Lula descobre que nem mesmo dando ministérios importantes
a partidos supostamente aliados garantirá apoio
Uma tempestade perfeita sobrevoa o Palácio do Planalto,
prenunciando anos difíceis para o governo Lula, que aparentemente errou o
timing e entra no terceiro ano de seu terceiro mandato fustigado pela inflação
crescente e pelo desequilíbrio nas contas públicas, ameaçando uma crise
econômica semelhante à vivida por Dilma Rousseff.
Lula reassumiu a Presidência como se fosse a sequência de
seus dois mandatos anteriores e se esqueceu de organizar as contas públicas
antes de partir para o desenvolvimentismo. Obteve crescimento de cerca de 7%
nos dois primeiros anos à custa de aumento da taxação e do descontrole das
contas. Tudo indica, porém, que o ritmo não será mantido, e a reação política
já sugere que Lula chegou ao limite antes do que se pensava.
Não é à toa que uma das petistas mais ativas, a governadora
do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, avisou em entrevista ao GLOBO que o
apoio do Nordeste a Lula não está garantido. As pesquisas de opinião mais
recentes mostram que a popularidade dele já está mais negativa que positiva, e,
embora continue liderando as preferências no Nordeste, única região em que
ganhou de Bolsonaro na eleição de 2022, esse apoio vem diminuindo. Mesmo no
Nordeste, Lula já não reina como anteriormente, e sua popularidade, embora
forte, está decadente.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab — que
tem ministérios no governo Lula e secretarias no governo estadual de Tarcísio
de Freitas em São Paulo —, saiu da postura cautelosa que sempre mantém para
fazer uma série de críticas ao presidente numa palestra a banqueiros. Disse
que, se a eleição fosse hoje, Lula perderia. Considerou que o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, está fraco politicamente e não tem respaldo para
enfrentar as dificuldades que se apresentam ao governo nos dois últimos anos.
Em meio à reforma ministerial que precisa fazer para
revigorar seu governo, mal avaliado pela maioria, Lula descobre que nem mesmo
dando ministérios importantes a partidos supostamente aliados garantirá apoio
político em momentos que exijam definição de posições. Assim mesmo, deverá
oferecer a Arthur Lira um ministério de peso, porque não tem como enfrentar o
Centrão.
Até o momento, a indicação da atual presidente do PT, Gleisi
Hoffmann, para a Secretaria-Geral da Presidência é o movimento mais efetivo
para fortalecer o partido, pois certamente ela tem mais capacidade de
mobilização das lideranças sindicais e movimentos sociais que o atual ocupante
do cargo. Isso não indica, porém, que o governo ampliará sua base de apoio; ao
contrário, tenderá a ficar mais petista do que já é, o que fará com que os
partidos que não são do campo da esquerda sintam-se mais alijados do centro do
poder.
O Congresso, com as regalias que já garantiu para si, não
precisa mais do Executivo como noutros tempos, em que partidos periféricos não
tinham força para exigir do governo nada além de prebendas. Hoje, é o governo
que precisa de votos em questões de seu interesse e precisa engolir vetos
derrubados para manter a governabilidade.
Todo o governo Lula é centralizado nele, mas o presidente
não tem mais a disposição anterior. Muitos dos desencontros que têm acontecido
se devem a Lula aparentemente ter perdido o gosto pela política cotidiana, não
despender mais as noites em conversas com aliados e ter uma seleção pequena de
assessores e ministros com acesso liberado a seu gabinete, menor ainda a sua
residência privada depois do expediente.
O presidente começa a ser tratado, talvez precocemente, como
“pato manco”, político que não tem expectativa de poder. O cafezinho de Lula já
está chegando frio?
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