Lula inicia segunda metade do mandato no modo reeleição e
tenta repactuar aliança com centro-direita
Presidente quer que principais ministérios acelerem o passo
e construam programas que sirvam como vitrines para campanha de 2026, mesmo se
não for ele o candidato
No horizonte, estão reforma ministerial, tentativa de
ampliar bancada no Senado e negociação com MDB, PSD e PP.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou a segunda
metade do seu mandato, neste ano novo, no modo reeleição. Embora nem a cúpula
do PT saiba se Lula vai mesmo disputar mais uma vez o Palácio do Planalto, em
2026, toda a organização do governo, a partir de agora, tem como meta esse
cenário político.
Há um diagnóstico no Planalto de que os principais
ministérios da área social, como Saúde e Educação, precisam acelerar o passo
para construir vitrines. O slogan do terceiro mandato do PT é União e
Reconstrução, mas o País continua dividido, e o julgamento da trama golpista
neste ano promete acirrar ainda mais os ânimos dos aliados do ex-presidente
Jair Bolsonaro.
INCERTEZA. Lula aguarda a escolha
dos novos presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro, para fazer a reforma
ministerial. Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP),
respectivamente, já são considerados eleitos, mas há incertezas sobre como será
a relação com o Congresso.
Nos dias que antecederam a virada do ano foram muitas as
cabeçadas entre o governo e o Congresso por causa do bloqueio de emendas
parlamentares ao Orçamento determinado pelo ministro do Supremo Tribunal
Federal Flávio Dino. Mas não foi só: ao sancionar a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) de 2025, Lula também restringiu a liberação de emendas,
mesmo as impositivas, para cumprir os limites de gastos do arcabouço fiscal.
Além disso, barrou um novo cálculo para o aumento do Fundo Partidário.
Nos bastidores, interlocutores do presidente já esperam a
retaliação em votações assim que terminarem as férias parlamentares, sem contar
uma cobrança maior de fatura, em troca da renovação do apoio. Com um detalhe
importante: nem o Orçamento de 2025 foi votado ainda. É sob esse sistema de
“toma lá, dá cá” cada vez mais forte que Lula tentará fazer uma repactuação com
partidos aliados de centro e de direita que hoje não estão comprometidos com o
projeto da reeleição, embora comandem ministérios com orçamentos robustos.
Nesta lista figuram o MDB, o PSD e o PP.
Um dos interlocutores de Lula disse, sob reserva, que a
amarração feita pelo presidente com os partidos, em 2023, era para a
sustentação do governo. Agora, porém, essa solda precisa levar em conta as
disputas de 2026. O PT fará tudo para ampliar a bancada no Senado, hoje com
nove representantes, e deter o avanço do bolsonarismo.
Secretário de Governo de Tarcísio de Freitas, o presidente
do PSD, Gilberto Kassab, classificou como remota a possibilidade de seu partido
estar com Lula e muito menos com outro candidato petista, em 2026. O PSD
comanda três ministérios – Minas e Energia, Agricultura e Pesca – e pode ganhar
mais espaço na reforma da equipe de Lula.
Dividido, o MDB tem uma ala que quer continuar na aliança
com o PT em 2026, desde que o candidato a vice na chapa seja emedebista, e não
mais Geraldo Alckmin (PSB). Hoje, o nome mais citado pelo MDB, que também
controla três ministérios – Transportes, Cidades e Planejamento – é o do
governador do Pará, Helder Barbalho. Um outro grupo do partido, no entanto,
quer candidatura própria.
OPÇÕES. O PP tem o Ministério do Esporte e a Caixa e
pode aumentar sua cota no governo, embora, até agora, nada indique que ficará
com Lula ou quem ele escolher como sucessor. Partidos como Republicanos e União
Brasil também estão oficialmente no barco de Lula e discutem chapas próprias
para 2026. Apesar das negativas, Tarcísio tem chance de ser candidato pelo
Republicanos, com aval de Bolsonaro. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado
(União Brasil), tenta, por sua vez, se consolidar para disputar a cadeira de
Lula.
É nessa balbúrdia política que surge o fator decisivo: a
economia. A ascensão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como possível
sucessor de Lula está atrelada ao sucesso nessa seara. A alta de juros
sinalizada pelo Banco Central, no entanto, já indica o encolhimento econômico.
O dólar acima de R$ 6 e os juros serviram como biombo para esconder conquistas
do governo, como o indicador da extrema pobreza abaixo de 5%, pela primeira vez
na história, e a queda do desemprego. O crescimento de 2024, em torno de 3,5%,
não deve se repetir em 2025, já batizado por analistas como “o ano da
desaceleração”.
De qualquer forma, Lula está convencido de que precisa
atrair a classe média e a faixa de eleitores que recebe acima de dois salários
mínimos, os “remediados”, além dos evangélicos. Como fazer isso é outra
história que nem o governo sabe.
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