Freio no acesso à verba deve levar o centrão a
diversificar suas ferramentas de poder
A voracidade
do Congresso na apropriação das emendas orçamentárias provocou um
desarranjo radical nas relações entre o Executivo e o Legislativo. Ao longo da
última década, parlamentares conseguiram a garantia de uma verba gorda para
seus redutos políticos sem depender da generosidade do presidente ou de seus
ministros.
Nesse processo, o controle de gabinetes na Esplanada dos
Ministérios passou a valer menos para os grupos partidários na extração de
benefícios do poder. A indicação de integrantes para o primeiro escalão ainda
oferece prestígio e acesso a dinheiro público, mas deixou de ser fator absoluto
nas negociações para a formação de coalizões políticas.
A lógica teve um ponto de virada com Jair
Bolsonaro, que fez propaganda em torno do princípio moral da limitação do
acesso de partidos à Esplanada, enquanto entregou os cargos a outros grupos de
interesse de sua coalizão, como militares, evangélicos e ruralistas. Para
conseguir sustentação política em votações, deu
ainda a chave do cofre do Orçamento para o centrão.
Lula enfrenta
um quadro um pouco diferente. O presidente fez uma partilha de cargos que não
se mostrou tão eficaz quanto em seus mandatos anteriores. Manteve postos
apetitosos nas mãos do PT e nomeou
alguns ministros de outros partidos que se mostraram pouco determinantes na
disciplina das bancadas em votações no Congresso, como
é o caso dos políticos do União Brasil.
A razão principal é que o centrão aprendeu a se alimentar de
emendas. A crise provocada
pela intervenção do STF na distribuição assanhada dessa verba
acrescenta um elemento de incerteza ao futuro das relações do governo com o
Congresso, com possíveis reflexos na reforma ministerial que Lula pretende
fazer nos primeiros meses deste novo ano.
Lula disse a auxiliares que faria
trocas pontuais na equipe e sinalizou que o PT pode ser forçado a
ceder espaço para outros partidos. O presidente, porém, pode ser obrigado a
fazer uma mudança maior caso o centrão enxergue neste momento uma oportunidade
para diversificar suas ferramentas de poder e exigir uma reconfiguração da
coalizão governista baseada em ministérios.
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