quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

LULA EXPLICITA CAMPANHA SEM GORDURA PARA QUEIMAR

Editorial Folha de S. Paulo

Planalto mobiliza ministros por 2026, mas iniciar gestão com alta nos gastos limita Orçamento para surpreender eleitores

Para o bem ou para o mal, políticos governam mirando as próximas eleições —e beira a ingenuidade imaginar que possa ser diferente. Nos casos virtuosos, promove-se o interesse público com os meios à disposição; nos piores, busca-se popularidade imediata com medidas enganosas ou insustentáveis.

Não se pode acusar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de dissimulação quanto ao tema. Ele já pontificou, anos atrás, que um homem público faz campanha "da hora em que acorda à hora em que dorme, 365 dias por ano". Agora, empossou seu marqueteiro no primeiro escalão do governo e mobilizou publicamente seus ministros com a declaração de que "2026 já começou".

Não se sabe ao certo o que resultará desse alvoroço de meio de mandato, mas os auxiliares do cacique petista já se empenham em mostrar serviço. Rui Costa, da Casa Civil, disse nesta quarta (22) que o governo deve adotar um "conjunto de intervenções" para baratear os alimentos. Tudo ainda a ser estudado, porém.

Também se noticiou que Sidônio Palmeira, o novo titular da pasta da Comunicação, percorrerá os ministérios em busca de marcas capazes de impulsionar a propaganda oficial.

Fato é que Lula terá dificuldades consideráveis em surpreender eleitores doravante por não ter seguido a receita clássica do presidencialismo nacional —arrumar as contas e tomar as providências impopulares necessárias no início do governo, de modo a contar com bons resultados e folga orçamentária mais perto da disputa pela sucessão.

Foi o que ele próprio fez, com louvor, em seu primeiro mandato. No segundo, embora também bem-sucedido, incorreu em imprudências para eleger Dilma Rousseff (PT), que arruinou o Orçamento e a economia.

Nesta terceira passagem pelo Planalto, Lula escolheu começar pelo aumento amplo e geral dos gastos, o que contribuiu para mais um biênio de crescimento econômico acima das expectativas. Com isso, porém, não conseguiu mais que índices modestos de popularidade. Em dezembro, segundo o Datafolha, era aprovado por 35% dos brasileiros e reprovado por 34%.

Pior, a escalada da dívida pública impulsionou a alta do dólar e da inflação —que não será contida por intervenções mirabolantes aventadas pelo titular da Casa Civil, mas por juros escorchantes do Banco Central que limitarão o avanço do PIB.

O assanhamento eleitoral explicitado em Brasília faz parecer menos provável um ajuste orçamentário capaz de restabelecer a credibilidade das contas do governo. De todo modo, estreitaram-se também as condições para mais medidas eleitoreiras perdulárias, que nas atuais circunstâncias gerariam impactos imediatos no dólar e na inflação.

Se o ministro marqueteiro não conseguir encontrar grandes marcas publicitárias no que foi feito até agora a custos elevadíssimos, será difícil viabilizar novas.

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