A desordem geral está batendo às portas das
instituições e tratados internacionais mediadores da convivência humana no
planeta. A criação do BRICS, propondo a desqualificação do sistema
monetário, as taxações tributárias extras sobre o comércio, as guerras
entre Israel e as guerrilhas financiadas pelo Iran, o uso amplo de
tecnologias destrutivas a invasão da Ucrânia, e as insolências nucleares de
Vladimir Putin e de Kim Jong caminham, irresponsavelmente, nessa direção.
Tudo isso remete às consequências dos acordos finais da
capitulação alemã e, em particular, do Império otomano, em 1918, guerra
que produziu a morte de milhões de civis, uma profunda reconfiguração
geopolítica e o reassentamento de centenas de
populações linguística e culturalmente diferenciadas, sobretudo
aquelas que perambulavam pelas terras desérticas e míticas do Levante,
região dominada pelo islamismo , esses mesmo que busca ser
hegemônico no mundo, e que se constitui num espaço estratégico
para os negócios globais.
Ao revelar minorias indefesas e
pluralidades humanas regionais , o pós-guerra fez surgir a
Liga das Nações (1920) e, com ela, aqueles 15 países do
Oriente Médio, cuja divisão física e a reorganização dos
Estados foram entregues a França e a Inglaterra, por um prazo
limitado . As configurações ideológicas definitivas de cada nação
viria por meio dos movimentos nacionalistas árabes (República Árabe Unida),
inspirados na liderança do presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, e
marcadas ainda pela disputa do Canal de Suez , a criação de Israel
em 1948 (uma pátria para os judeus), o assassinato do liberal Anwar Sadat
(1981), e o encerramento do "mandato" da ONU ali.
O mundo mudava com a chegada do comunismo na Rússia e o
liberalismo se expandia mundialmente para a industrialização. Na Alemanha
surgira o "motor de combustão interna", impulsionando e
disseminando um novo modelo industrial. Dependia do petróleo recém descoberto
na região do Oriente Médio ( antes conhecida como Crescente Fértil e, em
seguida, Levante). Seus limites se estendiam na área continental
do nordeste da África, pelo Mediterrâneo, a leste, até a Mesopotâmia, ao
Sul pelo Oceano Índico. Os habitantes eram os levantinos.
O petróleo geraria dependências de fornecimentos
regulares a dezenas de países, particularmente as economias mais
avançadas. Explorado por companhias multinacionais associadas, o petróleo
jorrava abundante, a custo zero, do subsolo do Iran,
Iraque, Arábia Saudita, Omã, Bahein, Kuwait, Emirados, Iêmen e o Egito
que os fornecia a preços vis (US$ 4 a 6 o barril). A região era
historicamente agitada por guerras e querelas étnicas, inguísticas,
mitológicas, ideológicas e crenças religiosas e nacionalistas.
Chegava-se a lutar por poços de água no deserto.
A modernização política alimentada pelo petróleo
fixara e empoderara aqueles povos enraizados nos
ensinamentos ancestrais do Corão. Populações desarticuladas entre
si, esses países, instituídos depois da guerra, liderados pela Arábia
Saudita (maior produtor), conseguiram criar a OPEP - Organização
dos Países Produtores de Petróleo , e passaram a chantagear o mundo com preços
e quotas de fornecimento do óleo bruto. Subiram os preços para até US$ 60 o
barril e fixaram quotas individuais. Quase quebrou vários países gerando
petrodólares para para construir aquelas cidades monumentais de hoje e
comprar empresas e bancos internacionais.
Os regimes políticos no Levante eram conhecidos como
emirados, os sultanatos e califados: estados islâmicos governados
por líderes ancestrais, religiosos, militares, com
prerrogativas também judiciais, poderes incorporados como
"sucessão" do profeta Maomé, morto em 632. Eram
apresentados como seus representantes direto na Terra. Mas, alguns países
tornaram-se republicas e monarquias, sob a égide do islamismo.
Nos limites do Levante ficavam os turcos e os
iranianos (persas) . Os primeiros herdaram uma Turquia fragmentada pela
guerra. que se tornou uma república presidencialista, e impôs uma
drástica ocidentalização : adotou o alfabeto latino, em substituição
ao árabe; aboliu a jurisdição dos tribunais islâmicos, suprimiu
proibições e ampliou os direitos civis. Ficou meio isolada.
Em 1981, os iranianos (persas), ufanistas,
que e se consideravam a elite da região, passaram repentinamente (1981) a
ser governados por sacerdotes xiitas (Aiatolás), autoritários, com
características semelhantes à dos califas. Substituíram o Xá (Shaj Reza Pahlevi
(shahansshah, intitulado "Rei dos Reis") que governava como monarca,
tendo para a cultura ocidental. Com os aiatolás, o regime passou gerido
de acordo com os ensinamentos do Corão, com o qual passaram a administrar
religiões, costumes e comportamentos pluralizados pelo islamismo,
judaísmo, zoroatismo, bahaís, cristãos e outros, permeados por uma
micelania étnica e linguística (persas, azeris, curdos, árabes, luros,
nalúchis,,turcomanos, palestinos, assírios, armênios e pashtuns). Migraram
também para a região povos mongóis. A justiça, exercida com rigor, pune , ainda
hoje, com penas de enforcamentos e apedrejamentos públicos, cortes de
membros do corpo e outras previstas no Corão.
Aliados dos russos, tornaram-se financiadores de
movimentos guerrilheiros sediados em Gaza, no Líbano, Na Síria e no Iêmen para
lutar contra os interesses norte-americanos na região e extirpar o Estado
de Israel. É uma guerrilha assalariada que age à margem dos exércitos
regulares, manipulando recursos, até da ONU, para comprar
armamentos, desfraldando bandeiras do Hamas, do Hezbolath, do Houtis , e
outros grupos profissionalizados. O novo presidente da Síria, Ahmed
al-Sharaa, é um ex-jihadista (movimento nacionalista ortodoxo, fundador do
Estado Islâmico - aqueles guerrilheiros que degolavam civis em frente às
câmeras de televisão. Vem pregando a democracia e a extinção da
guerrilha. " A Síria vai ser governada pelo lei".
Judeus expulsos da região de origem no Levante, que
perambulavam pelo mundo à procura de uma pátria, foram reassentados, como país
(Israel), pela ONU, na região, dividindo espaços com palestinos e árabes tendo
com ponto de referência a cidade de Jerusalém. Praticam, contudo, o
Judaísmo, originado nos ensinamentos de Abrahão. Essa religiosidade
seguida do movimento político sionista unificador , convive com as
práticas espirituais correntes no Levante, defendendo, contudo, seus direitos
ancestrais de fixaçãono território..
O Oriente Médio tem hoje (2017) 270 milhões de
habitantes. e abrange uma área de mais de 7 milhões de km². A renda
per capita, altamente concentrada, varia de US$ 124 mil, no Catar; a US$ 2.500,
no Iêmen. A população é composta por árabes, persas, turcos e judeus. Nos
últimos anos com a criação de empregos na construção civil recebeu
milhares de trabalhadores indianos. 92% da população é muçulmana. O
cristianismo está em expansão na região. Nas condições atuais, um apagão no
Oriente Médio, desmonta o sistema econômico e instituições no mundo todo.
O tal combustível verde vai enfrentar alguns problemas com eles Daí a
advertência de Saddam Hussein..
*Jornalista e professor
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