Lá se vão os tempos épicos dos westerns em que
os criminosos e justiceiros moviam-se de um lado para o outro nas zonas de
fronteiras: alguns para evitar a justiça, outros para capturar fugitivos.
Representados no cinema por John Wayne, Gregory Peck, Clint Eastwood e outros,
os justiceiros norte-americanos invadiam o território mexicano, sem
constrangimentos legais, para punir com as próprias mãos crimes praticados no
Meio-Oeste. Em caminho inverso, o exército mexicano não fazia o mesmo: parava
no rio Bravo, e dava o caso por encerrado, satisfeito por se livrar do
transgressor.
Sem disparar um tiro, o Presidente Donald
Trump pretende acabar esse trânsito e decretar o fechamento da fronteira dos
EUA com o México. Começou por repatriar aqueles imigrantes, sobretudo, da
América Central (brasileiros também), considerando-os clandestinos, embora
vivam e trabalhem no país, mesmo sem "vistos”.
As lições vêm dos países europeus, que se prontificam a ser
solidários com os imigrantes, mas, sem alarde, estão sempre expulsando
gente. Por motivos políticos ou para fugir das guerras, quase tribais,
milhares de africanos e asiáticos são despejados anualmente na Europa. Os
cidadãos das velhas colônias francesas, inglesas, holandesas e portuguesas
acham-se no direito histórico de transitarem, livremente, pelos territórios das
ex- metrópoles. A política de "portas abertas", defendida pelas
s agências da ONU, sofre um retrocesso, com os países limitando o abrigo ao
fluxo crescente de imigrantes. França, Itália e Alemanha tem tido muitos
problemas comportamentos culturais e criminais mesmo.
Nos Estados Unidos, a questão não é bem a travessia da
fronteira para trabalhar ilegalmente na terra do Tio Sam. Na América Central a
pobreza é endêmica e os salários nos EUA compensam os riscos. A questão
tornou-se tão trivial que deu lugar à dezenas de gangues de fronteira
explorando levas de imigrantes latinos, oferecendo-lhes facilidades
inexistentes, e cobrando deles valores quase impossíveis de serem pagos. E aí
começavam as atrocidades: violências, estupros e crimes, contra e entre
imigrantes, bem como subornos das autoridades fronteiriças. Alguns foram
cooptados pelo tráfico de drogas. Trump vem cercando as fronteiras, com
muradas, e dobrando o policiamento por ali.
Mas essa é uma questão aparentemente menor. Fugindo de
guerras, como as invasões russas na Ucrânia, ou à procura de terras mais
hospitaleiras, existem ainda grupos de pessoas que, sem entender exatamente o
processo, pulam mesmo de uma região para a outra, como algumas etnias
indígenas, os ciganos e povos asiáticos e africanos. As migrações estão
associadas a fatores econômicos, culturais, políticos, sociais, naturais e
criminais. O Brasil mesmo abrigou representantes de algumas organizações criminosas
italianas, chinesas e indivíduos condenados nos países de origem como o sérvio
Darko Geisler, o britânico Ronald Biggs, os italianos Paquino, Gino Meneghetti
Tomazzo Buscheta e outros.
No fluxo migratório não se distinguem transgressores de
migrantes empobrecidos No Brasil como os nordestinos (Paus-de-arara ou
Sem-terra) famílias inteiras deslocavam-se do Nordeste, na década
de 1950, para o Sul, fugindo das secas. O migrante é, entretanto, um sujeito
solitário, sem pátria, sem proteção e que, pelas discriminações que sofre, e
até injustiças, boa parte termina ajudando a compor a população carcerária no
Brasil. O Brasil é usado com passagem para alguns desses fluxos migratórios As
cadeias brasileiras sempre estiveram cheias de imigrantes carregados de crimes,
outros acusados de tráfico de drogas e até de mulheres.
Confundindo os sentimentos humanitários com a política
"fake" e com o conveniente acolhimento de imigrantes, na
modernidade, as populações mais politizadas assustam-se mesmo é o uso
politicamente estratégico desenvolvidos por alguns governos para se
livrar das oposições e das responsabilidades com a cidadania. Ao mesmo tempo
uma carga, a imigração transformou-se numa arma política, sobretudo por regimes
ditatoriais. É uma forma usada para reduzir as pressões
oposicionistas e conspiratórias nacionais e até de livrar-se das demandas
internas por empregos, alimentos, remédios e outros serviços
públicos. A prática vem se institucionalizando, sem nenhum tiro, na medida em
que se tenta purificar ideologicamente regimes políticos. Sintomas disso podem
ser encontrados em países de partido único, quase sempre, expresso numa
violência intangível.
Na Venezuela de Hugo Chavez e Nícolas Maduro,
para livrar-se da oposição e reduzir a pressão sobre seu governo, adotou-se um
modelo, meio retórico, de ameaçar e prender opositores,
induzindo-os a deixar o País. Cerca de 5, 2 milhões de venezuelanos fugiram
para o Brasil e para a Colômbia. Na Nicarágua aconteceu o mesmo. Copiaram
Cuba Os expulsos politicamente foram buscar abrigo no México (passagem) e nos
Estados Unidos.
A Rússia, adotou uma política migratória expansionista,
incentivando a ocupação das fronteiras com países vizinhos, e estimulando a sua
vagarosa transferência para para dentro do território alheio, até chegar as
tais “autoproclamadas" República Popular de Donetsk e República Popular de
Luhansk, com o apoio militar do Kremlin. Com essa estratégia invadiu também a
Criméia. Há sinais evidentes dos interesses russos em incorporar os mares de
Azov e o Morto. Pode estar aí um novo problema para os países do Cáucaso e dos
Balcãs.
A hoje fantástica China, que perdeu alguns territórios para
a Rússia em guerras não muito distante, começa a dar o troco. Com a população
crescendo, a China passou a agir de forma semelhante. Fornece trabalhadores
para as cidades industriais da região russa do Pacífico - que antes
lhes pertenciam. Vladivostok inclusive. Cerca de 60% das populações das cidades
russas do Oeste siberiano são de trabalhadores chineses. Daí a indecisão de Ji
Jinping de ajudar a Rússia na invasão da Ucrânia. No passado, trabalhadores
chineses migraram para os EUA, onde ajudaram na implantação das ferrovias
ligando, hoje, o Leste e o Oeste.
Sem especificamente motivações políticas, a Índia exporta
mão-de-obra e até alguns cientistas para os países ricos do Oriente Médio. De
lá eles enviam parte dos salários as famílias. Os "dekasseguis"(fora
de casa) brasileiros fazem isso também do Japão. A escravidão contrabandeou
para o Brasil cerca de 5 milhões de africanos. Decorreu de uma política pública
de imigração, primeiro para substituir a mão-de-obra indígena, depois com o
propósito de melhorar a qualidade da força de trabalho. Com esses propósitos, o
Brasil, o atraiu alemães, franceses, italianos e até japoneses. Chegou a ir
buscá-los nas terras de origem. Cerca de 4,5 milhões de brasileiros
vivem no exterior (2023): 2 milhões nos Estados Unidos, 360 mil em
Portugal, 254 mil no Paraguai. O levantamento não distingue legais de ilegais,
apoiados ou não nas teses do Foro de S. Paulo. Enfim, o problema não é simples,
politizá-lo é procurar confusão. Nossos repatriados estão sendo despejados em
Minas Gerais, à conta do governador Zema.
*Jornalista e professor: autor de
"AMERICANIDADE"
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