalho.
Dos 31 países avaliados, apenas dois, Finlândia e Dinamarca,
apresentaram avanço significativo em capacidade de leitura em relação ao estudo
realizado dez anos antes; nos demais países tal habilidade ou ficou estagnada
ou piorou. Considerado um dos países com melhor sistema educacional do mundo, a
Finlândia é a nação mais bem-sucedida no estudo em todas as três áreas
avaliadas. Além da Finlândia, Japão, Suécia e Noruega estão no topo da
pesquisa, enquanto os piores foram Portugal, Polônia e Chile – quase metade dos
chilenos ficou ou no nível mais básico de leitura e matemática ou abaixo dele.
Embora de um modo geral a queda de desempenho tenha se
concentrado, sem surpresas, entre os que têm menor escolaridade, o Pisa dos
Adultos também radiografou disparidades em relação à qualidade do ensino
superior. Exemplo disso é o fato de que alunos que concluíram o ensino médio na
Finlândia superaram de forma consistente o desempenho de adultos com educação
superior em vários países, incluindo Chile, Israel e Lituânia.
Esse dado é extremamente importante porque mostra que não
basta fazer com que as pessoas tenham acesso à universidade, mas é preciso que
ao longo da formação educacional elas efetivamente aprendam. Sem isto, é até
possível chegar à universidade, mas como mostra o Pisa dos Adultos o
conhecimento e as habilidades acumuladas seguirão inferiores aos de alunos da
educação secundária que aprenderam de forma efetiva.
Neste sentido, os resultados do último Pisa (avaliação de
aprendizado também feita pela OCDE, mas com alunos de 15 anos) apenas
contribuem com o sentimento de desolação. Divulgado no fim de 2023, o Pisa
mostrou queda geral no desempenho em leitura, matemática e ciências dos países
participantes.
Pior para o Brasil, que ficou fora do Pisa dos Adultos, mas
participou da avaliação para estudantes de 15 anos e ocupou as últimas
posições, atrás até mesmo de países latino-americanos mais pobres como Colômbia
e Peru. É fácil concluir que, se tivesse participado do estudo Habilidades
dos Adultos, o Brasil também teria ocupado as últimas posições.
Apesar de ter ficado de fora da avaliação que testa os
adultos, o Brasil, como os demais países, pode seguir as recomendações da OCDE
para melhorar a capacitação e o aprendizado de suas crianças e seus adultos,
condição essencial para escapar do ciclo de pobreza e, em um mundo em
transformação tecnológica, determinante para a conquista de empregos que
permitem aos cidadãos o desenvolvimento contínuo, maior sensação de bem-estar e
melhor saúde.
A OCDE sugere, por exemplo, a adoção de políticas públicas
que mirem na melhora do acesso à educação e a treinamentos, além de sistemas
mais robustos de aprendizado destinados a adultos. Tudo isso passa por
flexibilidade, o que exige educação modulada e focada em realidades e
necessidades específicas.
O redirecionamento de rota de como se ensina e como se
aprende, no Brasil e fora dele, é fundamental para que haja resiliência
econômica e coesão social. Trata-se de processo que demanda tempo e que, por
isso mesmo, precisa começar o quanto antes, caso os países queiram realmente
prosperar.
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