quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

ÊXITO DA CONCESSÃO DO GALEÃO DEPENDE DE RESTRIÇÕES NO SANTOS DUMONT

Editorial O Globo

Governo acerta ao promover nova licitação simplificada para aeroporto, mas precisa garantir regras estáveis

São bem-vindas as iniciativas do governo federal e do Tribunal de Contas da União (TCU) para solucionar os problemas na concessão do Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão que ameaçam a sobrevivência do negócio. A ideia é que o terminal carioca passe por um processo simplificado de licitação. No modelo planejado, a operadora Changi, sócia majoritária da concessionária RIOgaleão, poderia participar do certame, e a Infraero deixaria o consórcio, a pedido da União. O lance mínimo será de R$ 600 milhões.

O Galeão foi concedido à iniciativa privada em 2013, durante o governo Dilma Rousseff, mas as perspectivas de crescimento projetadas à época nunca se concretizaram. A concorrência predatória do Aeroporto Santos Dumont, cujo movimento foi equivocadamente inflado pelo governo, a crise econômica e a pandemia contribuíram para o esvaziamento. Em 2022, a Changi, uma das maiores operadoras de aeroportos do mundo, chegou a anunciar a intenção de deixar o negócio, mas depois se mostrou disposta a permanecer, mediante negociação do contrato.

Um dos problemas era o valor elevado da outorga (em torno de R$ 1,4 bilhão), tido como incompatível com a realidade do aeroporto. Para superar o obstáculo, ficou acordado que as parcelas a vencer serão atreladas às receitas. A intenção de prorrogar o atual contrato, com vencimento em 2039, não foi adiante, e o Galeão terá de ser novamente licitado ao fim desse prazo. Nas negociações, foi excluída a previsão de construção de uma nova pista para pousos e decolagens, por se mostrar desnecessária.

As decisões terão de passar ainda pelo plenário do TCU. Como o órgão tem participado das negociações, acredita-se num desfecho favorável. Representantes do governo estimam que, vencida essa etapa, seria possível realizar o leilão ainda no primeiro trimestre. O entendimento no Planalto é que uma definição rápida sobre a concessão do Galeão favorecerá a retomada de investimentos.

Por mais que sejam positivos os esforços para salvar a concessão, de nada adiantarão se não houver um equilíbrio entre os terminais internacional e doméstico do Rio. Foi esse descompasso que causou o esvaziamento do Galeão e a saturação do Santos Dumont, refletida em atraso nos voos, filas nos saguões e trânsito caótico no centro do Rio. Como acontece noutras cidades do Brasil e do exterior, o esperado é que os terminais funcionem de forma coordenada, cada um seguindo a sua vocação.

A operação descalibrada começou a ser revertida com a decisão do governo federal — tomada após pressão das autoridades do Rio — de restringir voos no Santos Dumont. Prova de que a medida foi acertada é o aumento de usuários no Galeão. No ano passado, a concessionária registrou recorde de 4,7 milhões de passageiros internacionais, aumento de 30% em relação a 2023. Se a política de restrição de voos no Santos Dumont não for adiante, não haverá nova licitação que dê jeito no Galeão.

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