Para 2025, precisamos pensar em interromper o já viciado
girar da roda. Repensar é importante. Que tomemos decisões, dentro do razoável,
que desaceleram o ritmo de vida alucinante ao qual estamos diariamente
inseridos
O início de ano sempre é tempo de traçar metas em busca de
uma condição de vida melhor. Entre os planos almejados, muitos de nós pensam em
um emprego melhor, em ascensão financeira para ampliar o consumo ou no tão
sonhado diploma para exercer uma determinada profissão. Nossos objetivos sempre
giram em torno do dinheiro, numa eterna busca de maior poder de compra em prol
da aquisição de objetos de última geração, roupas, carros, imóveis, entre
outras coisas.
No nosso planejamento de início de ano, são raros os
objetivos que mencionam o descanso. Em um mundo no qual vivemos o tempo inteiro
com o pé mais pesado possível no acelerador e a corrida do ponteiro do relógio
parece ser cada vez mais rápida, não pensamos jamais em diminuir a carga de
trabalho e aproveitar as coisas que realmente importam em nossas vidas: a
família, os hobbies (sejam eles quais forem) e a melhoria da qualidade de vida,
a partir de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos e a leitura
de bons livros.
O tempo passa a milhão, e a vida da maior parte das pessoas
acaba sem que elas se deem conta disso. Perdemos horas no trânsito e no
necessário ganha-pão — tarefas que a imensa maioria não tem escolha diante
das necessidades financeiras —, mas, quando temos tempo livre, recorremos ao
mundo dos smartphones, que muito oferece em informação, mas pouco oferece em
qualidade de vida.
A cada ano eleitoral que se passa, como o último, temos a
sensação de que nada mudará, independentemente do voto a qual recorremos nas
urnas. Cobramos mudanças dos nossos representantes o tempo inteiro, mas não
olhamos para nossas próprias vidas. Estamos viciados no tédio e na
continuidade. Procuramos sempre o cotidiano. Nunca realizamos sonhos. Corremos
poucos riscos. Queremos controlar cada passo que damos e mergulhamos na
mesmice.
Para 2025, precisamos pensar em interromper o já viciado
girar da roda. Repensar é importante. Que tomemos decisões, dentro do razoável,
que desaceleram o ritmo de vida alucinante ao qual estamos diariamente
inseridos. Pequenos ajustes na rotina ajudam, como evitar o uso do smartphone
ao chegar em casa e reencontrar os familiares. Aqueles que nos amam são
infinitamente mais importantes do que a última atualização do feed do
Instagram.
Uma pesquisa encomendada pela NordVPN, um provedor de Rede
Virtual Privada, informou em outubro que 96% dos brasileiros levam o celular ou
outros dispositivos móveis para a cama. Esse dado coloca o país em segundo
lugar entre os 17 analisados. A imensa maioria desses brasileiros, inclusive,
usa mais de um dispositivo simultaneamente no aguardado período de descanso,
como assistir à TV de olho no celular.
O dado deveria assustar, mas parece fazer completo sentido
quando olhamos para a nossa própria rotina. São comportamentos que acompanham
uma série de transtornos mentais íntimos da nossa contemporaneidade, como a
ansiedade, a depressão e a hiperatividade. É um problema mais sério do que
parece e que, infelizmente, continua pouco discutido em nossa sociedade.
O vício tem até nome: a nomofobia, quando sofremos
dependência dos dispositivos móveis. A enfermidade, inclusive, integra a
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com
a Saúde (CID), registro feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e
atualizado periodicamente. Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da
UFMG, em 2023, apontou que 72% dos estudos que acompanharam crianças
constataram um aumento da depressão associado ao uso excessivo de telas nesse
grupo — uma dependência que também atinge adolescentes, adultos e idosos e
que disparou após a pandemia da covid-19.
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