quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O GOVERNO LULA É REFÉM DO PARLAMENTO BRASILEIRO

Fernando de la Cuadra, Democracia Política

A eleição do novo presidente do Senado e da Câmara dos Deputados do Brasil ocorrerá no próximo sábado, 1º de fevereiro. O favorito para o Senado é Davi Alcolumbre, do Partido União Brasileira. Há também um consenso de que o candidato "escondido" para presidir a Câmara é Hugo Motta, do Partido Republicano. O que também é fato confirmado é que, antes mesmo da proclamação de ambos os candidatos, as reivindicações e pressões exercidas pelo Congresso Nacional sobre o governo já eram veiculadas em plena luz do dia.

Sabe-se que a atual gestão terá que fazer um ajuste ministerial em breve, porém, a liderança da Câmara dos Deputados aguarda a eleição do novo comando da Casa para negociar diretamente com o presidente Lula da Silva a reforma ministerial, pulando a rodada de negociações com o atual ministro da Secretaria de Relações Institucionais e, portanto, aquele que deveria ser o responsável por liderar a coordenação política, Alexandre Padilha.

O argumento dos líderes da Casa é que eles só vão negociar com o presidente Lula, já que é ele quem tem poder discricionário para decidir em última instância as cotas ministeriais reivindicadas pelos integrantes do centrão , que dominam as ações no Congresso. Embora a posição de Padilha tenha apoio de Lula e faça parte do arcabouço institucional do governo, os deputados não reconhecem sua legitimidade para conduzir negociações sobre o futuro da composição ministerial.

Eles também informaram ao Palácio do Planalto que preferem que os líderes dos partidos da ampla coalizão não participem dessas negociações, mas que os acordos sejam feitos diretamente pelos presidentes das duas Casas do Congresso Nacional. Para isso, sabe-se que há um desenho com todas as mudanças propostas para a reforma ministerial, com candidatos marcados para assumir os novos cargos, todos de partidos de direita que já fizeram parte do governo Bolsonaro.

Num acto de chantagem política directa, descarada e sem escrúpulos, os líderes do Congresso têm vindo a salientar ao governo que esta é a única forma de manter o actual equilíbrio de poder entre os dois poderes, o que por sua vez é uma condição que permitir afirmar e garantir a governabilidade da atual administração.

De fato, na primeira metade deste terceiro mandato do governo Lula, ficou evidente a falta de colaboração e pressão exercida pelos parlamentares, que se dedicaram a boicotar a maioria dos vetos feitos pelo Executivo, ignorando a vontade do Presidente. e substituindo praticamente todos os projetos propostos pelo Legislativo, que tem a prerrogativa de dar a palavra final para aprovação de medidas provisórias e leis.

Atualmente, as emendas parlamentares são o principal instrumento utilizado pelos parlamentares para reforçar seus currais eleitorais, que dedicam grande parte do seu tempo de trabalho legislativo administrando recursos para obras e investimentos em seus redutos e articulando com os poderes locais e estaduais cotas maiores de poder que permitam para que reproduzam sua ação política nesses territórios.

Desde 2015, o valor das emendas cresceu rapidamente, consumindo uma quantia impressionante de dinheiro no orçamento nacional, cerca de 50 bilhões de reais (aproximadamente 8,5 bilhões de dólares). Além desse enorme montante, o Congresso aprovou a execução compulsória de boa parte desses recursos, mesmo com as contraindicações e bloqueios feitos pelo Supremo Tribunal Federal, que tem tentado garantir a transparência e a rastreabilidade do dinheiro repassado dos cofres públicos.

Com os enormes montantes arrecadados pelas emendas tributárias, que em muitos casos excedem os orçamentos de certos ministérios, o poder de negociação e a influência dos congressistas aumentaram consideravelmente. Anteriormente, tanto a ocupação dos ministérios quanto os valores públicos destinados a diversos tipos de empreendimentos davam aos governos grande poder de negociação. Hoje, essa capacidade está definitivamente concentrada no parlamento.

O caráter excessivo deste empoderamento dos anfitriões do atraso fisiológico do Congresso coincide com a derrota sistemática que as forças progressistas e de esquerda vêm sofrendo nas últimas eleições parlamentares e municipais, o que confere aos representantes da direita e da extrema direita uma presença majoritária nas decisões mais significativas do legislativo, muitas delas marcadas pela corrupção e pela cooptação do aparato institucional do país. De fato, tais setores estão mais acostumados a práticas desse tipo há décadas na história política brasileira.

Embora seja verdade que Lula da Silva venceu as eleições de 2022 - e, diga-se de passagem, por uma margem estreita - a composição do Congresso Nacional tem sido francamente adversa a ele, tendo que ampliar a base de sua administração para partidos de direita que até agora Muito recentemente eles faziam parte do governo Bolsonaro. Dessa forma, Lula teve que distribuir no início do seu mandato nada menos que nove ministérios entre partidos dessa ampla coalizão, entre eles União Brasil, Partido Social Democrático (PSD), Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ampliando depois a transferência de novos ministérios para outros dois partidos ontologicamente de direita, o Partido Progressista (PP) e os Republicanos.

No entanto, apesar de participarem dessa base governamental “ampla”, muitos deputados e senadores filiados aos partidos acima indicados, continuam na oposição, raramente apoiando iniciativas emanadas do Executivo ou boicotando diretamente os projetos. apresentado pelo Palácio do Planalto .

Se a isso somarmos a ameaça sempre presente de uma sanção ao governo por qualquer possível acusação de irresponsabilidade fiscal e, portanto, a consequente aplicação de medidas de contenção de gastos promovidas pelo seu atual Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, este é o terceiro mandato do Presidente Lula. O termo é claramente mais deficiente na promoção de programas sociais de alto impacto, como os programas Bolsa Família , Fome Zero , Minha Casa/Minha Vida ou os diversos tipos de apoio à pesquisa científica e à formação universitária.

Pressionado por uma oposição ativa e assediado por seus próprios erros, o governo Lula parece uma administração enfraquecida que deve enfrentar um Congresso empoderado e manipulador, influenciado pelo conjunto de emendas parlamentares que lhe conferem poder expressivo na hora de decidir políticas. assuntos públicos e inúmeros outros. Esses órgãos assumiram um nível de destaque não apenas dentro do processo político, mas especialmente na definição das prioridades do orçamento fiscal, que são especificamente as prioridades dos interesses de cada um dos "excelíssimos" deputados e senadores.

Longe do escrutínio popular, os parlamentares não prestam contas a ninguém, muito menos aos eleitores e cidadãos brasileiros que até agora aceitaram passivamente o curso dos acontecimentos. Em outras palavras, estamos diante de uma instituição que detém poderes quase absolutos e atua sem grandes contrapesos institucionais. Isto permite-nos vislumbrar um cenário sombrio e trágico que exigirá a mobilização ativa, comprometida e permanente da sociedade civil e dos demais poderes, para garantir maior transparência e um exercício efetivamente democrático nos processos decisórios políticos por parte dos diversos agentes de poder. que compõem as duas Casas Legislativas. Caso contrário, o despotismo parlamentar poderá comprometer seriamente o futuro do Brasil.

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