Na sua primeira reunião ministerial deste ano, o presidente
Lula avisou que seu principal inimigo a derrotar, de modo a garantir algum
sucesso nas eleições de 2026, é a inflação dos alimentos.
Esta não deixa de ser uma novidade, porque, até agora, o
governo dizia que tratava de garantir o crescimento econômico e a criação de
empregos. Viu que mais PIB e contratações não vêm ajudando na imagem. O aumento
dos preços da comida pesa na popularidade do governo.
Em 2024, os preços dos alimentos subiram 7,69% (veja o
gráfico). Entre os maiores impactos estão a alcatra, 21,1%; café, 39,6%; óleo
de soja, 29,2%; e o leite longa vida, 18,8%. Ou seja, na percepção do
consumidor, que não come PIB, como advertia a economista Maria da Conceição
Tavares, a vida ficou muito mais difícil.
Por aí se vê que, por vias transversas, o
governo Lula passa a admitir que a fonte de insatisfação do eleitor não está na
má divulgação dos sucessos na administração econômica do governo; está na
corrosão do salário pela inflação. Ou seja, não está em algum problema de
comunicação; está na maneira como o governo vem lidando com o aumento do custo
de vida.
Nesse ponto, o governo incorre no risco de outro erro de
diagnóstico. O de achar que a inflação da comida se deveu apenas a eventos
climáticos – chuvas demais e inundações no Sul ou seca em algumas regiões – que
produziram escassez e carestia.
Tende a esquecer ou a não levar em conta dois outros
fatores: o aumento artificial da demanda em consequência do forte despejo de
dinheiro no mercado pela gastança do governo, não acompanhada pelo aumento da
produção (hiato do produto); e a escalada do câmbio, ou a alta do dólar de
27,3% em 2024. Essa desvalorização do real tem a ver com o fator já apontado: o
do aumento do rombo fiscal que, por sua vez, derrubou a confiança na política
econômica e empurrou o mercado à compra de moeda estrangeira.
Se o presidente Lula tivesse chegado às verdadeiras causas
da alta dos alimentos, teria feito mais para reequilibrar as contas públicas,
conter a dívida e recuperar a confiança do brasileiro na administração da
economia.
Ao contrário, o presidente Lula vem corroendo o prestígio do
ministro Fernando Haddad, quando não aceita suas ponderações em direção à
responsabilidade fiscal e o culpa por trapalhadas na condução da economia, como
ficou demonstrado no último episódio das notícias fake sobre a taxação do Pix.
De nada adiantará o combate à inflação na base do gogó e das
novas técnicas a serem usadas pelo novo secretário das Comunicações, o
marqueteiro Sidônio Palmeira, se o governo não enfrentar sua causa mais
profunda: o rombo fiscal.
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