quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

ECONOMIA MUNDIAL EM 2025: APERTEM O CINTO

Assis Moreira, Valor Econômico

Impactos de medidas de Trump podem moldar significativamente o cenário econômico global

O ano começa com uma incerteza brutal na economia mundial com o retorno de Donald Trump à Casa Branca a partir do dia 20. A escolha geopolítica mais importante de Trump será mesmo como lidar com a China, concordam analistas. E ele parece não se impor limites para lançar mão de toda a capacidade da maior potência do mundo para enfraquecer seu grande rival. Isso terá evidente impacto no comércio, investimentos, acesso a tecnologias relevantes, entre outros. A pressão sobre parceiros vai crescer em função das relações com a China, incluindo sobre o Brasil.

O Instituto Internacional de Finanças (IFF), reunindo as maiores instituições financeiras do mundo, prevê desaceleração do crescimento global para 2,7%, após 2,9% em 2024 e 3,2% em 2023. Os países emergentes poderiam expandir 3,8% em 2025, abaixo dos 4% em 2024 e 4,3% em 2023. Essas projeções refletem as expectativas em relação às possíveis políticas do novo governo dos EUA, tanto comerciais como fiscais e de imigração mais amplas, e riscos geopolíticos mais elevados. Os impactos previstos podem moldar significativamente o cenário econômico global, se concretizados.

Para Marcello Estevão, economista-chefe do IIF, o crescimento mundial será ainda menor se Trump fizer o choque tarifário exatamente como ameaçado na campanha eleitoral. Aumento de alíquota de importação de 20% sobre todos os países e especificamente de 60% sobre a China “seria uma maluquice” e o instituto aposta em algo menor.

O crescimento projetado para a China é de 4,2% para este ano, ante 4,8% em 2024. Mas diferentes estimativas apontam que a alta tarifária nos EUA poderia tirar até quase um ponto percentual do crescimento chinês neste ano e afetar mais a demanda global.

Em recente viagem à China, Estevão conversou com autoridades e representantes de empresas. Saiu com o sentimento de que a retaliação não é a preferência dos chineses, mas que eles estão preparados para reagir à guinada protecionista de Trump.

O governo chinês sinaliza que vai aumentar o peso de medidas monetárias e fiscais em 2025, para pelo menos manter o crescimento acima de 4% ao ano. Ou seja, vai gastar mais para impulsionar a demanda interna, levando em conta que a demanda internacional por produtos chineses também sofrerá.

Há turbulências à vista, mas é preciso ver como será realmente a economia global depois de 20 de janeiro. Pode ser que os anúncios de Trump não venham a ser tão brutais quanto ele ameaça. Mas a imprevisibilidade incomoda, e ainda mais em Pequim, com o Partido Comunista habituado a trabalhar com um certo grau de estabilidade. O resultado de uma guerra e, depois, de uma negociação entre Washington e Pequim vai afetar todo mundo, no entanto algumas regiões poderão se beneficiar com desvio do comércio.

Para a Associação Americana de Produtores de Soja, uma nova guerra comercial de Trump inicialmente beneficiaria o Brasil e a Argentina com aumento de exportações e ganhos valiosos de participação no mercado global. As tarifas chinesas sobre a soja e o milho dos EUA - mas não do Brasil - incentivariam os agricultores brasileiros a expandir a área de produção ainda mais rapidamente. Prevê uma queda acentuada nos preços da soja e do milho, resultando em impacto em cascata nos EUA.

O cenário nesse caso para o Brasil não é - ainda - para perder o sono, mas também não é para dormir no ponto em relação ao seu principal parceiro comercial. O desempenho das exportações brasileiras para a China precisa, de fato, ser monitorado para três produtos (soja, minério de ferro e petróleo) que representaram 77% das vendas entre janeiro-novembro.

Soja é sobretudo para alimentação animal e não há perspectiva de redução da demanda chinesa. No caso do petróleo, o Brasil foi em 2024 seu sétimo fornecedor e não há ameaça nessas vendas no curtíssimo prazo, mas os chineses estão investindo maciçamente na transição energética. E minério de ferro é uma interrogação; o setor residencial está em crise, e na infraestrutura os chineses já fizeram muito mais do que resta por fazer.

Por outro lado, não se pode ignorar que o Brasil foi em 2024 o país para o qual a China mais aumentou suas exportações, com alta de 23%, com o Vietnã em segundo com 18%. O diferencial quase todo nas vendas para o Brasil é de automóveis chineses eletrificados (+352%) ou híbridos (+263%). Os chineses desovaram estoques no país, antecipando um eventual aumento da tarifa de importação de elétricos por Brasília. E certamente vão buscar vender bem mais, em geral, com os EUA e outros mais fechados.

Bom 2025 a todos.

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