Na avaliação do presidente do PSD, qualquer candidato de
centro que chegar ao segundo turno tem chances de derrotar Lula. Eduardo
Bolsonaro (PL-SP) é o único que perderia
Nem só a oposição bolsonarista sentiu o cheiro de animal
ferido na floresta, os aliados de conveniência também. E se aproveitam da queda
de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a começar por Gilberto
Kassab, presidente do PSD, que até agora manteve um pé em cada canoa, mas nesta
quarta-feira subiu o tom contra o governo, para aplausos da oposição. Em evento
com empresários e executivos do banco de investimento UBS BB, em São Paulo,
disse que Fernando Haddad é fraco na condução do Ministério da Fazenda: “Um
ministro da economia fraco é sempre um péssimo indicativo”.
Kassab aqueceu a fritura que o ministro da
Fazenda já vem sofrendo por parte da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR),
cotada para ser ministra, e do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, cada
vez mais poderoso: “Eu acredito no sucesso da economia quando você tem
ministros de economia fortes. No próprio governo do FHC, no qual eu fui
deputado federal, você ia levar algumas sugestões para o presidente e ele mesmo
falava ‘isso não é comigo, é com o Malan’. No governo Lula, o Palocci
comandava. No governo Temer, Meirelles comandava. Todos os bons momentos do
Bolsonaro foram relacionados ao Paulo Guedes. E a presidente Dilma não foi bem
porque ela queria comandar a economia”.
O presidente do PSD critica Haddad num momento de fraqueza
do ministro, por causa do desgaste sofrido por Lula em razão de uma instrução
normativa sobre fiscalização do Pix emitida pela Receita Federal, que passou
para a opinião pública a falsa ideia de que seria cobrada uma taxa nas
operações dessa modalidade. Quando atira em Haddad, porém, Kassab acerta no
presidente Lula, cuja reeleição põe em dúvida: “O PT não estaria na condição de
favorito, mas na condição de derrotado. Não vejo uma articulação para reverter
essa tendência de piora no cenário. Não vejo nenhuma marca boa, como teve FHC e
o Lula nos primeiros mandatos”, disse.
Na avaliação de Kassab, o governo federal tem errado na
condução da política econômica e não tenta corrigir sua rota. Se a eleição
presidencial fosse hoje, Lula perderia. Entretanto, ainda seria um candidato
forte: “Ele tem muita experiência, pode fazer uma reviravolta no seu governo. O
que precisa fazer para ganhar, ele faz”, ponderou. Kassab sabe que o Lula ainda
tem muitas cartas na manga, uma delas foi anunciada nesta quarta-feira: a
aprovação de empréstimos consignados para trabalhadores com carteira assinada,
como lastro no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), proposta que torna
esse crédito acessível a 40 milhões de trabalhadores.
Entretanto, o consignado aponta na direção da expansão do
crédito para consumo, com objetivo de manter a economia aquecida, com juros
mais baixos, à custa do maior endividamento da população, ou seja, mais uma
fuga para a frente na questão fiscal. Lula não se convenceu de que o governo
precisa de contenção de gastos para reduzir a dívida pública e controlar
inflação, sem o Banco Central ter que aumentar ainda mais a taxa de juros. Com
isso, gera desconfiança no mercado e faz a balança do equilíbrio fiscal pender
para o aumento da arrecadação, num momento em que o Congresso se recusa a
aumentar impostos, com apoio dos consumidores.
Reforma ministerial
O PSD conta com três ministros no governo Lula: Carlos
Fávaro (Agricultura), André de Paula (Pesca) e Alexandre Silveira (Minas e
Energia). Nos bastidores do Palácio do Planalto, havia quem defendesse que
Kassab viesse a fazer parte de governo como ministro da Agricultura, na reforma
ministerial que está sendo gestada no Palácio do Planalto. No entanto, subiu no
telhado a tese de que Lula deveria formar um ministério com os caciques das
legendas que participam do governo, com objetivo de aprovar as matérias de seu
interesse no Congresso e formar a coalizão eleitoral que articula para
concorrer à reeleição. Perdeu expectativa de poder.
Com as declarações desta quarta-feira, Kassab descartou
qualquer possibilidade de deixar o governo de Tarcísio de Freitas (PR) para ser
ministro de Lula. Prefere manter distância regulamentar do projeto de reeleição
e trabalha para que o PSD seja uma alternativa de poder, seja em aliança com
Tarcísio de Freitas, cada vez mais pressionado a concorrer à Presidência, seja
com um candidato próprio. As conversas para uma fusão com o PSDB caminham nessa
direção.
“É uma conversa difícil, porque o PSDB tem muita história,
mas é uma conversa que está acontecendo, pode ser bem-sucedida e pode resultar
num partido maior, mais fortalecido, com grande perspectiva de ocupar um espaço
mais importante ainda no cenário da política brasileira”, explica. Kassab não
descarta a possibilidade de lançar o atual governador do Paraná, Ratinho
Junior, como candidato do PSD, ou mesmo Eduardo Leite, o governador tucano do
Rio Grande do Sul, caso a fusão se concretize.
Na avaliação de Kassab, qualquer candidato de centro que
chegar ao segundo turno tem chances de derrotar Lula. O único que perderia a
disputa seria Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro, ou outro nome
ligado à família, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ou a ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro. Por ironia, a fragmentação da oposição, com as candidaturas
de Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Ratinho Jr., favorece
Bolsonaro, que poderia levar seu candidato ao segundo turno, se carrear de 18%
a 20% dos votos para quem apoiar.
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