Reduzir o problema do governo à falta de comunicação
adequada de seus feitos parece ser grosseiro simplismo
A grande maioria dos brasileiros terminou o ano de bom humor
e com muitos sentimentos positivos com relação a 2025. É o que revela a
pesquisa Radar Febraban, realizada pelo Ipesp no começo de dezembro.
Segundo a sondagem, 70% dos entrevistados se declararam satisfeitos com sua
situação pessoal. Diante de outra pergunta, 46% responderam que as coisas
melhoraram; 34% disseram que ficaram como estavam; e nada menos de 80% se
disseram esperançosos, alegres e confiantes, pois acreditam que podem melhorar
ainda mais neste novo ano.
São também otimistas as perspectivas que enxergam para o país. Só 2 em cada 10
pessoas acham que as coisas vão piorar.
O otimismo tem bases reais. A economia cresceu acima do previsto pelos especialistas, a taxa de desemprego é a menor e o salário médio é o maior desde 2017, quando uma coisa e outra começaram a ser medidas pela Pnad-Contínua.
A sabedoria convencional diz que tal estado de espírito
beneficia os governos de turno, aos quais se costuma atribuir a paternidade dos
bons resultados econômicos. Não é o que acontece no Brasil.
Outra pesquisa de opinião, esta realizada pelo Ipec, também em dezembro último, mostra
que, ao contrário do que seria de esperar, a avaliação do governo Lula divide o
país de maneira relativamente estável em três grupos de igual tamanho: o dos
que o consideram "ótimo e bom"; o dos "apenas regular" e,
enfim, o dos "ruim e péssimo".
Da mesma forma, quando perguntados sobre o desempenho do presidente Lula, 47%
dos entrevistados o aprovam e 46% não o consideram bom. Por fim, a confiança no
presidente vem se mantendo estável há 12 meses, depois de haver caído em
relação ao primeiro mês do seu governo. Hoje, como em dezembro de 2023,
prevalecem os que desconfiam (52%) sobre aqueles que confiam (45%) no inquilino
do Palácio do Planalto.
É intensa a discussão sobre o descompasso entre, de um lado, os bons resultados
na economia e o sentimento de bem-estar da população, e, de outro, a avaliação
do Executivo. O qual, é imperativo destacar, deu início, já não sem tempo,
à reforma tributária; conteve o desmatamento; tem recuperado
capacidades estatais destruídas pelo governo anterior, além de reerguer a
normalidade democrática, que o país esteve a ponto de perder.
Novas pesquisas poderão explicar o que vai pela alma dos
brasileiros e que impede o governo de se beneficiar do otimismo da população.
De toda forma, reduzir a questão à falta de comunicação adequada dos feitos
governamentais parece ser grosseiro simplismo.
Ao governo federal —e a seu chefe— parecem faltar sintonia com o que preocupa a
população e respostas que se transformem em marcas de uma administração que se
quer progressista. Sem elas, não há comunicação que dê conta.
Afinal, segundo o mesmo Radar Febraban, saúde e —em menor grau— segurança e
educação, são, segundo os brasileiros, as áreas às quais o governo federal
deveria dar mais atenção. Definir políticas inovadoras que caibam no Orçamento
e façam palpável diferença para os cidadãos é um desafio e tanto. O que não se
pode ter é apenas mais do mesmo, como o lema "Governo da Reconstrução" parece
indicar.
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