O filme “Ainda Estou Aqui”, baseado no livro homônimo de
Marcelo Rubens Paiva [1] e dirigido por Walter Salles [2] , representa um marco
no cinema brasileiro e um poderoso testemunho sobre a ditadura militar.
Já tive o privilégio de escrever sobre o longa em texto
publicado no antigo endereço do blog Voto Positivo (Que descanse em paz) [3], e
mais uma vez gostaria de ressaltar o tanto que o filme nos acrescenta tanto em
cultura quando em contexto histórico como população.
A interpretação de Fernanda Torres, premiada com o Golden
Globes [4] confere à obra uma profundidade e emoção que a tornaram um
fenômeno de público e crítica.
A narrativa, centrada na história de Eunice Paiva, nos
convida a refletir sobre as marcas profundas deixadas pela repressão política
na vida de milhares de famílias brasileiras. Ao trazer à tona um período
obscuro de nossa história, o filme nos desafia a questionar: como podemos usar
esse reconhecimento internacional para construir um futuro mais justo e
democrático?
A indicação ao Oscar em três categorias [5], sem dúvida, são
motivos de celebração. No entanto, é fundamental que não nos esqueçamos do
contexto histórico que inspirou a obra. A ditadura militar foi um período
marcado por graves violações dos direitos humanos, como torturas,
desaparecimentos e mortes. A Comissão da Verdade [6], embora importante, não é
suficiente para reparar os danos causados e garantir que crimes semelhantes não
se repitam.
O sucesso de “Ainda Estou Aqui” evidencia a
importância da cultura e da arte como ferramentas de conscientização e
transformação social. Ao mesmo tempo, nos alerta para a necessidade de
aprofundarmos nossos conhecimentos sobre a história do país e de fortalecermos
as instituições democráticas.
“Todo mundo que era contra a ditadura era comunista. Todos
se tornaram suspeitos, subversivos em potencial. O comunista estava na
fronteira, atrás da porta, na sombra, na igreja, na escola, no cinema, no
teatro, na música, no Exército, o comunista vendia pipoca, estava disfarçado em
balés, óperas, podia ser seu vizinho, podia estar debaixo da sua cama, poluir o
reservatório de água, dopar os bebedouros. Os comunistas tomariam o poder. Até
os não comunistas eram comunistas disfarçados, foram doutrinados, sofreram
lavagem cerebral.
Muitos que, em 1964, conspiraram com os militares, na missão de impedir que
comunistas tomassem o poder e o Brasil se transformasse numa diabólica ditadura
do proletariado, perceberam a manobra e foram acusados pelos anticomunistas de
ligações com comunistas.” (Paiva, 2015, p 69)
Lembrando sempre que “É preciso dar um Jeito, Meu amigo”
[7]. Dar um jeito para que as atrocidades do passado não tornem a nós
silenciar. Como Historiadora em formação digo que o reconhecimento do filme que
já é um marco do cinema nacional e que o mesmo seja combustível para
impulsionar os jovens para uma luta por uma democracia mais justa e que este
regime autoritário nunca mas venham atingir nossa grande nação.
Nós do Voto Positivo estamos na torcida, assim como todo
povo brasileiro para a conquista do Oscar que não será só do elenco mas de
todos nós; encerro esse artigo citando um trecho do discurso da nossa Fernanda
Torres durante a conquista da estatueta.
“E isso é uma prova que a arte pode durar pela vida, até
durante momentos difíceis, como esta incrível Eunice Paiva, que eu fiz, passou.
E a mesma coisa que está acontecendo agora, em um mundo com tanto medo. E este
filme nos ajuda a pensar em como sobreviver em momentos duros como este.” [8].
*Giovana Freire é Historiadora em Formação pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro e Graduanda em Pedagogia pela Universidade
Cândido Mendes.
[1] – Escritor, dramaturgo e jornalista brasileiro,
amplamente reconhecido por sua obra literária, Filho do deputado federal Rubens
Paiva, vítima da ditadura militar brasileira.
[2] – Renomado diretor cinematográfico brasileiro
responsável por trazer à vida a emocionante história de “Ainda Estou Aqui”
[3] – Leia aqui: https://votopositivo-cg.blogspot.com/2024/11/a-doce-politica-no-cinema-numero-23.html
[4] – Os prêmios Globo de Ouro são premiações anualmente
entregues desde 1944 pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood aos
melhores profissionais do cinema e televisão no mundo.
[5] – Melhor filme, melhor atriz e melhor filme
internacional.
[6] – A Comissão da Verdade foi um colegiado instituído pelo
Estado brasileiro para investigar as graves violações de direitos humanos
ocorridas durante a ditadura militar.
[7] – Trilha sonora do filme, É preciso dar um Jeito, meu
amigo, de Erasmo Carlos (1971). Ouça aqui: https://www.youtube.com/watch?v=FuZ0OdtK3P8.
[8] – Trecho do discurso de Fernanda Torres ao receber a
estátua do Globo de Ouro.
Referências Bibliográficas
- PAIVA,
Marcelo Rubens. Ainda estou aqui. 2. ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2015.
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