Tudo indica que o futuro, tanto da esquerda como da
direita, se faz longe dos líderes analógicos
O presidente Lula advertiu que talvez não possa disputar a
reeleição em 2026 por estratégia política, para se fortalecer ainda mais no PT
ou então teme mesmo que a saúde o impeça de governar, como aconteceu com Joe
Biden nos Estados Unidos — situação que, aliás, foi citada por ele na conversa
que teve com seus principais assessores e ministros?
Em qualquer das hipóteses, a dúvida mostra que os petistas
não têm saída a não ser tentar convencê-lo a disputar, mesmo que a derrota se
mostre mais provável no momento de encarar as urnas. A pesquisa Quaest
divulgada ontem confirma a desconfiança de que o governo Lula não corresponda
às expectativas — e já exibe maioria de avaliações negativas.
Paralelamente, a direita brasileira, incentivada pelo novo
governo Trump nos Estados Unidos, vê com mais esperança a possibilidade de
vitória, mesmo que Bolsonaro, tornado inelegível por decisão do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), não dispute a eleição.
Ao contrário dos petistas, que não têm
substituto para Lula, a direita tem alternativas e, no momento, a falta de
Bolsonaro parece melhorar até suas chances, desde que o escolhido não seja
apontado como oposto a ele e possa contar com sua aprovação quando ficar
definido que não existe a possibilidade de ele ser anistiado. Não há no PT a
possibilidade de existir outra candidatura que não seja a de Lula ou a do
escolhido por ele. O único que pode ser flexível, maleável, próximo ao centro e
até à direita é Lula. Qualquer outro será considerado extraviado.
A direita pode ter candidatos centristas ou extremistas e
terá eleitores para todos os gostos, o que pode abrir uma divisão que favoreça
a esquerda. A disputa entre Pablo Marçal e Bolsonaro na recente eleição para
prefeito de São Paulo mostrou bem o que pode acontecer em nível nacional.
Bolsonaro tem dado sinais de que quer alguém de sua família para substituí-lo,
se for o caso. Mas, à medida que a investigação da tentativa de golpe avança,
vemos que todos os seus próximos estavam envolvidos e podem ser indiciados.
Os governadores de direita tendem a apoiar o de São Paulo,
Tarcísio de Freitas, caso ele seja o ungido por Bolsonaro. Provavelmente teria
muitos votos dos que votaram em Lula contra Bolsonaro, mas estão desiludidos.
Se não, vários se lançarão, como já anunciou o governador de Goiás, Ronaldo
Caiado. Bolsonaro ainda não perdeu o controle da situação política, mas, se
insistir em indicar alguém de sua família, poderá se desmoralizar e destruir a
possibilidade de a direita voltar ao poder.
Hoje, o maior adversário dos Bolsonaros é o deputado mineiro
Nikolas Ferreira, que desponta como liderança renovada da direita, usando com
maestria os meios digitais, como ocorreu no caso dos boatos sobre taxação do
Pix, em que levou o governo ao corner com mais de 300 milhões de visualizações
de um post crítico. O vereador carioca Carlos Bolsonaro, que representa a
geração digital do bolsonarismo, perdeu a máquina que montara no Planalto e
ficara conhecida por “gabinete do ódio”. Hoje disputa com Marçal e Nikolas a
liderança da guerra digital.
Ou melhor, é uma “guerra geracional” no seio da direita
brasileira, coisa que não acontece com o PT, que vem sendo atropelado nas
campanhas digitais, pois só tem militantes analógicos. A maior prova é que
tiveram de ir ao Recife para buscar apoio do prefeito do PSB, João Campos,
filho de Eduardo Campos e neto de Miguel Arraes. Ele assumiu a liderança
política da esquerda dando a ela um aggiornamento necessário, descolorindo os
cabelos no carnaval e usando as plataformas digitais para ampliar seu eleitorado
ao divulgar obras. Tudo indica que o futuro, tanto da esquerda como da direita,
se faz longe dos líderes analógicos.
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